É, eu fui para as ruas de Salvador ver os trios elétricos. Eu não tenho nenhuma aversão ao Axé, mas há algum tempo não se faz mais Axé de qualidade. Acreditem, paulistas, o Axé de qualidade existe. Nem sempre foi essa pobreza que reina no mercado fonográfico baiano. Por duas noites saí para a folia. Eu me divirto mais quando não tem nenhum trio passando e se está na espera do próximo. Nesses intervalos dá pra conversar normalmente e interagir com membros do sexo oposto com mais tranquilidade. Quando o trio chega, tudo se balança e se perde. Gosto também de andar de um ponto do circuito ao outro pelas ruas paralelas, onde estão barracas de drinques e muita gente interessante. Passei uns 40 minutos conversando com um catador de latas que se intitulava O Músico; tocava flauta ligeiramente bem, falava um pouco de inglês e francês, conhecia sambas antigos, bob marley, e bebia bastante. É o povo baiano.
No sábado fui para o Pelourinho, um centro histórico de Salvador. Lá eu pude ver um carnaval culturalmente muito mais rico. Blocos afro, tambores que tocam no fundo da alma e os negros mostrando seu teatro e dança com alegria. Turistas da alemanha trançando os cabelos em banquinhos de madeira, cordões de samba e proclamadores de cordéis. Ali estava um carnaval genuíno, tradicional e ainda muito vivo. Também é o povo baiano.
Depois me peguei cantando, sem perceber, "Na cadência do Samba". Encarei deliberadamente o refrão como uma premonição e fiquei longe das ruas. Fugi para Jauá: Sol, praia e tranquilidade. Nas cidades do interior, a programação noturna sempre é ir na sorveteria local, que todos dizem ser excelente (mas é normal), depois voltar pra casa e jogar dominó. Eu adoro dominó e paz. Ainda mais ouvindo músicas de qualidade com amigos significativos.
Já coloquei o despertador para às 6. É, porque o carnaval já acabou e amanhã eu tenho aula. Não quero ir, mas não quero ir nenhum dia. Só sei que devo e vou, quando chegar lá eu penso em algum jeito de fugir. Mas sinto que já será tarde. Já é tarde: eu já nasci. Não dão muita escolha às crianças, mas admito que a minha escolha teria sido essa mesma. Talvez eu tenha escolhido bem antes. Só me resta seguir o rumo normal dos dias. A segunda depois do domingo, a quinta depois da quarta-feira de cinzas.
quarta-feira, fevereiro 25, 2004
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