quarta-feira, outubro 26, 2005

Outro dia deitei na rede e vi a lua cheia na mesma posição. Não sei de datas, dessas marcações mundanas do tempo, mas eu soube que fazia um ciclo de lua desde aquele momento tão feliz. Andava hoje pelo dia de sol, céu azul puro e virei para cima as palmas das mãos. O calor se concentra nas palmas das minhas mãos e eu tenho energias para tudo. Hoje existe o silêncio.

Um silêncio denso, no ar, apesar dos barulhos dos carros correndo, dos livros caindo das mãos descuidadas, da risada da criança, do rádio tocando música ruim, dos passos rápidos, dos carros freando. Silêncio difícil de quebrar, que se extende e se extenua à medida em que se extende. Cada minuto sem a uma voz e o ar pesa mais. Existe a vontade do grito, o direito ao grito, mas o temor ao silêncio.

Existe a saudade do silêncio harmonioso que havia quando os olhos se olhavam, um pouco encabulados um do outro, um pouco sem saber, mas com a confiança suficiente para eliminar a necessidade de palavras. Outro dia, fez um ciclo de lua. Hoje tenho o calor do sol se concentrando em minhas mãos, pois preciso de energias para prosseguir no caminho de viver.

Eu grito para dentro. Este silêncio que há agora carece de palavras.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Três. O número três me assombra. Não conheço numerologias, mas se fosse minha responsabilidade escolher, diria sem hesitar: é o três o número da traição, do conchavo, das mais vis conspirações. Atribuiria também ao três a solidão, a miséria de um só - mas que o três ratifica. Pois que entre dois pontos se desenha uma linha reta, mas três se comunicam num triângulo, de modo que não há um trio de pontos unidos, mas sim três pares de pontos ligados por três linhas. E sabe-se que uma linha é só ela, absoluta e imponente. Três linhas têm, duas a duas, suas diferenças, suas comparações, suas distâncias.

Extende-se então este raciocínio, que até agora foi meramente geométrico, às relações humanas, sejam elas de amizade, amor ou até ódio. Suponhamos três amigos. Fica claro que não surge entre eles uma amizade trina, localizada no baricentro do triângulo. Óbvio que não. Cada um se relaciona separadamente com os outros dois, por mais que se considerem um grupo unido. Haverá conversas particulares em que a postura do terceiro em uma dada situação será criticada, em que as desavenças serão expostas.

Quando encontrarem-se novamente os três, existirá cumplicidade entre dois em detrimento de um terceiro. Três desmembram-se em dois cúmplices e uma solitária vítima do escárnio, da crítica, da exclusão e até da mentira. Sendo assim, cada um dos três aspira à posição de cúmplice quando é vítima, estando em cada momento dois alegres e um não.

Pensando bem, a palavra ?cúmplice? presume a existência de um crime.

quinta-feira, outubro 06, 2005

É. Como quando estamos tristes e ficamos olhando, um pouco sem olhar, para nossas mãos enquanto brincamos com algum objeto, tentando girar a caneta em torno de sua ponta, ou equilibrar um molho de chaves numa posição bizarra qualquer. E se a chave desequilibra e cai, a gente chora, porque o pensamento estava longe, tão longe...

terça-feira, outubro 04, 2005

Vem, vai e volta. Vai e volta. Já há sorrisos sinceros no meu rosto, apesar de ainda haver também lágrimas. Foi muito brusco, muito de repente - apesar de não ter sido inseperado. Eu estava em estado de choque, tendo que assimilar assim, de uma vez, tanta informação. Parecia, então, tudo caótico, nada confiável, o chão se abriu e eu caí. Não tenho asas, sou humano.

Aos 17 anos eu acreditava ser imortal. Deixei de sê-lo simplesmente porque deixei de acreditar. Chovia em mim.

Já consigo me lembrar com alegria do que aconteceu. Penso que valeu a pena. Que fiz muito bem em olhar para cima pra ver quem vinha, pouco mais de 2 anos atrás. Já durmo bem às noites. Já tenho um pouco de minha tranquilidade, serenidade, de volta. São coisas que acontecem com quem está vivo.

Quero paz entre nós.

domingo, outubro 02, 2005

Estas lágrimas são só minhas. Ninguém pode secar com um lenço, que virão mais. Ninguém pode me consolar nem dizer nada que vá mudar alguma coisa. Ninguém pode me entender. Quem chora sempre está sozinho. Acordado à noite inteira, chorando mais às 7 da manhã, às 2 da tarde, muito. "A tristeza é uma alegria falhada." (Clarice Lispector). O quanto eu choro mostra o tamanho da alegria que falhou.

Sorte e azar. Ou será uma questão de competência? Me sinto mesmo, agora, um incompentente. Não consigo parar de pensar que tem um outro lá, no meu lugar - que aliás não é mais meu - e que este outro foi, de algum jeito, mais interessante que eu. E o que eu vou fazer? Me adaptar? Me transformar numa dessas pessoas de que o mundo gosta? Numa dessas pessoas que a felicidade agracia?

Dói demais. Sinto saudades das alegrias que tive. Saudades dela, de tudo nela. De como ela é uma pessoa incrível e apaixonante, de como me dava vontade de pegar e beijar todas as partes de seu corpo. "Seus pelos, seu gosto, seu rosto, tudo o que não me deixa em paz." (Herbert Vianna) Como é que eu vou desistir? Como é que eu vou deixar de amar alguém assim?

Me diz.