domingo, maio 30, 2004

Sentado na cama, como de costume. Eu começava a tocar Lucky. E voltava no tempo. Senti o cheiro do meu suor doente, me lembrei da impotência que sentia pela garganta estar avariada. Eu não conseguia cantar e me sentia triste. Senti o tempo lento de quem passa o dia inteiro em casa, abafado, de janelas fechadas. A sensação interessante de estar conhecendo alguém que, hoje eu sei, mudou minha vida e cuja vida eu mudei também passou pelo meu estômago. Desde então, foram 4 mêses curiosos. I feel my luck will change.

Minha vida tomou um rumo atípico quando, na apoteose de minha adolescência, minha mãe ganhou uma bolsa de estudos e foi fazer pós-doutorado em Artes em Paris. Eu estava então com 17 anos e uma autonomia incrível sobre as minhas noites. Eu posso sair sem dizer para onde nem quando volto. Posso não voltar, passar 3 dias fora, chegar sem dizer bom dia e dormir por 14 horas. Posso ficar sem comer, beber fermentados e destilados, cair no sofá... no chão. Não ir para a escola na segunda-feira.

Mas eu fui irresponsável apenas na medida certa. Cuidei bem dos estudos, das despesas da casa, da saúde, da sanidade e segurança. Minha mãe não tem do que reclamar. Ela chega amanhã.

terça-feira, maio 25, 2004

A Hand

O post de hoje está abaixo, mas antes...
Aí vai um recado:

Designer procura emprego

Procuro emprego de designer, diretor de arte, encarregado de arte, em gráfica, com web, cinema, tv.
Tenho 15 anos de experiência comprovada. Já trabalhei com revistas, agência de publicidade, cinema, tv.
Trabalho com web desde 1996, e já coordenei projetos grandes como portais e sites de leilões.
Tenho larga experiência em atender grandes clientes, dar atendimento comercial e suporte téncico.
Meu curriculum online: curriculum vitae
Por favor mandar email para Daniela Castilho.
Fluxo

Nada mais faz sentido depois desse porre paranóico. Vêm os homens atrás de você e seu corpo corre. Toda a força, mas eles são rápidos. Choveu mais cedo e o chão está escorregadio agora à noite. Seu passo afobado não resiste, a sola dos seus sapatos não segura, não te empurra do chão. É escuro, você não vê muito. Queda feia, mas não há tempo para o sangue cair e a dor se alastrar. Eles chegaram.

A neurose destilada começa a se desconcentrar, mas os olhos ainda não podem abrir. É até melhor assim. Só há desgraça e desordem na rua, do lado de fora. As pessoas sobem na condução com suas expressões, profissões, sacolas e problemas. Ninguém se olha, se ouve, se entende. Descem da condução e nunca mais voltam, nunca mais se vêem. E que vai obrigar? Ensinam isso na igreja. Onde está...

Um soco no estômago. Acorde. Está na hora. A cidade já amanhece e você deve ir. Resista às suas dores e aja como homem. Esqueça que um dia você viu nossos rostos e esteve aqui. Siga com sua vida e boa sorte.

segunda-feira, maio 17, 2004

Eu sei muito bem o que é e sei o nome. Quando os olhos se mexem pelo cômodo sabendo que ele está vazio, mas com esperânças sinceras de vê-la. Quando tenho certeza de que ela não vai aparecer na minha frente, mas fecho os olhos e conto até 10 e mais um pouco pra ver se ouço a voz. Quando o ritmo acelera com força e pegada. Bumbo, condução, tambor, virada e pratos. É a marcação da minha música que ela faz direitinho.

Mas o curso dos meus atos eu não sei qual é. Eu posso não fazer o menor sentido. Os olhos se mexem pelo cômodo circular e procura um canto para eu encostar a cabeça e me esconder. Só existe o canto da minha voz que ecoará pelo vento. Tomara que chegue lá. Preciso achar os ventos certos. Preciso soprar eu mesmo, estou inspirando todo o ar que posso. Temo que demore demais.

Eu sei muito bem o que é e sei o nome. Não posso, não devo, não quero deixar passar como se fosse uma exclamação qualquer.

terça-feira, maio 11, 2004

É um incêndio na escola. Funcionários correm assustados, professores mantêm a compostura e a maior parte dos alunos não esconde a animação e o interesse pelas causas do acontecimento. Estão sendo queimados cardernos, livros, cronogramas e avisos aos senhores pais. Cinzas. É o destino de tudo que vemos e compramos com os olhos da cara. As paredes, as grades, os muros...

... As portas. Nunca foram tantas. Nunca desaprendi e me desprendi de tantas tolices em tão pouco tempo. Nunca me senti tão livre e resolvido com meus conselhos, opções e escolhas. A dúvida continua aqui, mas para me mostrar que nenhuma certeza é absoluta, nenhum caminho é sem volta e nenhum poço é sem fundo. Já tive as águas do mundo sobre minha cabeça e consegui atravessá-la. Estou no alto da montanha.

Vejo daqui, sentado numa calçada de mármore, todo o fogo. Tudo aquilo vai cair deixando espaço para uma floresta crescer das flores mais delicadas às árvores mais imponentes da natureza. Verde. O único sinal à minha frente. Meu vôo livre está começando.

terça-feira, maio 04, 2004

Estávamos lá, nós dois. Eu me esforçava para ouví-la e responder com frases inteligentes e bem humoradas para ela rir. Eu gosto quando ela ri. Algumas vezes conseguia, mas na maior parte do tempo eu só conseguia me concentrar em seus olhos, na sua boca e pensava em beijá-la o tempo todo. Não teria sido conveniente. Acredito que não tão rápido.

Minha vida explodiu no céu. É um salto às aturas, finalmente e como eu havia anunciado. As coisas progrediram de uma maneira impressionante e muito está dando ceto. Eu sei onde procurar as coisas de que, agora, preciso. Meus perteences não caem mais no chão para que eu me agaixe e pegue. Muitas sensações alegres me percorrem.

Com os olhos salgados de quem esteve no fundo mar e enxergou onde a luz nunca bateu, eu vejo novidades. A noite, a lua para onde eu irei e outros belos olhos com quem dividir o calor e a paisagem. Espero que sim.