domingo, março 28, 2004

Estava frio demais, escuro demais, os crustáceos negros e cegos me mordiam a pele eu sangrava até o sal cauterizar as feridas completamente. Ardia como se o meu corpo estivesse todo aberto. E a alma estava toda aberta e sangrando. Ninguém ao meu redor. Ninguém. Eu ia implodir, não era mais possível.

Foi então que ela veio me salvar, veio linda e pura como eu queria. Com a harmonia daqueles que podem chegar nas profundezas do oceano e ainda se fazer propagar. Trazer a luz, a cura, a corda. Veio com todos os sentimentos nobres fazer carinhos nos meus ouvidos, antes que os tímpanos estourassem. Toda a minha explosão foi por ela e por ela eu subi para respirar e cantar a plenos pulmões.

Sim, amigos, foi a música que me resgatou.

"Eu corri pro violão num lamento e a manhã nasceu azul. Como é bom poder tocar um instrumento" (Caetano)

terça-feira, março 23, 2004

Espinhos, pedras, escorpiões... Não quero abrir os olhos, não adiantaria: é muito escuro. Não vejo nada, não sei o que me atinge. Vem de todos os lados, não sei como me defender. A pressão é enorme, parece que minha cabeça vai impodir. Não consigo nem mexer direito os braços, ir para frente ou para trás, para cima ou para baixo. Me lembro de músicas tristes, tento cantar mas nem a voz consegue sair.

Sim, amigos, é o fundo do oceano.

sexta-feira, março 19, 2004

Tenho tido sonhos com elementos parecidos: estações de trem, os trens mesmo, ônibus, avião... Envolvem alguns amigos que estou levando ou deixando para trás. Ocorrem também acidentes que eu posso ter causado no percurso, mas depois sempre descubro que não tive a menor culpa.

Não me lembro dos detalhes no último sonho, o despertador eliminou algumas lembranças com seu método prático e agressivo. Eu estou num avião, há algumas pessoas conhecidas, mas não me lembro quais. O avião tem dificuldades para pousar, está no rumo errado e entrando em contato com a torre para se orientar. Parecia uma situação difícil, mas mesmo assim eu me mantive confiante. O avião teve que fazer decisões e manobras várias vezes. Acabou pousando com segurança, mas numa pista normal, de trânsito. Imagino se atropelei alguém, mas aparece um replay que mostra as pessoas saindo dos carros. Não matei ninguém.

Acho que isso reflete as minhas dúvidas. Estou num vôo conturbado e posso pousar em várias pistas. Não sei direito do caminho para o pouso mais seguro, mas mesmo assim estou tranquilo e seguro. Depois da decisão tomada, tenho medo de ter errado. Posso me sentir culpado no futuro por ter estragado a minha própria vida. Desperdiçar minhas habilidades ou escolher um rumo infeliz.

Existem vários fatores e pessoas que podem envolver essa decisão. Amigos e mulheres (que também podem ser amigas) que eu amo e de quem vou me separar ou aproximar a depender do que faça. Mas meu raciocínio frio e lógico diz que isso não deve ser levado em conta, seria uma grande besteira definir minha vida por causa de uma pessoa. Ou não. Então não sei.

sexta-feira, março 12, 2004

Estou andando muito devagar. Eu sinto falta de duas meninas que faziam parte do meu dia-a-dia e agora sumiram. Fazem uma diferença significativa na quantidade de sorrisos verdadeiros diários porque eu adoro meninas lindas que sabem viver e que vivem livres. Não admiro a beleza delas como animal macho procurando um bom gen para passar para os descendentes, admiro a beleza, tanto de vida como estética, como um artista, como um poeta.

A primeira era de um humor muito abalável, mas na maior parte do tempo era, ainda deve ser, mas agora longe de mim, deuma alegria incomparável. Era toda de pulos, gargalhadas, abraços e danças. Apesar de termos várias diferenças de conceitos e modo de pensar, não podia deixar de admirá-la. E é linda.

A segunda... A segunda na verdade é a primeira em importância. O que senti por ela já me fez chorar no travesseiro, mas normalmente, em todo o resto do tempo, só me fazia sorrir, apesar da não correspondência do sentimento. Depois a paixão passou e nos tornamos muito amigos. Agora questiono se essa amizade era tão forte assim, já que, aparentemente, não resistiu. Me entristece e ainda me lembro dela todos os dias.

Foi com ela que tive coragem de tocar e cantar para um público numa apresentação. Foi ela que me ensinou que eu já sabia cantar e não precisava abaixar o tom do violão e nessa primeira apresentação eu tremi muito. Eu tremia quando falava em público e podia ser aprovado ou reprovado, não gaguejava, não errava os acordes, mas tremia. É chato. Depois disso minhas investidas musicais foram mais longe e eu tinha parado de tremer quase totalmente.

Hoje aconteceu uma apresentação semelhante e tremi como se estivesse nú no inverno da França. Sinto falta dela.

segunda-feira, março 08, 2004

Fui bem nas provas de ciências exatas. Sempre vou. O terceiro ano está se provando não tão difícil quanto eu previa, as minhas previsões em relação ao futuro é que estão desmoronando gradativamente. Não sei mais se vou conseguir ir pra USP, não sei se vou sair de Salvador, se vou continuar morando com minha mãe... Não sei nem mais se vou cursar jornalismo. Eu achava tão certo... Nada é certo, e isso é tão bom.

Se eu pudesse ver toda minha vida daqui de onde estou, até o fim, que graça teria viver? Eu estive até agora num corredor assim: sem portas. Agora estou chegando ao fim dele e as escolhas são tantas que me confundem. O medo é que eu fique parado. Que eu entre num túnel circular e fique repetindo trajetórias uma vez depois da outra sem saber que é só dar um pulo pra sair.

Só vou seguindo minha vida, um dia depois do outro e sem muita chance de mudar. Sonolento por um caminho ensolarado.

Desculpem a demora entre um texto e outro e a brevidade de cada um, não ando muito inspirado. Coloquei em versos a idéia do penúltimo post:

Impulso

Pedaços do casco do navio
E de coisa pior
Flutuando ao meu lado na superfície
Cheiram mal, fazem barulho

Os músculos estão tensos
Do frio e da luta
De uma guerra perdida
Da estrela contra os cegos

O mar, poderoso e imponente
Inteiro e de todo lado
Com sua grandeza e bondade
Me oferece a paz e o silêncio

Relaxo e me deixo
aceito a oferta generosa
Entro em harmonia com o oceano
E afundo suavemente

O descanso é valoroso
Preciosa a paz e o siêncio
POrém não são eternos

Tocarei o chão com os pés
E com o impulso saltarei
Para além das núvens

terça-feira, março 02, 2004

Em considerável profundidade, mas a luz do sol ainda chega onde estou. Ondas de luz e de música. Ligieramente destraído do tempo, do espaço e do esforço, parei pra observar os peixes dessa região do oceano. São diferentes dos que nadam lá em cima. Mais calmos e harmônicos. Deve ser pela ausência de humanos aqui. Eu não me mexo, entro na harmonia.

Estou com um blog novo e é bom estar animado com alguma coisa. O endereço está aqui. Dou minha opnião sobre o que ocorrer. Visitem.

Minha viagem ao fundo do mar continua.