sábado, dezembro 27, 2003

Paro de fazer desse blog meu diario de viagem so por hoje por um motivo simples. O ano esta para acabar. E mesmo que os meus olhos so separem dias das noites, o ano tem o seu significado. Para mim, um estudante, um ano significa principalmente a conclusao de uma etapa. A segunda serie do ensino medio. Passei por ela, nao voltara mais. Ano que vem sera diferente. Um ano cheio de pressoes de todos os lados. E diz a Fisica, se a pressao interna nao for igual a externa, as coisas mudam. Eu posso ficar surdo... Mudo... Mudo...

Ha quanto tempo nao toco violao? 15 dias. So. Parece uma eternidade. Todos me disseram que eu nao deveria trazer, que seria um peso a carregar... Mas eu sinto tanta falta. Me perdoem, humanos, mas o que mais me faz falta é ele. E esse ano ele viu de cima. Viu do palco. Luzes, holofotes coloridos, foto publicada no site do evento ( http://www.amaquinadosom.com.br/banda0612a.htm )... Meu violao e eu... E a banda Chevete Verde que teve sua formacao alterada, ganhou corpo, cozinha... Acabou, ressurgiu e fez um grande show no aniversario de 76 anos do colégio dois de julho. E eu aceitei parabéns de gente que eu nao gostava...

E uma moça muito me chamava a atençao andou para o lado, nao para baixo, passando de amor platonico para amizade correspondida e trocamos telefonemas a respeito de uma outra moça cuja atencao eu chamei. (Adoro frases longas sem virgulas)... E eu esse ano nao me apaixonei. Nao chorei nem sorri de amor. Nem escrevi poesias de amor... Soh de solidao. De falta de amor. De nao amar ninguém nem ser feliz ou triste com quase nada... Eu disse quase.

Desse ano ficarao boas lembrancas de boas noites, bons beijos e boas conversas... Eu ficava sentado no chao na frente da sala e todos passavam por mim me desejando bom dia... Ate a aula comecar... As vezes algumas pessoas sentavam-se ao meu lado... Esse ano eu fiz novos amigos. Deve ser normal pra voces fazer novos amigos todos os anos. Pra mim nao. Esse ano eu fiz novos amigos que serao velhos amigos. Entraram mais pessoas do que nunca no seleto grupo das amizades reais.

Nao sei se fui vitorioso ou perdedor, desconheco meu oponente, meu tabuleiro, meu jogo, minha trave, a outra trave... A bola. So sei que mais muitos dias passaram e o Poeta Morto continua mandando suas mensagens de teclados baianos, brasilienses, londrinos ou parisienses. E me perdoem os acentos, porque esse teclado de Paris eh horrivel.

sexta-feira, dezembro 26, 2003

Amiguinhos, voltei para Paris. Agora tenho mais um mes a passar aqui. Depois escrevo mais, pois estou muito cansado e esse teclado e chato.

domingo, dezembro 21, 2003

Estou em Londres. Que cidade! Acho que quero morar aqui mais tarde. Hoje visitei The Tower Of London. Um grande castelo cheio de torres onde estiveram prisioneiros, torturadores, corvos e reis. O lugar tem 900 anos de idade e muita gente foi executada por la. E eh muito bonito. Me senti num filme medieval enquanto andava por alguns cantos de la. Vi as joias da coroa, as armaduras e armas dos reis... Foi otimo.

Depois, na saida, almocei num Pub. Um rosbife com batatas e outros vegetais, comida tipica daqui. Apesar da fama da cozinha francesa, essa foi a melhor refeicao que fiz desde que deixei o Brasil, ha pouco mais de uma semana. Enquanto eu deixava o Pub, anoitecia. Incrivel como anoitece cedo e amanhece tarde aqui. Mas nao esta fazendo muito frio, menos que Paris. Alias, estou gostando mais daqui.

Vou indo porque meu tempo de internet e curto. Ate mais.

terça-feira, dezembro 16, 2003

Ola Brasileiros!

Ja tinha escrito tudo e o PC travou, vai ai uma versao 2, resumida por causa de minha impaciencia.

Esta fazendo tanto frio que o labio se parte e sinto o gosto do sangue na boca, mas vale a pena. Hoje visitei um lugar chamado Pantheon. Uma grande construçao Greco-Romana construida para homenagear os herois de guerra franceses em sua longa historia. tenho visto coisas mais antigas que Cabral, Mas essa de hoje tinha so uns 300 anos.

O Pantheon é uma beleza. Cheio de pinturas nas paredes retratando batalhas, contando historias... No andar debaixo tem uma grande cripta com vairos herois e pensadores franceses enterrados, por exemplo, so pra citar: Voltaire, Russeau, Victor Hugo, Emile Zola...

No andar de cima esta preso a cupula mais alta o maior pendulo do mundo. Ele é muito significativo. Sua oscilaçao muda 11 graus por hora, fazendo parecer que ele oscila em todas as direçoes, mas na verdade, é a terra que se move embaixo dele. Esse pendulo acabou provando os movimentos da terra e derrubando alguns dogmas da igreja. O homem nao era mais o centro do universo.

Visinho ao Pantheon, a Faculté de Droit: Faculdade de Direito, com o lema do iluminismo gravado: Equalité, Liberté, Fraternité. Deve ter sido la que os pensqdores discutiram os direitos humanos que regem nossa sociedade ate hoje, e muito mais ideologia.

Foi muito bom estar em contato com uma historia que antes eu so via nos livros. Au Revoir!

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Estou em Paris e sem tempo pra postar... O teclado aqui é diferente e cansa ficar catando milho.

Quando puder escrevo direito.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Meu pai está aqui em Salvador com o filho que teve com uma outra mãe. O menino tem quase 2 anos de idade. É muito interessante ver o guri, suas reações, suas manifestações de esperteza, de interrogação, de exclamação. É um garoto divertido, com tudo se alegra, brinca, sai correndo... Chora só quando tiram ele da piscina, do mar ou qualquer coisa que envolva água. Ao contrário da maioria dos bebês chorões, ele não é nada chato.

É a primeira vez desde que alcancei consciência dos meus passos que posso acompanhar o crescimento inteiro de uma pessoa. Vou poder vê-lo daqui a 5 anos e dizer que já o vi do tamanho de um travesseiro, ver traços do seu rosto se transformando, ver a sua personalidade se desenvolver e depois avaliar o que já existia no bebê e que existirá no adulto.

O irmão pequeno e tão pequeno me coloca numa posição arquetípica: a de irmão mais velho. Me sinto de uma maneira... diferente nessa função. O irmão mais velho, e muito mais velho como sou, dispõe de uma parcela diferente do tempo do pai. Me sento com meu pai na mesa do bar, discuto negócios... Sei não. Parece que tenho que ser austero e sóbrio para desempenhar bem nova função... Penso mais no futuro distante, quando ele tiver minha idade e imagino os pensamentos que habitarão sua mente. Lá saberei melhor o que fazer... Só espero ser amigo do meu irmão, apesar da distância, mais tarde.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Minha cabeça está explodindo, mas foi bom ter feito algo difícil até o final. Foi bom ter dedicado horas do meu tempo precioso a uma atividade útil. Meu pai é consultor de Tecnologia da Informação e tinha um site em português. Depois de 5 horas entre tradução, revisão e adaptação do HTML, o site tem duas versões. Eu estudei o inglês prático, e não técnico, minha dificuldade residiu aí. Mas acho que consegui transpor essas barreiras e o site está lá. English Version.

Achei, no início, que seria mais fácil. Entender um texto é bem diferente de traduzí-lo. Mas eu gostei do desafio. Acho que estou precisando deles. Os desafios. Há muito pouco que eu tenha feito e que tenha considerado difícil, que tenha exigido muita atividade cerebral. E acho que o cérebro não é muito diferente do bíceps nesse sentido: sem exercício, ele enfraquece. E já que não tem quem jogue xadrez comigo no meu belo taboleiro, preciso de desafios.

Não sinto a cabeça assim desde que fiz a prova da Olimpíada Brasileira de Matemática, em Setembro, acho, e é uma sensação ótima. Há o cansaço e a dor de cabeça, mas... É como jogar futebol por 2 horas e depois se sentar, ou, melhor ainda, tomar uma ducha fria.

Agora vou dar uma passada no colégio ver os caros amigos que enfrentam o processo de recuperação.

sexta-feira, novembro 28, 2003

O tempo parece escasso para tantos planos, os novos e os velhos. O tempo parece se arrastar em direção ao... Não sei. Eu quero viver muito de cada dia mas os dias acabam, cada um deles. Cada dia a mais é um a menos. Olho o calendário e estão quase todos riscados com linhas ou anotações. Tenho que fazer. Tenho que ir. Tenho que voltar ainda hoje e trazer. Tenho nada... Ilusão minha. Os dias estão todos aí e vão se fazendo um por um.

Nas manhãs se fazem a tardes, nas tardes se fazem as noites, nas noites se dorme as manhãs. Telefones. Sol, lua, teto, escada, porta. Fechada. Abre-se. Vamos sim, já conheço minha casa o suficiente. Até logo. Estou levando o telefone celular, qualquer coisa é só ligar. Mas não vai ligar... Volto ainda hoje.

Passei de ano direto e me parabenizaram bastante. Ficaram de fato alegres, os adultos. Os adultos mal sabem que passar de ano para mim é como respirar. E isso não representa para mim nenhuma conquista. Eu só fui até o colégio e voltei nos dias de semana. Só isso. Minhas preocupações estão bem distantes das cadernetas escolares, minhas ambições também.

Mas eu sou um menino de férias agora. E ando com meus amigos, os novos e os velhos que quero levar comigo pro resto da vida... E não sei se vou levar... Tento levá-los amanhã e depois, pelo menos.

Escrevi isso meio sem pensar. Já estava dormindo e acordei com essas sensações.

quarta-feira, novembro 26, 2003

Erguem-se as paredes em volta das construções, as escolas. As ruas da cidade não levam mais a lugar algum. Alguns medrosos se escondem atrás das trincheiras. Há um abismo. Os homens carregam suas armas, os fracos se escondem como podem. Os tiros cruzam e movimentam o ar, entram pelas janelas e abrem buracos nas paredes, destróem a fina porcelana. As balas ricocheteam no meu peito e caem soltando fumaça como se um balde d'água tivesse sido derramado sobre elas.

Ando livremente pelas entranhas da sociedade. Não sou prisioneiro do séquito de ninguém, não há quem me faça parar. Sou invencível. Sou eu. Sou de uma palavra só. Cumprimento e passo pelos que ficam parados. Os que andam comigo nada têm a temer, pois nada os afetará. Somos livres dessas pequenas batalhas dessas ridículas guerras que travam os homens sem noção de que é necessária a vida antes da morte, e não só depois.

Minha vida é muito maior que o período de um piscar de grandes olhos. A paisagem muda. Corpos outrora vivos despencam no chão: desistiram. Pessoas escondidas se mostram para o mundo. Uma vez feita essa decisão não há mais guerra, não há mais nada. Os soldados perdem aos nossos olhos a roupa verde e a arma negra. A brisa e a garoa vêm esfriar os canos das armas. E não nos causa resfriado.

domingo, novembro 23, 2003

Estou de férias. Ontem fiz a última marca no gabarito. Questão 25, 04. Entreguei as provas e os gabaritos ao fiscal e saí, encarei o sol no meu rosto. Me dei conta do que tinha acontecido e desci contente do pavilhão. Acabou. Férias. Que será de mim agora sem o encontro social diário garantido? Terei que me garantir. Mas pelas amizades que consegui esse ano, não será difícil. E daqui a menos de 20 dias estarei embarcando para a Europa.

Como eu já disse, minha mãe está na França fazendo Pós-Doutorado em Artes Cênicas. Vou visitá-la. Passo dois mêses em Paris com uma passagem por Londres. Ótimo, não? Claro, claro... Só não estou ansioso como o esperado. Aliás, eu dificilmente fico ansioso para alguma coisa. O tempo sabe as suas medidas. Sol, lua, sol, chuva. O tempo vai pra frente e não pergunta... E estamos nós de chinelos na estrada, seguindo a placa.

Placa

Não devo parar
A estrada não volta, só vai
A terra do meu calcanhar
Já fica pra trás

Um minuto se vai
Com ele a gota de suor
Dos meus olhos cansados
O que eu vi nunca mais

O céu azul puro
O horizonte de areia bem longe
O corpo arreado que anda
Não é de ninguém

A carne fraqueja
Nos dias de sede, os mais quentes
A garganta vive na saliva
O sol é o rei

O que vem ninguém viu
Não aconteceu

Não sei o que vim fazer aqui
Só vi a placa na estrada e segui
Meu caminho é sozinho e sem sombra
Minha escolha é pra frente, não tem outra

quinta-feira, novembro 20, 2003

No meu caminho para o colégio, cruzo todos os dias com figuras muito interessantes, a mesma gente dos colégios das redondezas, os mesmos trabalhadores, as mesmas pessoas esperando ônibus no ponto, os mesmos carros no engarrafamento causado pelos dois grandes colégios do Garcia, os mesmos mendigos e um mesmo menino.

Ele usa a farda do meu colégio, estuda lá. Deve ser 4ª ou 5ª série. Já o vi indo quando vou mais cedo e mais tarde, uma vez dentro da padaria, mas normalmente vamos em sentidos opostos. Eu com minha mochila e canetas, ele com um saco de pão. E vem ele com o saco de pão na mão e uma expressão alegre no rosto. Deve sair mais cedo, comprar o pão, levar em casa e depois ir denovo para o colégio. Sozinho. Sem acordar a mãe, talvez. Me dá vontade de sorrir e chorar.

Na escola, o menino corre, pula, se esconde, procura. Quebrou o braço uma vez nas brincadeiras, mas ia pro colégio com o braço engessado e fazia as mesmas coisas. Não pára, está sempre de brincadeira com os colegas. Menino sempre contente que me deixa admirado... Já ouvi como o chamam por aí, seu apelido é Sorriso.

terça-feira, novembro 18, 2003

Estou tentando dormir há 3 horas. Desisti. Eu tenho prova amanhã às 7:10 e essa insônia não me deixa dormir. Não vou ficar deitado na cama implorando para o sono vir me tomar para a noite. Acordarei às 6:00. Vou fazer o seguinte: Abdico da vida diurna até o reinício das aulas. Só tenho provas até o sábado e depois estarei de férias. Acho que é um bom negócio. Faço a prova, venho pra casa, durmo até o anoitecer. Depois disso as forças cósmicas me impedem de dormir.

Melhor eu parar de tentar me acostumar com essa vida dos humanos e me entregar de vez ao meu relógio biológico, virar o bicho que sou e parar de sofrer com essa insônia que eu invento. Durante o dia eu consigo dormir muito bem. Ainda melhor se for depois da caça... Do almoço que me vem à mesa. Posso me manter acordado durante a manhã também.

Fiz a prova hoje morrendo de sono. Não sei porque. Esse fim de semana eu só fiz comer e dormir e ainda acordei com sono na segunda-feira. Enquanto os jovens comuns que foram a mil festas e não dormiram quase nada estavam jogando bola na quadra da escola, muito energéticos. Esse mundo é deveras injusto. E eu não consigo dormir.

Meus pais tem alguns problemas de insônia: minha mãe dorme tarde e acorda cedo, acorda com qualquer ruído. Meu pai dorme um sono interrompido ou às vezes, simplesmente, não dorme. Eu sou como meu pai. Simplesmente não durmo e não tem o que faça-me dormir. Acabou. Não adianta tomar leite quente, calmante, suco de maracujá. Não vou dormir. Não essa noite.

Mas aposto que lá pelas 4:30, quando faltar bem pouquinho para o dia raiar e eu ter que me colocar embaixo do chuveiro para ir fazer prova de Matemática, vai me bater um sono divino. Mas aí já era. É uma piscadela para o despertador tocar, insuportável. Mas não adianta lutar... Acho que vou ler um livro.

quinta-feira, novembro 13, 2003

Minha vida segue. Hoje eu dei mais um passo em direção à porta, mas tenho mesmo vontade de olhar pela janela de novo, me agarrar nas núvens e viver nesse sonho. Hoje tive minha última aula do ano. Agora tenho só que mostrar que essas aulas foram proveitosas a um punhado de professores e meu dever está cumprido. O ano fecha seu ciclo, um círculo perfeito. Um círculo que só é traçado nos anos escolares. Acredito que depois a unidade anual perde um pouco o sentido. A vida é inteira pela frente, cada passo será um caminho.

Hoje eu chorei como um menino quando meu professor de Química, um cara de uns 60 anos, barba branca, muito carismático, disse:

"Uma vez eu li num livro que na vida tudo passa... E realmente, dois anos se passaram, a maioria de vocês foram meus alunos no primeiro e no segundo ano e nós criamos um laço. Vocês passam de ano, vão pro terceiro, fazer vestibular e seguir a vida como Deus quiser aí, eu fico por aqui. Vocês passam, e eu fico aqui. (...) Saibam que eu estarei sempre aqui, na retaguarda, não importa o que você for fazer na vida, eu estarei aqui torcendo por vocês, pode fazer Geografia, Matemática, Química, o que for... Eu estarei sempre aqui... Eu fico por aqui..."

Chorei sim. Pode parecer que é um discurso clichê, e talvez seja mesmo, mas essas palavras me levaram a uma reflexão enorme. O tempo de colégio é inesquecível. Eu vejo meus pais, tios, e pessoas mais velhas que conheço sempre contanto histórias... Mas não vejo as pessoas. Deve ser mesmo muito difícil manter para a vida uma amizade da época da escola. Estamos aqui na fase de preparação para a vida. A vida é outra. A vida é a mesma.

E tem tanta gente que vou ver amanhã e semana que vem que gostaria de continuar vendo a vida inteira... Gente tão boa... Amigos. Poucos vão se manter. Mesmo que exista a internet, o telefone, o pombo-correio... A possibilidade do contato não garante-o.

Eu estou chegando no final do começo. Na vida tudo passa. As lembranças vão ficar marcadas no meu coração. As pessoas são inesquecíveis.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Eu quero muito. Muito mais que o necessário, muito mais que o médio. Não vou suportar ser só mais um em lugar qualquer. Não vou conseguir seguir em linha reta a vida inteira, estudar, ter um emprego médio numa empresa média que me paga um salário médio, tomar cerveja sexta-feira de noite e fazer sexo com quem eu conseguir. Isso é muito pouco para minhas ambições. Esse mundo pequeno jamais conseguirá me conter. Eu sou muito grande.

É tudo. E se não for isso, será nada e nada serei. Minhas decisões me levam em direção à garganta da floresta mais densa e eu quero atravessar o fino tronco de árvore que não teria caído se fosse forte. Do outro lado está um deserto de areia quente e eu estou sedento e descalço, mas não fico de jeito nenhum nessa floresta me servindo de maçãs. Eu quero o oásis. Quero chegar onde poucos chegam e quero distância de gente medíocre.

A jornada exige preparação. Não se vai de uma vez e nem na primeira tentativa. Ainda tenho muito por aprender. Eu não sei de nada. Não sei as direções. Não o que essas palavras significarão para mim no futuro. Idealismo, ilusões de adolescente... Mas vou lutar contra as forças que tentam me prender ao chão. Eu sou muito maior que elas.

terça-feira, novembro 04, 2003

Desculpem-me aos moradores de BH, São Paulo e Brasília, mas eu me encontro agora bem de estado físico e espiritual, leve como o ar e livre como o vento porque o Mar tudo cura e nenhuma ferida do corpo ou da alma sai de lá aberta. O Mar é tão eficiente e tão certo disso que quando nem ele dá jeito, jeito mais não há e o oceano se encarrega de levar consigo o ferido. Mas estava fazendo sol forte e houve jeito para mim, voltei do longo mergulho de olhos abertos, corpo cheio de sal e sorriso no rosto. O Mar tudo cura.

Depois de um tempo à deriva no oceano, subi num pequeno bote. Continuo habitante do mar, mas agora remo sobre ele em direção à próxima ilha do meu mapa. Foi uma semana muito produtiva. Me animei com meus projetos, sentei na sala do capitão com mapas e réguas, estudei minha posição, tracei retas, curvas e o ponto de chegada. Cheguei. Fiz a minha parte e um pouco mais e isso é sempre muito gratificante. A mediocridade só nos impede de avançar, de crescer, de expandir.

A vida segue em ondas como as do mar. Ora estamos no topo, ora no fundo; ora sentindo o vento no rosto, ora lutando para subir à tona e respirar. Estabilidade, eu já disse, não existe. É uma mera ilusão, miragem. Agora estou na crista da onda, de pé na minha jangada olhando firme para frente... Até o próximo naufrágio.

quinta-feira, outubro 30, 2003

As pessoas têm medo de mim. Eu sou frio, calculista e posso matá-las rápida e silenciosamente. Por isso, elas tentam me manter satisfeito e se mantêm distantes. Não me criticam nem de forma que eu não possa ouvir porque eu sou, no plano das vozes, unânime e incontestável. Lá dentro todos me respeitam, me odeiam e principalmente me temem. Devem pensar que eu sei uma coisa podre sobre cada um deles para falar e que tenho argumentos para derrubá-los. Se não tiver, posso me sustentar no meu passado infalível. Eu sempre fiz o que me propús a fazer.

Tropeçando aqui e ali, eu costumo chegar no final do caminho antes da maioria dos outros carros. Eu poderia pisar mais fundo, mas não vejo necessidade. Meu passado em todos os trabalhos e aprendizados por que passei me deu na minha convivência olhares que não mereço.

Não. Eu sou humano, irresponsável e negligente, falível em todas as fases da minha vida, não considero podres os erros ou quaisquer pouca coisa que sei sobre as outras pessoas e não é do meu interesse derrubar ninguém. Minhas falhas devem estar expostas para todos, eu assumo e peço desculpas mas ninguém tem a coragem de me acusar.

As pessoas têm medo do que eu possa dizer. Eu sou uma bomba enterrada num campo minado, se aproximar de mim para pedir alguma coisa é uma tarefa encarada como difícil. Cobrar dos meus atrasos, praticamente impossível. Vão pisar e eu vou explodir. Quando estou mal-humorado sou o pior dos mal-humorados. Eu tenho um par de rifles nos meus olhos. Eu fuzilo, mutilo, machuco... Coitadas das pessoas que estiverem ao meu redor. Caem todas esburacadas no chão. Da minha competência todos sabem e ninguém nega, mas aí concordam da minha chatice e nervosismo.

Tem umas moças que conseguem me acalmar numa fração de segundos. Só com uma palavra... Com um olhar... Com uma mera aparição. Dessas eu tenho vergonha. Minha alma se lava e eu me sinto puro e calmo na mesma hora. Acho que tenho medo inconsciente de ser chato ou intolerante com elas e perdê-las para sempre. Eu preciso delas. Eu preciso... Saber como tratar bem a todos e ser considerado um igual.

sábado, outubro 25, 2003

Têm-se muita dificuldade de se livrar daquilo com que já nos acostumamos e que já cultivamos há algum tempo. Eu estava sem cortar o cabelo desde junho, estava bem grande e bagunçado com pontas loiras quebradas de quando o descolori para pintá-lo de vermelho. Eu então decidi cortar depois de meu pai muito insistir e de muitas pessoas me dizerem para cortar. Meu cabelo estava sem forma, é o que diziam. Mas não foi por influência alheia que eu cortei o cabelo.

Foi por causa da uma conversa que tive com um amigo meu em que ele me disse mais ou menos o seguinte: "Se eu estivesse precisando prender o cabelo, eu cortaria." Aquilo de fato fez sentido. E o cabelo estava caindo no olho com constância. Cortei. Ficou parecendo uma palmeira podada. Vocês assistiram Joana D'Arc de Luc Besson? Meu cabelo está parecido com o dela quando ela cortou com a espada para ficar parecido com um homem. Da última vez que cortei fiquei até triste, dessa vez não. Não gostei do corte mas também não estou com raiva do cabeleleiro nem arrependido. Queria cortar e cortei. E de que isso importa?

Fraqueza

Eu não estou nas ruas ou nos bairros
Nem nas tribos urbanas, muito menos nas cidades
Eu não sou cidadão, não tenho país
Eu estou acima dos territórios

Todos podem entender o que digo
De qualquer nação ou etnia
Pois não falo em nenhuma língua, falo em todas
Eu estou acima das diferenças

Meu cabelo não é curto nem longo
Minha roupa não é negra nem branca
Eu ouço todos os sons de todos os lugares
Eu faço as culturas existirem e proliferarem

Eu sou o ser humano e a humanidade
Não pertenço ao chão nem à terra
Sou tudo mesmo sem ninguém nem nada
Eu crio o que me pertence e dou a quem quer

Eu sei e tenho como fato
E não há quem me diga que não
Pois eu sei de todas as coisas
Eu sou a maior das criaturas

Mas me rebaixo dez em cada dez vezes
À altura das suas mãos em descanso
E você me tem nos braços ou onde quiser
É minha fraqueza, sou totalmente seu

E eu gosto de ser ainda menor
Na verdade sou de coração frágil
E aí eu sei e tenho como fato
Você é a maior de todas as criaturas

quarta-feira, outubro 22, 2003

Aí está ela de volta. A caneta vermelha estorou e eu muito ávido abri o caderno numa folha em branco e fiz várias marcas. Perde um pouco o sentido sem a imagem do caderno, mas prometo que mais tarde escaneio isso e mostro aqui.

Da minha mão cortada
Para a tela branca
Tinta para o pintor
Sangue de viva cor

Da lâmina afiada
Para a peça bruta
Massa para o artesão
Sangue em vazão

Saindo pelos pulsos
Machando expressão na pintura
talhando rios de cursos

Não tem valor na moeda
Mas do ferimento da alma
Palavra para o poeta

domingo, outubro 19, 2003

Estou um tanto descrente com a humanidade e comigo, humano. Eu não entendo... Eu não entendo que questão cultural ou que trauma infantil pode fazer uma pessoa agredir a outra conscientemente. A mão dura no crânio por nada. Oito mãos, oito pés e uma vítima. Dois colegas que fugiram e deixaram lá meu amigo. Ele chegou aqui com o olho roxo. Estava ao lado dele, coloquei gelo no seu rosto e ouvi a historinha.

Dexei ele pegar o telefone e quando eu vi ele estava cominando com uns cavalos o revide. Aí eu fui contra, e como amigo aconselhei-o. Ele não me ouviu e provavelmente vai aparecer com o olho roxo denovo mais tarde. Brigas não são unilaterais. E eu não gosto de brigas físicas. Eu não gosto de guerras. Eu não gosto de violência. Eu uso a minha voz para resolver impasses, quando consigo. Quando não consigo, me dou por vencido. Aquela pessoa não está mais comigo, vou procurar outro que siga ao meu lado.

O orgulho e a vaidade... Sim, eu tenho essas duas coisas. Eu sou um ser humano e tenho minhas falhas. Tenho meus momentos de nervosismo e irracionalidade e isso me dói também. Ninguém foge dos 7 pecados capitais. Há aqueles que entendem isso e os que vivem na bolha de ignorância e acham bom viver. E há os arco-íris, o sol todas as manhas e a chuva não faz gripar. Eu vejo tudo e choro.

A vida está seguindo bem, há coisas legais acontecendo mas eu... Não consigo me animar diante delas. Passo quieto, calado. Sento no banco e vejo os outros passarem felizes sorrindo e gritando nomes de colegas, de amigos, namorados... E vejo que tive a oportunidade de ter tudo isso que eles têm e não agarrei porque na hora eu não quis, porque não me parecia certo...

Ao meu redor as coisas acontecendo, eu cumprindo minhas obrigações, meu lazer. Eu me divirto sim. Há os momentos bons da vida, mas são momentos de alegria. Minha felicidade... Poxa... Não sei onde ela está mais. Aquela paz que eu sentia enquanto andava pela rua, acordava cedo e não reclamava da água fria. Estou cansado agora. Das coisas de sempre de que eu não participo nunca. Da minha inércia, no meu medo...

Minha vontade é de chorar, mas eu não consigo. Eu sou incapaz de produzir lágrimas de dor. Há um vazio dentro do meu corpo. Ecoam sons. Eu sou uma caixa acústica e vibram minhas cordas vocais... Onde estão meus versos? Onde estão meus versos? Estou parado. A caneta vermelha das noites de insônia deve ter secado. Não me vêm mais à cabeça aquelas metáforas... Já devo ter escrito algo sobre esse momento. Esse momento já dura muito tempo.

quinta-feira, outubro 16, 2003

Hoje vou fluir. Cheguei em casa com vontade de ouvir Legião Urbana. Jonny era fera de mais pra vacilar assim. Estou com dor de cabeça. Aquele ginásio com aquela batucada e aquelas bozinas da torcida soando na minha cabeça. Olimpíadas Internas Baker. Baker é o nome do casal de velhinhos que fundou a escola. E eu ora na torcida olhando, ora na quadra jogando basquete. E o barulho é o mesmo.

Nada pra falar das olimpíadas desse ano. Durante as olimpíadas do ano passado, meu apartamento estava em obras e eu, para não ficar respirando tinta, passava o tempo todo no colégio. Não participei em nenhum esporte, fiquei só de espectador. E e uns amigos. E uma amiga... Aquele batuque, aquela gente, os uniformes... Tudo me lembava do ano passado. E eu ali deitado olhando pro símbolo do colégio estampado na parede. Foram semanas ótimas da minha vida. Mas eu não fazia a menor idéia.

Diário de um Poeta Morto - Outubro de 2002:

"Mas foi por Ela que me apaixonei, e o que tenho feito? Refinando a amizade, simplesmente. É uma amizade que me agrada muito, tenho conversado com Ela por toda a manhã. É uma conversa boa, inteligente... Não fico conversando sobre o pagode do domingo anterior com as outras... Com essas eu posso fazer as conversas filosóficas de que gosto... Quanto a Ela, é a melhor amizade que já tive com uma mulher, garota, menina, o que quer que seja... E estou satisfeito assim... "

"Por causa da obra, passo muito pouco tempo em casa. Vou para a escola, volto para almoçar, depois saio e só volto pra jantar e dormir... Eu não teria o que fazer se não fossem os jogos internos que estão acontecendo na minha escola. Olimpíada de Esportes. Poderia, mas não estou jogando nada, vou só para assistir... As vezes me arrependo, e acho que deveria ter jogado, as vezes nem me importo. Tem sido muito bom, porque Ela está sempre lá, e ficamos juntos conversando..."

Hoje, Outubro de 2003:

"És parte ainda do que me faz forte, pra ser honesto, só um pouquinho infeliz. Mas tudo bem."

Minha paixão aguda passou. Eu sou um bom amigo dela agora. E ela não está frequentando o colégio essa semana. Depois de uma série de desententimentos, ela acordou com a mãe agredindo-a. Está de mudança para a casa da Avó paterna. Isso foi chocante para mim. Meus pais sempre me trataram muito bem, pouco levantaram a voz para reclamar comigo. Só nos delitos mais graves. A mão nunca.

E eu tive que aceitar que minha amiga acordou sendo agredida pela mãe. Eu vi as marcas em seu corpo. No pescoço. E ela foi para a casa da vó. E ouvi também de um primo meu que seu pai segurou um revólver apontado em sua direção querendo saber quem dava as ordens no lar. E ele também foi para a casa da vó.

A vó e o apoio incondicional que os netos têm. Ou deveriam ter. Estive na casa de minha vó no começo dessa semana. Não. Não sofri maus tratos. Na verdade foi porque meu pai estava na cidade e é lá que ele fica (meus pais são separados). A casa da vó é o aconchego incondicional que os netos têm. Chega de maldade e incompreensão.

sexta-feira, outubro 10, 2003

As pessoas não sabem mesmo ouvir umas às outras. Foi dado ao homem o dom da comunicação mas deve ter ocorrido algum erro na transimissão dos genes. Ficaram muitas surdas, cegas, insensíveis... Só não ficou ninguém mudo. Só eu fico mudo. Desanimado diante de tanta média, tanto café pequeno. Não vejo utilidade em gastar minha garganta para convencer certo tipo de gente. E aparentemente é o gene dominante. Eu sou recessivo.

Era uma coisa simples: Estava passando o filme em sala de aula. E aí quando chega o funcionário com a televisão as pessoas já vão jogando as cadeiras umas por cima das outras para ficar o mais perto possível e saudável para a visão do aparelho, ou seja, mais ou menos um metro. Esse posicionamento deixa 5 ou 6 pessoas em um lugar confortável e estas podem ver o filme normalmente. As outras 45 ficam atrás pedindo para não sei quem virar a cabeça um pouquinho pra lá ou pra cá.

A solução era simples: todos se afastam formando um semi-círculo de um raio razoável de forma que todos ficam a mesma distância do televisor e não fica a cabeça de ninguém na frente de ninguém. Logo que eu vi as primeiras movimentações eu fiz essa sugestão. As pessoas olharam para minha cara com um desprezo horrível e foram chegando mais para frente. Alguns diziam até "você está certo, mas se eu não for lá pra frente alguém vai e eu não vou ver."

Há outros mais empenhados pela justiça maior que resolveram gastar suas vozes em prol do bem-estar geral. Foi inútil, como eu havia previsto. Todos ficaram falando ao mesmo tempo. Ouvi umas coisas que me deram muito desgosto. "Eu cheguei primeiro, tenho o direito de sentar na frente. Os outros que chegaram atrás que se f...". Isso de um cara com quem eu convivo desde o século passado e que já considerei muito meu amigo. Mas os conceitos dele sobre as coisas me fizeram mudar meu conceito sobre ele.

"vem comigo procurar
algum lugar mais calmo
longe dessa confusão
e dessa gente
que não se respeita
tenho quase certeza
que eu não sou daqui"
(Legião Urbana, Meninos e Meninas)

quarta-feira, outubro 08, 2003

E-mail enviado.

Mãe,

Hoje, pela primeira vez, eu senti saudades suas. I had missed you before. Dessa vez foram saudades. Essa palavrinha mágica se diz em Francês? Não se diz.

E não foi porque faltou pão, não faltou, não foi porque meu sabonete acabou, não foi porque eu almocei sozinho, não foi porque não apareceu nenhum artigo de revista falando do álcool embaixo de minha porta. Não foi por esses motivos. Foi simplesmente porque você não estava aqui.

Simplismente porque eu fui no seu banheiro e lá estava uma garrafa de álcool em gel e um vidro de alfazema. Simplesmente porque eu ouvi a chave rodar e fiquei te esperando bater na porta com as novidades e depois me dei conta de que não era você. Não era ninguém. Não teve som de chave nenhum. Ninguém chegou.

Mas... eu posso suportar. Aproveite.

domingo, outubro 05, 2003

Ái meu pescoço... Valeu a pena. Dinheiro na mão é vendaval, já dizia o sambista. No dia primeiro do mês eu tirei o valor referente à minha mesada e pretendia sobreviver com ele até o fim do mês. É o quinto dia do mês e dos 40 reais só sobraram 13. Houve gastos extras que não se repetirão no próximo mês e eu além de tudo ainda resolvi me divertir. Eu tive que ir. E aí, já sabe... Estando lá se come e se bebe. E para chegar lá também se paga e em 5 dias eu gastei 27 reais. Só ontem gastei 20. 10 com o ingresso, 3 com o transporte e 7 com comes e bebes.

Os outros 7 eu gastei me inscrevendo na FEMMAT e comprando o leite para doar, requisito para o evento. FEMMAT = FEstival de Música de MATemática. O infeliz pega uma música normal, coloca uma letra que tenha a ver com matemática, vai lá e toca. Meu grupo foi o primeiro a se apresentar e eu toquei guitarra em público pela primeira vez. Antes tinha sido só violão. Foi uma experiência agradável. Vi as outras apresentações e o show de encerramento que foi de uma banda de reggae e depois uma de punk rock. No final, jogando conversa fora, consegui comprar o ingresso para o tal show por 10 reais. Estava à 20, mas o rapaz desistiu de ir e tinha comprado por 10 mesmo numa promoção. Fui.

Acho que passei uns 20 minutos em casa o dia todo ontem. Acordei, fui para o FEMMAT, voltei, tomei banho e fui para o Rock In Rio. Lá encontrei meus amigos que ficaram surpresos com a minha chegada, pois eu não ia. Foi muito bom apesar dos metaleiros exagerados, bêbados, drogados e alguns violentos. Bati cabeça abraçado com os amigos. Metal é emocionante. O show terminou por volta das 3:30 e o plano era esperar para pegar o ônibus já às claras. Foi durante essa espera que aconteceu uma das cenas mais pitorescas de que posso me lembrar.

Há um gramado lá no Aeroclube, onde fica o Rock In Rio, e aí ficaram lá escorados milhares de metaleiros. Eis que chega um sujeito cheio de piercings e dread locks e diz a um amigo meu: "Irmão, tem um bicho em baixo de sua cabeça." E começa a mexer na cabeça dele. Quando o cara levanta, aparece um agoniado siri. Ficam todos tentando pegar o siri, e este nos ataca com seus tentáculos. Foi quando eu falei: "joga os dreads nele!" Feito. O siri se prendeu nos dreads do rapaz e lá deve estar até agora. Ele não tinha cara de que se incomodaria.

Pegamos o segundo "Praça da Sé" do dia e fomos descendo cada um no seu ponto. Cheguei em casa exatamente 6:00. Tomei banho e dormi. Dormi bem depois de uma noite em claro num lugar escuro... e cheio de camisas pretas. Ainda restou um pouco de sono, mas vou deixar para a noite, pois tenho que equilibrar meu relógio biológico novamente. A semana recomeça e voltam as obrigações. Mas o fim de semana, ahh, foi ótimo.

quarta-feira, outubro 01, 2003

Quando eu penso que o que vem depois é bem pior... Eu estou me sentindo um pouco estressado com todos os trabalhos escolares e compromissos que eu assumi. Deveria haver um sisteminha como no computador que diz "memória insuficiente para rodar esse software." e eu saberia dos meus limites previamente. Como não há, a mente e o corpo vão tentando processar tudo. Aí a máquina trava. Ou sobrecarrega e fica lenta.

Hoje eu paguei as contas que estão destinadas à mim enquanto minha mãe não estiver aqui (ela está na França para estudos e volta no ano que vem). O colégio, o telefone celular e a empregada. Paguei tudo no primeiro dia do mês, não sou um menino responsável? Eu tenho um vício de deixar tudo para a última hora, mas acho que tenho um bom divisor de águas. Pagamentos não entram nessa categoria.

Trabalhos de colégio certamente entram. Existe um projeto do meu colégio que é o Festival de Cinema. Cada turma de 2º ano colegial escreve e produz um filme de 40 minutos com qualquer tema, qualquer enredo, tudo. O festival é grande e é valorizado na escola. As preparações são feitas ao longo do ano inteiro. O roteiro do filme foi feito demoradamente ao longo de 5 mêses. Eu e um amigo não gostamos e fizemos outro em 5 dias. Ficou muito melhor. Eu trabalho melhor com grupos pequenos e com pouco tempo.

Versei em inglês once again. Partituras não tem indioma (apesar dos termos serem em italiano), mas essa já tem música também.

I'm Away

All the time I lost
When there was some silence
There would be no harm
For I was alone

When the light was gone
When the night had come
I was awake
Away from my dreams

And the secrets I found
Were not for me
Were never mine

And the secrets I found
All about
Closed my eyes

All the things outside
Will never touch me
Someone next to me
To tell me something

Entertain my mind
To set it finally free
Back the the inside
Going trought my Dreams

I'm away
I won't look back or forward
I'll just feel the wind on my face
I'm away

sexta-feira, setembro 26, 2003

Eu ainda estou postando sim, ué. Esse "ué" eu só uso escrevendo. Nunca pronunciei esta expressão, mas na escrita ela flui naturalmente através dos meus dedos. Mas eu estou ausente desde segunda-feira e recebi uma reclamação de uma leitora. É que quando eu não tenho assunto para escrever, eu nem tento. Escrever um post vem de um impulso. O texto sai todo em minutos e não revisado, a não ser para erros de gramática. Um verdadeiro fluxo da consciência. O microondas está apitando.

É comida de microondas. Mas é boa. Acabei de voltar de um show do Gabriel, O Pensador na Concha Acústica. Os shows lá sempre são assim cedinho para evitar poluição sonora e o ingresso você recebe em troca de notas fiscais. É uma campanha do governo para incentivar esses registros. Grandes atrações passam por aqui e eu estou sempre por lá me divertindo. E show sempre dá fome, então coloquei uma lasanha perdigão para esquentar e agora estou comendo-a. Bom apetite para mim.

O show do Gabriel... O show do Gabriel foi uma beleza. Uma verdadeira tempestade de idéias positivas. Ele é bom. O problema é que normalmente ele canta, a galera ouve, entende, acha legal e volta pra casa. Quando ele cantou "Até Quando", parabenizou os estudantes de Salvador pelas manifestações contra o aumento da tarifa do ônibus na cidade, já falei sobre esse movimento aqui e da minha participação nele. Ainda falta muito, mas pelo menos aqui, alguém ouviu a música do rapaz e assimilou de verdade.

"Pensa que o pensamento tem poder, mas não adianta só pensar, você também tem que dizer. Diz porque as palavras tem poder, mas não adianta só dizer, você também tem que fazer. Faz porque você só vai saber se o final vai ser feliz depois que tudo acontecer. E depois a gente pensa e depois a gente diz e depois agente faz o que tiver que fazer."

Estou muito bem, tive um show ótimo, pulei bastante e estou com as pernas cansadas. Aguentaria mais algumas horas pela noite afora, mas o pessoal não queria esticar, então tive que vir para casa. Prefiro não me aventurar sozinho pela noite feroz. Vou relaxar em casa, e amanhã eu não tenho prova, como normalmente ocorre aos sábados. Tenho uma obrigação moral de dormir bastante. Boa noite para vocês.

segunda-feira, setembro 22, 2003

Estava indo tomar banho e decidindo o que ouvir durante o ato e resolvi ouvir o meu próprio CD. Duas músicas que gravei no estúdio de um primo meu. Não achei que eu fosse querer me ouvir. Que graça tem? Eu mesmo cantando, tocando. Eu conheço essas músicas com todos os seus arranjos, fui eu quem os fiz. Mas tem graça sim. E eu gostei de ouvir, o que deve significar que eu fiz um trabalho proveitoso.

Poxa, hoje dormi a tarde toda, nenhum trabalho proveitoso. E isso ainda significa que não vou dormir bem durante a noite iniciando um novo ciclo de sono vespertino. Essa será outra semana atípica, comprovando a minha tese do post anterior de que nunca chegamos ao equilíbrio. Tenho Feira de Ciências no colégio, festa de aniversário e show do Gabriel, O Pensador na Concha Acústica. Na feira de ciências vou fazer um experimento besta com gelo ao qual não estou me dedicando muito e apresentar uma peça sobre DSTs na qual eu represento um enfermeiro que não fala quase nada, mas eu tive participação ativa nas pesquisas. Mereço meus pontos.

Sem muito assunto pra escrever. Eu fiz uma musiquinha bonitinha. Por favor, me dêem feedback a respeito da letra. Eu me considero melhor escritor em verso que em prosa, mas a poesia normalmente não é muito comentada... Bom, lá vai.

Souvenir

O souvenir
Do nosso último encontro
Na minha frente na estante
Me faz lembrar

A lembrança
De sua primeira chegada
Me fazendo surpresa
Só por olhar

Os olhares
Sem nenhum desperdício
Do vinho ou do pão
Quiseram se encontrar

O encontro
Meu com você
Meu melhor minuto
Teve que acabar

Você fica bem perto
Porque fica bem longe?
Você fica bem perto
Porque fica bem longe?

O souvenir de um beijo
Lembrança da alegria
Que eu sinto tão bem perto

terça-feira, setembro 16, 2003

Minha saúde está finalmente voltando ao normal, a tosse gradativamente está parando, se tornando esparsa. Uma vez ou outra aqui e ali só pra jogar fora o que sobrou da guerra do sistema imunológico contra esse vírus, bactéria, ou o que for. Meu corpo venceu com a ajuda de uns remédios e de vitamina C artificial. Eu e as pílulas contra a doença. E agora estou ficando de fato bom e voltando ao equilíbrio... Equilíbrio.

Nunca estamos em equilíbrio, vamos sempre nos livrando de um problema e entrando em outro. Minha saúde volta normal e agora tenho que correr atrás do tempo que perdi em repouso, tenho vários trabalhos escolares pendentes para fazer em 7 dias, tenho vários testes e provas que foram adiados por causa do movimento estudantil, todos para essa semana... Enfim, tenho uma semana cheia. Uma semana de atividade incomum depois de uma semana de inatividade incomum, ou seja, depois de uma semana atípica, outra semana atípica. Nunca será atingido o rítmo que consideramos normal. Esse rítmo normal não existe.

Eu digo, então, que meu corpo está voltando a seu funcionamento normal e volto às minhas atividades físicas normais. Esportes, andanças pela cidade, tardes inteiras no colégio fazendo trabalhos ou simplesmente estando lá com os amigos. Pode não parecer, mas isso gera problemas para nosso sistema imunológico e ele vai agir para se livrar do que quer que aconteça. Isso não chega a incomodar nossa consciência, mas que acontece, acontece. Não se chega a um estado de equilíbrio em que a vida segue em linha reta. A saúde vai bem, mas a escola agora exige um esforço maior, e nessa gangorra a vida vai mudando.

Depois de amanhã, minha vida sái novamente da tal da normalidade de uma forma radical. Minha mãe ganhou uma bolsa de estudos e vai fazer pós-doutorado na França. Fico aqui só com o homem que mora aqui. Ele tem uma união estável com minha mãe, fica aí vendo televisão ou trabalhando, não sei muito bem qual é a dele mas é um cara legal. Acreditem, temos um bom relacionamento. O fato é que estarei sem minha mãe por muito tempo e pela primeira vez, isso vai representar uma certa experiência e para chegar no equilíbrio dessa 'nova vida' pode demorar um pouco. Mas daqui à 8 mêses ela volta, e aí onde está o equilíbrio?

A normalidade não existe, é só uma miragem de conforto que tentamos alcançar. A vida é feita dos problemas que temos que resolver, nada fica perfeito de primeira. Ainda bem que há os domingos e, quando não tem nenhum trabalho para apresentar na segunda-feira, podemos descansar, ver o sol, o mar, tomar água de côco e simplesmente relaxar, para mostrar que vale a pena resolver os problemas no final das contas.

sexta-feira, setembro 12, 2003

São alguns planos que não deram certo e o prazo para fazê-los memórias acabou. Memória fica da vontade, mas vontade não passa. Mas os sábados passam e suas noites são, cada uma, única, mesmo sendo todas de objetivo quase igual. Mas essa tosse não passa e é melhor eu não pegar o vento frio que faz no Forte. E é melhor eu não respirar a fumaça dos fumantes que lá estarão, e sempre há fumantes, e é melhor eu ficar deitadinho lendo O Primo Basílio porque tem teste na quinta-feira. E é melhor esse antibiótico funcionar porque essa gripe já passou do seu tempo.

São alguns planos que não fui eu quem fez mas que sou eu que tenho que realizar, e para estes eu não estou proibido por moléstia. Nada me impede de sentar aqui e digitar umas palavras, ajeitar bonitinho na página e imprimir para a professora legal que tem uns filhos legais, mas cujo pai não satisfaz já há algum tempo. Tenho também de falar sobre o que digitei, mas eu só digitei, será que eles não entendem isso? Eu só passei de um papel pro outro sem nenhuma interferência do meu cérebro. Nada neste papel que estarei entregando-lhe foi feito à imagem ou semelhança de algo que exista em mim, apesar de você ter, sim, me ensinado algumas coisas à respeito do tema.

São alguns planos que eu tenho para longe, ou que eu tinha para hoje e ficaram para amanhã. Essas coisas se acumulam de tal maneira. Você vai não fazendo e elas não te lembram que têm que ser feitas. Assim funciona com os esquecedores de coisas e assim vão acontecendo mais e mais problemas. Setor de disciplina, o senhor não está cumprindo com suas obrigações de pessoa, membro da sua família, de sua escola, de sua cidade, do seu sistema de transporte urbano coletivo, você, gerente único dos seus braços e pernas, decidiu ignorar o que seus olhos viram e aqui estão os resultados. Eu continuo trabalhando nessa instituição e haverão outros como você no ano que vem.

São aqueles minutos que vão-se embora com o tempo sagrado que duram. Aquele segundo em que ela olhou pra você com aquela cara e te disse que estava sujo junto da boca, e você pôde ver os seus olhos negros que vão no fundo de sua alma e viram no topo da sua pele uma sujeirinha. E riu quando falou. São esses minutos que duram uma eternidade na memória, um minuto na vida. E ela pega o guardanapo da sua mão e limpa seu rosto e me dá vontade até de chorar por um gesto tão simples ter me entrado tão fundo. Memória da vontade fica, mas vontade não passa. Estou em casa denovo esse sábado, alguém me telefone.

segunda-feira, setembro 08, 2003

O movimento estudantil é legal e continua, mas eu não estou mais tão ligado. Ontem minha vida bateu na porta e atrapalhou o rádio por onde vinham as notícias. A minha vida queria um pouquinho de atenção também. O balde esvaziou e tenho que ir no rio pegar mais água pra eu beber, ferver a comida... Água para eu chorar umas poucas lágrimas que devem estar na fila.

Não sei o que é que eu sinto, é alguma coisa travada no meio de mim que eu não consigo ver nem falar direito. Entre de minha solidão cômoda de hoje e a incômoda de ontem está o dilema, o problema ou o que for.

Por volta das 4 da tarde o prédio branco na frente do meu pega uma cor linda do sol, fica numa mudança sutil da cor do sol pro branco de novo que dura mais de 1 hora. É de chorar. Logo que me mudei pra cá eu ainda estudava no turno da tarde e nos finais de semana eu não estava em casa. Houve um feriado em que eu fiquei e pude ver essa cor pela primeira vez. Deslumbrante. A cor, os vidros, as sombras das formas, e em todo o outro sempre é só um prédio branco. E feio. E lá tem crianças felizes que brincam de todas as maneiras possíveis assim como eu costumava brincar antes de me mudar para este prédio aqui. Eu era a única criança, agora sou o único adolescente.

Pouco importa. No prédio estou só, mas os amigos do antigo se mantêm, pelo menos os que eram firmes. Os outros não me interessam... Os que não são firmes não me interessam. Cara só, de poucos amigos mas mesmo assim só de amigos firmes. Não odeio ninguém, não acho ninguém errado: é só uma questão de opção, ter a ver comigo ou não. Se tiver fique, se não tiver faça o que quiser, eu nem vou olhar pra você. Talvez eu olhe sim, pra rir um pouco, mas tenha bem claro em mente: você não é importante.

Que tipo de comportamento é esse, o meu? Acho que as pessoas comuns não acham isso legal, mas eu não me importo. Eu nunca me importei com opniões dos outros, dos desimportantes. Nunca fui lá um consumista, não me falta nada não, de material. De outro tipo não há bens... Há vínculos... Me falta um vínculo bem específico, mas não sei se é isso que me aflige. Acho que não, eu tenho paciência...

sábado, setembro 06, 2003

Xarope pra tosse não funciona com ninguém ou é só comigo? Na hora de dormir não tem xarope, limão com mel, chá de erva nem sopa de alho. A tosse é vencedora e abala meu sono. É muito chato ficar sem dormir por causa desse tipo de evento. Dos 39 graus de febre eu me livrei, ficou a doença nesse estágio chatíssimo, mas que já é final pela força que já volto a sentir no corpo. Eliminação de excreções. Já que me sentia mais forte, me juntei aos meus camaradas nas manifestações. Vamos a elas então.

Chegando no Largo do Campo Grande já via a horda de ônibus alinhados à direita e à esquerda da pista, sendo que a fila da esquerda era dupla, deixando o meio livre para os carros de passeio. Fui através da fila ouvindo os gritos de ordem, de repente vi um clarão na rua... Clarão nada, era uma multidão. Comecei a ver meus amigos, um deles ao me cumprimentar me disse que "sabia que você não ia perder essa!" Encontrei todos, firmeza na mão na hora dos cumprimentos e lá estava eu mandando um carro parar para liberar os que vinham da outra rua.

Todos as principais vias da cidade apresentavam uma situação parecida. As estações de ônibus todas estavam paralisadas e o transporte urbano popular de Salvador, que já não estava mais tão popular por causa do aumento da tarifa (e essa é a causa das manifestações), simplesmente não funcionava. O jornal dizia: "A RUA É DELES", os fotógrafos faziam milhares de imagens, os cinegrafistas milhões, o povo admirava a consistência.

É um movimento lindo. Tudo é espontâneo e perfeitamente organizado. Lideranças não se mantêm, discursos são aplaudidos no início e vaiados no final. Universitários e alunos de cursinho aderem ao movimento, partidos políticos tentam tirar uma casquinha, mas os estudantes não deixam: "Não somos palanque eleitoral para 2004". E às 14 horas liberamos o trânsito e rumamos para o ginásio dos bancários: assembléia.

Fomos todos, quase mil, em passeata cantando motes de movimento, e na virada da esquina uma das cenas mais bonitas do dia: da outra rua vinham outros quase mil e as passeatas se uniram na massa e na voz: "Ih! Fudeu! O estudante apareceu!".

Na assembléia, o ginásio era pequeno para tanta gente. Os estudantes começaram a identificar membros de partidos políticos e de organizações de estudantes que não tiveram a ver com nada e tentaram tomar o crédito e liderar, revoltados, saímos do ginásio e voltamos para as ruas. O ginásio ficou grande, a cidade ficou pequena. Um grupo ia para a estação da Lapa, outro para o Barbalho, outro voltava ao Campo Grande... O movimento é regido pelo instinto coletivo e pela energia e alegria do adolescente e é das coisas mais bonitas que já vi. E eu não ia me perdoar se aquele febre me deixasse na cama.

Uma amiga minha me mostrou uns turistas americanos que não estavam ententendo nada da situação. Fui lá e conversei com eles, ficaram admirados com duas coisas: o movimento era de escolas e não de universidades e os ônibus são de empresas particulares, e não da prefeitura. What's the name of the mayor? Antônio Imbassahy... We don't like him. Eles riram. No final da história eles foram trazidos aqui pela mesma instituição onde eu estudei inglês: ACBEU. They're good.

Domingo, 7 de Setembro. O MST está em Salvador e vai fazer o Grito dos Excluídos na parada das forças armadas. Os estudantes estarão lá também, de preferência bem perto do carro de seu Antônio. Os dois (o prefeito também se chama Antônio). O movimento continua.

quarta-feira, setembro 03, 2003

O trânsito em Salvador está impossível, ônibus não circulam, carros particulares circulam devagar. A cidade é deles, e eles pararam a cidade. Os estudantes. O prefeito inventou de aumentar as tarifas dos ônibus e agora está havendo manifestações, passeatas e bloqueios nas ruas da cidade. O movimento é muito bem organizado e ordeiro. Idosos, gestantes e crianças são levados à um único ônibus e podem furar o bloqueio, carros pequenos passam de um a um.

Engarrafamentos quilométricos nas principais avenidas, nas periferias... Onde quer que haja um ponto de ônibus, lá estão os meninos com suas fardas de colégio e os policiais com as suas fardas e armas, repreendendo com violência nos pontos menos movimentados da cidade, com equilíbrio onde a concentração era grande. A cidade está parada. O comércio não tem movimento, os shoppings fecham mais cedo, diversas atividades são canceladas. A cidade não anda.

O pessoal do meu colégio hoje participou da manifestação. A direção quis fechar os portões, mas viram que seria inútil. Lá estavam os alunos do Dois de Julho rumo ao campo grande ostentando a farda orgulhosamente e eu... Eu em casa amargando 39 graus de febre, ouvindo tudo pelo rádio e morrendo de vontade de ir, mas mal conseguia me levantar da cama, já ficava tonto. Que raiva. Mas se eu estiver bem amanhã eu vou... Ah se vou!

segunda-feira, setembro 01, 2003

Ando sem assunto para escrever esses dias. Devo dizer que estou bem, feliz e produtivo, só não ando alegre, não ando muito animado. Minha expressão anda séria, mas não triste. Não estou me sentindo mal ou incomodado com nada. Ouvi dizer que estou estressado, sedentário, que preciso me divertir mais e me livrar de obrigações. É verdade, eu estou cheio de compromissos que eu mesmo assumi, mas separo no meu tempo períodos de ócio. Só uma nota: "ócio" é a palavra mais legal que existe.

No Sábado eu de fato me senti adolescente bon vivant. Foi um dia e tanto. Fui com a minha galera para a casa de um amigo onde tem uma piscina e um lugar legal pra ficar conversando e tudo mais. Foi excelente. Saltos exóticos na piscina, conversas levianas e até algumas sérias sobre política e filosofia, mas que me agradam bastante. Temos que ser maduros mas não enfadonhos, todo mundo precisa de um pouco de sexo. E com sexo eu quero falar dessas atividades sem nenhum objetivo que fazemos só por diversão. Com a companhia da caxassa, o que me leva a meu pequeno problema com o álcool.

Meu pequeno problema com o álcool não é uma vontade enorme de consumir, não é uma necessidade física, não é um vício, não é que é uma ferramenta da minha desinibição, não é o consumo exagerado. Meu problema com o álcool é a preocupação da minha mãe. Eu não bebo só por beber, bebo pelo sabor, pela apreciação e em doses pequenas, quando começo a ficar alto, paro imediatamente e fico só nas bebidas não-alcóolicas se der sede, mas mesmo assim minha mãe tem uma preocupação imensa com isso.

Fica me mandando ler artigos de revistas e jornais sobre as desvantagens do álcool... Admito que não conheço todas elas, mas acho que o consumo moderado não tráz grandes prejuízos. Minha mãe é um pouco traumatizada, acho que por eu ter um tio meio alcóolatra e um primo que é ex-maconheiro e ela acha que eu vou acabar fumando também. Eu tenho nojo de fumo de qualquer espécie. Não gosto de estar por perto, não gosto do cheiro, não gosto nem de beijar na boca menina fumante, então acho que pelo caminho das drogas ilícitas eu também não vou.

Dizem as revistas e minha mãe que começa-se assim como eu estou começando, mas eu não me encaixo em nenhum dos padrões apontados pelas reportagens nem sou muito vulnerável à opnião alheia. Na verdade, eu tenho até uma leve tendência a discordar de tudo que é comum à maioria em questão. Então não vou seguir qualquer conselho de qualquer um. A minha moda é ter opnião própria.

sábado, agosto 30, 2003

Da semana passada...

Pálpebras

Nada hoje poderá me fazer sorrir
Não um riso largo cuja alegria
Dure mais que um mísero segundo
E os segundos hoje foram míseros

Levaram consigo todo o tempo
Deixaram comigo toda o peso
E tive de carregá-lo nas costas
E força quase não houve

Nenhum lugar para onde eu vá
Guardará algo novo a descobrir
Que valha a pena o peso dos passos
E os passos hoje foram pesados

Mal mecho as pálpebras dos olhos
E nem há motivo para que eu o faça
Já estão molhados o suficiente
Só falta que eu feche e abra

Mal posso escolher onde vou sentar
O chão de mármore me separa da terra
Não me importo de sujar a calça
Não aguento mais ficar de pé

Melhor então eu me deitar logo
Não há lugar aqui para mim
Não há lugar onde eu sinta
Que é um lugar feito para mim

segunda-feira, agosto 25, 2003

Em ocasiões sociais, seja ela uma conversa a 3 ou uma grande festa, costumo me perguntar se a minha inexistência ou ausência fariam alguma diferença no rumo das coisas. Normalmente a respota é "não" e não é muito animador se sentir inútil diante dos fatos, mas na sexta-feira eu fui não só útil como indispensável e minha atitude pode ter sido importante para a educação de umas 300 pessoas hoje e de até mais no futuro.

Eu adoro o colégio onde eu estudo. Um ambiente excelente, estudo lá desde a alfabetização e nunca considerei ir pra outra escola. Gosto de lá, gosto dos professores, dos alunos e até das árvores. Não é uma escola de playboys, mauricinhos ou patricinhas, sem querer generalizar. Também não tem toda aquela paranóia de vestibular, sempre se preocupou em formar o caráter do aluno em primeiro lugar. Mas tudo isso estava mudando e o colégio estava perdendo muito em qualidade se tornando uma escola comercial.

Eu via as queixas de vários colegas, tinha as minhas também, e muitos diziam que com certeza sairiam da escola no ano que vem. Do jeito que estava, eu também queria sair, mas como adoro aquele lugar, resolvi tomar uma atitude. Escrevi uma espécie de manifesto e cutuquei o grêmio para convocar os líderes de cada sala e fazer uma reunião com a direção pedagógica da escola. Consegui o que queria e foi na última sexta-feira durante a tarde.

Senti realmente a preocupação da direção com os fatos que eu, juntamente com as lideranças, estava expondo e uma vontade sincera de mudar com a cooperação de todos e todos gostam muito de lá, não querem ver o colégio cair de nível. Se fomos enganados, fomos muito bem enganados. Assim eu consegui uma grande vitória. Entrei em atividade, interferi nos fatos e com a melhoria do colégio posso ter ajudado muita gente. Sem minha atitude nada teria acontecdo.

Ainda de quebra, o manifesto me rendeu fama de bom escritor e um jornalzinho estudantil feito por uma associação de grêmios da cidade me pediu para escrever um artigo sobre a atuação deles mesmos, os grêmios estudantis. Fiquei muito feliz com o convite e o artigo já está escrito. Será que começou minha carreira de jornalista?

sexta-feira, agosto 22, 2003

Estava no longo momento que me separa do instante em que eu me deito e aquele em que eu de fato durmo e me lembrei de uma historinha da minha infância quando meu pai morava em um flat e eu passava os finais de semana ímpares lá com ele. O flat era legal, tinha uma piscininha, um lugar para jogar cartas e xadrez e eu tinha até um bom relacionamento com os funcionários de lá o que me chama atenção hoje em dia. Não sou muito de conhecer gente à toa nos lugares por onde passo.

O curioso é que eu acabei fazendo um amigo por lá. Acho que era filho de um amigo do meu pai. Ele era 4 anos mais velho que eu e mesmo assim nós estávamos sempre juntos, jogávamos bola, damas, dominó, cartas, xadrez, corridas de natação... Até quando ele estava estudando eu estava por perto. E eu era um bom aluno da primeira série do primário, ele me ensinou a calcular raíz quadrada.

E na primeira série eu era um CDF de carteirinha assinada. Eu gostava de ir para a escola de um jeito até chato. A todo momento eu estava conversando sobre a professora, ficava pensando em coisas para falar, ia na mesa do professor e falava, só por falar. Uma vez fui lá dizer que tinha um aluno na outra sala que já tinha repetido o ano três vezes. Ela já sabia. Claro que já sabia, os professores conversam entre si, aliás, são uma classe bastante unida.

Então eu fui na mesa da professora dizer que já sabia raíz quadrada. Me aproximei e falei, disse ainda que a de 64 era 8, a de 100 era 10 e a de 25 era 5. Ela fez os outros pararem o que estavam fazendo para dizer que eu já sabia raíz quadrada e me fez falar sobre isso. Eu o fiz com todo prazer, claro. Eu era um saco. Hoje eu não gosto de falar em público nem de exibir minhas habilidades. Fico mais quieto na minha.

Mas como eu não era assim antes, acabei ensinando raíz quadrada para grande parte dos meus colegas e quando chegamos na quinta série a professora de matemática teve uma grata surpresa ao ensinar esse assunto. Ela até comentou depois que nunca tinha visto uma turma entender raíz quadrada tão rápido. Eu que ainda tinha um pouco de Nerd em mim fiquei bem satisfeito...

... Só uma historinha da minha infância de que me lembrei.

segunda-feira, agosto 18, 2003

Como ando? Para frente... Olho pra baixo, ou para lugar nenhum, Ós caminhos são os mesmos de ontem. E anteontem. Já os conheço bem. Só não sei para onde estou indo... Para onde estou indo e levando comigo a minha vida, o meu futuro. E o que estou fazendo com meu presente, meus sábados e domingos, meus dias de feira, meu ócio, as pessoas que me olham todos os dias e não sabem quem eu sou e nem fazem questão porque eu não sei quem elas são e nem faço questão.

Tem tanta gente que eu ignoro... Que não trato nem bem nem mal, que eu simplesmente deixo lá onde estão. Parecem felizes sem mim e não mereço ser nem assunto. Me elogiam por coisas que não consegui, simplesmente fiz. Eu tenho aptidões escolares, tiro notas boas sem muito esforço. Aprender para mim é fácil. Acho que tenho mais facilidades nesse ramo que o normal. Mas não faço quase nada que se torne difícil. Abandono, continuo onde estava. Qual foi a última coisa significativa que aprendi a fazer? Acho que foi tocar violão. Foi fácil. Foi quase natural. Poderia ter me especializado em alguma coisa, mas larguei. Abandonei e se evoluo é por prática e não por persistência.

Acho que tenho menos facilidades no ramo social que o normal das pessoas. Eu conheço pouquíssimas pessoas. Esse número ampliou-se um pouco esse ano, mas só um pouco. Passos curtos e esporádicos levam para frente a minha vida social. Sim. Eu tenho um grupo fiel de amigos muito amigos. Já fui elogiado por isso e foi muito bom receber um elogio de verdade. "Você é incrível. Não tem falsidades com ninguém, todo mundo que você conhece é seu amigo mesmo". O problema é que eu não odeio ninguém, eu não preciso ser falso com ninguém para tratar bem.

Tenho andado mal há quase uma semana. Hoje eu mal abri a boca, mal sorri. Cumprimentei, até conversei um pouco. Me deram o violão na mão e toquei umas coisas tristes de improviso. Estão acostumados comigo sério, quando eu estou mal ninguém pergunta porque. Talvez ninguém perceba... Talvez não queiram conversar, ou não se importem, ou estejam cheios de seus próprios problemas. Que não se importem, então. Não quero nada que não seja de verdade. Talvez por isso eu ande assim tão triste. O mundo é cheio de falsidades.

sexta-feira, agosto 15, 2003

O ano não está mais no começo, estamos mais próximos do começo do ano que vem, e no meu caso começam as pressões em torno do vestibular. Perguntam-me se já sei o que vou fazer e eu digo que sim: vou fazer jornalismo. Pelo menos é a primeira faculdade que pretendo cursar antes de mudar de opnião, se mudar. Eu já estou bem decidido mas muita gente não está. E o mercado nos força a escolher com 18 anos o resto da nossa vida inteira.

O mundo está ficando cada vez mais cruel, mas não foi o mundo que criou essa condição. O mundo continua o mesmo e do chão continuarão brotando árvores frondosas, frutos e flores. Quem fez o mundo desse jeito fomos nós, homens. Seria pedir até demais que todo mundo desse uma paradinha para descansar, deitar na rede e tomar água de côco. Seria melhor para todos. O problema é que haveria um espertinho que no momento do descanso continuaria trabalhando e assim teria mais dinheiro que os outros. Isso o faria satisfeito.

Então é o dinheiro que destrói a humanidade. A busca pelo dinheiro. Quem foi que inventou essa merda? Dinheiro pode até trazer a alegria para alguns e ajudar bastante na felicidade, mas pelo que eu sei, no geral, o dinheiro só faz separar as pessoas ricas das pobres, criando dois mundos muito distintos, o do exagero e ostentação e o da miséria e do mínimo. Só faz as pessoas brigarem entre si por bens materiais. Competirem para entrar na universidade pública.

É do meu interesse pessoal entrar na universidade porque tenho ânsia de conhecimento e experiências. Pelo que sei, nos países de primeiro mundo entrar na faculdade é raro. É só para quem tem interesse mesmo pelo que quer fazer. Para quem quer assumir uma profissão que exija curso superior. Claro que essas pessoas vão viver melhor financeiramente, mas não é o único caminho. Aqui no Brasil é indispensável. Curso superior se tornou o básico para não passar fome.

As crianças de classe média à alta são orientadas desde pequenas. Elas tem muito claro na cabeça que o único caminho possível, viável, aceitável é entrar na escolinha particular, ir até o terceiro ano com pré-vestibular depois entrar na universidade. Se passar no vestibular ganha um carro, e vá com Deus que a vida é sua. Antes não. Antes de passar no vestibular não existe escolha. Se o cara quiser ir pro interior viver pacificamente ele não pode. O único caminiho é o vestibular.

Isso tudo porque o mundo capitalista é excessivamente competitivo. E todos reclamam disso. Até os estressados acionistas de Wall Street. Mas ora, foram eles quem fizeram o mundo assim. É só dar uma paradinha estratégica para ir ao banheiro e relaxar. Só que o mundo inteiro não relaxa. Os homens querem dominar seus conterrâneos, os países querem dominar seus vizinhos, todos querem petróleo barato. Ninguém entende que a humanidade é uma só.

segunda-feira, agosto 11, 2003

Deito as mãos aqui para ver se algo acontece... Se alguma palavra nova sai do meu vocabulário para escurecer esta branquidão... Um papel. O que as pessoas em geral, as que não escrevem, vêem num papel em branco? Uma folha de ofício... Acho que pensam em alimentar a impressora ou algo nesse nível. Crianças logo vêem um belo desenho com um sol no canto, uns rostos sorridentes e esse é o papai e essa é a mamãe.

Eu acho que nunca fiz esses desenhos assim, meus pais são separados desde que tenho 4 anos e desde então eu não os chamo de papai ou de mamãe. Chamava de meu pai e minha mãe e sou assim até hoje. Com 4 anos eu era oficialmente uma criança e não mais um bebê chorão... E dizem que eu não era chorão. E até hoje eu não chamo as pessoas pelos apelidos, é raro até eu chamar minha tia de tia na segunda pessoa. Costumo continuar chamando-as pelos nomes que conheci primeiro.

Esses nomes carinhosos saem difícil de minha boca, bem como palavras de amor ou pedidos de perdão. Eu sou uma pessoa difícil de se entender mesmo. Já me acusaram de ser extremamente racional... Se fosse eu seria até mais corajoso. Racionalmente eu sou bem resolvido. Pode até me pedir conselhos imparciais que eu os faço muito bem... Mas quando o problema é meu, tenho que lidar com o meu lado emocional também. E ele me domina, me mete medo e eu fico quieto esperando o tronco descer a cachoeira.

E espreitam-me os urubus famintos pela minha carne morta

Alguma luz me coça os olhos
Gostaria de tê-los agora fechados
Fazendo do meu dia uma noite
O sol foi quem nasceu e é criança

Barulho das folhas secas quando piso
Sob a sombra das folhas ainda verdes
Das árvores vivas do caminho que sigo
Não sei até quando nem até onde vou

Os pés firmes um passo após o outro
Mas vez ou outra sinto-me cansado
No céu já espreitam-me os urubús
Famintos pela minha carne morta

E espero ansioso encontrar um leito
Numa casa onde eu possa entrar e ficar
Desamarrar as botas e sarar os calos
Fim de um caminho, começo de outro

sexta-feira, agosto 08, 2003

Amanhã é o dia um do Garage Rock Festival. 11º ano do festival, se não me engano. Várias bandas alternativas do cenário baiano e a atração Nação Zumbi. Eu quero ir. É amanhã a tarde toda... Mas talvez eu não vá. Interessante que quando você adquire a independência financeira e não precisa mais pedir permissão a seus pais para fazer as coisas, você ganha junto um monte de obrigações e acaba não fazendo as coisas mesmo assim.

Minha mãe recebeu de minhas mãos um pequeno comunicado da escola dizendo que eu havia filado (matado) 5 aulas de inglês. Sim, eu fiz isso mesmo. Eu sou formado em inglês na melhor escola de Salvador e essas aulas do colégio não me acrescentam nada. Eu atrapalho os outros que querem aprender alguma coisa (e nem assim aprendem) e prefiro não assistir à aula de vez em quando.

Adoro minha mãe, não trocaria por nenhuma outra mas existe uma coisa nela que eu realmente não gosto e fico aborrecido quando tomo bronca relacionada a isso. Minha mãe é muito presa à regras e conceitos. E não entende de jeito nenhum porque eu não fui para essas 5 aulas de inglês. Então não sei se ela vai permitir a minha saída para o Garage Rock. E eu vou ficar aqui vendo TV e absorvendo cultura inútil... Mas como eu disse, adoro minha mãe. Ela é flexível e talvez deixe-me ir. Torçam por isso.

Ah! Mais uma coisa: mostrei alguns dos meus poemas/poesias a meu professor de literatura e ele disse que gostou muito. Fiquei satisfeito por receber a aprovação de um estudioso do tema. Essa foi a que ele gostou mais, acho que por ser uma poesia sobre a poesia:

Lará

Estou aqui me forçando a fazer poesia
vendo se sai alguma coisa de minha alma vazia...
Mas minha alma não é vazia, foi só pra fazer rima
Será que essa é a minha, alguma coisa, sina?

Alguma coisa pra encher a métrica
O mesmo número de síliabas poéticas
ditongo e hiato são uma sílaba só
se contar errado agora, tenha dó

Vai ficar sem rítmo definido
oscilando, ocioso, fedido
Será que esse poema obecede à regra?
não vou saber se eu contar às cegas

Contar às cegas é o que faço agora
no puro instinto, confio na memória
memória não, foi só pra essa rima
Porque é essa, alguma coisa, minha sina

lará lará lará lará lará lará larará

terça-feira, agosto 05, 2003

Palmas! Palmas! Minha festa de aniversário foi ótima. Só estou falando sobre ela agora na terça-feira mas a festa foi no sábado. Os primeiros convidados chegaram por volta das 19:30 por algum motivo nobre. A festa estava marcada para começar às 21:00. E descemos com o violão e foram chegando as pessoas... E cada vez mais pessoas. Ligou-se o aparelho de som.

A bebida estava gelada, os salgados estavam quentes, todos estavam animados se divertindo. Eu estava satisfeito. Feliz com as presenças. Não foram todas, mas quem não veio não importava muito, com exceções justas. Estavam aqui umas 50 pessoas entre família e amigos e por querer dar atenção à todos não dei muita atenção a quase ninguém. Mas festa de aniversário é assim mesmo. Eu me diverti bastante. E acho que foi a noite em que mais tomei cerveja.

Houve uma pequena discussão por causa de uma crise de ciúmes. Um carinha brigou com a namorada e achou de dizer que um outro estava olhando para ela, mas a situação foi contornada. Acho que eu fiz um bom anfitrião tratando a todos com dignidade. Mais tarde um menino passou mal e vomitou, mas isso foi muito depois e a festa já estava no fim.

Os últimos convidados partiram às 10 da manhã depois de um breve cochilo. Foi a melhor festa de aniversário que já fiz para mim mesmo. Me diverti muito e valeu muito à pena. Uma noite feliz para mim. E imaginando os presentes genéricos que acabaria recebendo escrevi esses versinhos que já estão musicados:

Lágrimas num papel

Meu violão, meus discos
E tudo mais que eu tenho aqui
E não é meu

Meu coração aos meus amigos
E nada mais que eu tenho aqui
Levo quando eu for

Comemorar a vida
Só lágrimas num papel
Pra me dizer
A quem serei fiel

Nenhuma pedra é eterna na vida
Eu quero gente nas fotografias
Junto comigo

E depois da foto batida
Os que não deixarem a pose
Levo quando eu for

Comemorar a vida
Nem lágrimas num papel
Pra me dizer
Quem será fiel

Não vou lembrar
Das pérolas lindas
Das caixas

Não vou esquecer
Dos rostos, dos gostos
Dos dias

De paz e alegria
Paz e alegria

sexta-feira, agosto 01, 2003

Agente aprende a fazer as coisas que no final das contas acabam agradando. Eu aprendi na prática a fazer suco de limão. Achei que deveria ser cortando e colocando no liquidificador, misturando água e açúcar... Depois de fazer vários sucos azedos que eu mal consegui tomar, acertei. Hoje eu faço um suco de limão agradável e não dependo de ninguém para comer de noite... É a dominação do homem sobre o ambiente. O homem pode pegar o limão, e transformar em suco com suas ferramentas.

O homem não aguenta muito peso nas costas, não suporta frio demais nem calor demais, tem os braços fracos, é vulnerável a várias doenças e ainda corre o risco de ser triste. O homem é um dos animais mais fracos da terra. A maioria dos primatas é mais forte fisicamente que o homem. Ah, mas fomos abençoados com inteligência superior para resolver problemas práticos, usar ferramentas e enganar os outros. Jogar uma pedrinha ali e ir por aqui.

E por isso dominamos os animais. Eles só tem instintos. Se o suco de limão estiver azedo ele cospe, mas não faz a menor idéia do que aquilo significa, é só um impulso. Eu me forçava a tomar meu suco azedo para não desperdiçar. Depois da inteligência superior (ou talvez antes), adquirimos consciência e mais tarde criamos a ciência da consciência. E o homem ainda corre o risco de ser triste.

Não basta manter a espécie, não basta crescer e se multiplicar, não basta ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. O homem quer tomar suco doce e ser feliz. O homem não quer só comida, quer também diversão e arte. E essa consciência me traz um medo terrível da extinção... Não a da espécie, mas da minha consciência. Se for só tudo pó e vento, quando eu morrer acaba. Acaba. Não haverá nem escuro pois não haverá noção de imagem ou cor. Não haverá noção nenhuma.

Então buscamos acreditar em profecias que dizem que vamos ter uma vida após a morte. Não que isso não seja verdade, eu já disse aqui: minha opnião não altera a realidade. Sendo verdade ou não, isso é um sustento para vivermos nossas vidas com algum objetivo real para cada um. O homem também é egoísta: não adianta nada que os filhos cresçam se você estiver morto e não puder ver com orgulho.

O homem quer sustento para o corpo e para a alma. E é essa busca pela alegria, natural do homem, que sustenta a Rede Globo, a McDonnalds, a Warner Bros e o tráfico de drogas nos morros cariocas. A tal da consciência. Mas nós não somos nada. Talvez existam outros seres capazes de ver 8 dimensões, ver e ouvir muito mais frequências de cores e sons e estamos nós numa ilusão tremenda. Já dizia Nietzche: O ser humano é para Deus assim como um sapo é para o ser humano.

segunda-feira, julho 28, 2003

Há 17 anos num quarto de hospital estava minha mãe parida, meu pai desmaiado e as luzes apagadas. Nasci no escuro, faltou luz. Se meu pai desmaiou mesmo eu não sei, mas é o que sempre me disseram e foram todos coerentes em suas versões, então é provavel que sim. Então hoje eu faço aniversário. A data cujo nome eu pronunciei mais vezes até hoje: 28 de Julho. Tá, e daí?

Mais novo eu acordava feliz... Era o meu dia e tudo mais, haveria um almoço digno, fritariam batatas... Alguns anos houve festa, noutros comemorações pequenas... Esse ano haverá festa no sábado à noite. Será a maior festa que fiz até hoje, virão umas 50 pessoas das 80 que vou convidar ou que já convidei. Meus amigos estão animadinhos...

Hoje... Acordei normalmente, fui para o colégio normalmente e fui recebido muito bem. Tem gente que realmente se lembra do seu aniversário mesmo que não fale com você o resto do ano... Cantaram parabéns na sala de aula, mas foi só para azucrinar o professor. Bons foram os abraços das pessoas que eu prezo de verdade. Há 10 pessoas fora da minha família que eu prezo de verdade. Todas me cumprimentaram, exceto uma que disse que ia me telefonar 11 horas da noite porque esse foi mais ou menos o horário do parto. Eu fico acordado por ela... Por E... Esquece...

Ligaram minhas avós, as duas, uma pseudo-prima e pseudo-tia (da mesma filiação e pseudo porque são parentes de um cara que mora aqui em casa e é conjugado à minha mãe), minha tia irmã de minha mãe veio aqui e recebi um telegrama das Óticas Ernesto. Até agora foi só isso... Mas estou satisfeito.

Aliás não estou satisfeito nem insatisfeito. Isso para mim não importa muito. Mas importa para as outras pessoas em geral, de modo que elas deveriam telefonar já que é importante para elas... Mas acordei de mal humor porque dormi mal... Aí não sei de verdade se estou triste ou só cansado, fico procurando motivos para ser triste e acabo encontrando alguns...

Mas eu tenho motivos para ser feliz também. E é o meu violão, são as 10 pessoas que eu prezo no meu antro social, meus pais e seus cônjugues, meu pequeno irmão e os abraços sinceros com que posso contar quando eu precisar...

Agora tenho 17 anos...

sábado, julho 26, 2003

Poxa, estava mesmo com saudades de ouvir Black Sabbath. Como é que pode alguém não gostar de música? Dizer assim que gosta por gostar, que tem um rádio em casa por convenção. Ouve assim, de lado, de canto enquanto faz outra coisa qualquer... Como é que pode?

Quando eu pego um CD novo eu chego em casa, tomo banho, apago as luzes, deito na minha cama e ouço o CD inteiro. Um CD para mim é uma coisa só. Um Álbum, como costumam dizer... Eu amo música. Eu acho que seria um indivíduo totalmente mórbido e atônito, eternamente entediado e deprimido se não houvesse a música para afagar o meu coração.

Não era bem sobre isso que eu queria falar nesse post. Na verdade eu não tenho nada mesmo para falar.

Conversei com uma amiga minha sobre o caso do V.A. e ela me deu razão... Isso não significa muita coisa, eu acho, porque o certo e o errado variam de pessoa para pessoa... Mas acho que no mundo visto pelos meus olhos eu estou com uma postura aceitável. Aquela questão do "faça o que estiver afim de fazer". Eu acredito nisso.

Mas tive a chance de conversar com ele. Estava triste porque eu ainda não tinha ido à casa dele desde que ele veio, que eu estava distante e não estávamos nos vendo, que tinha uma expectativa muito grande e eu não às concretizei. Nada posso fazer. Culpa e cobrança formam o pior dos pares. Expliquei para ele que minha vida mudou um pouquinho...

Que texto horrível... Depois fico me perguntando porque o tráfego diminuiu... Ah, segunda-feira é o meu aniversário... Mas a festa será no sábado que vem. Algo mais:

Travesseiro de Plumas

Basta que eu me deite
E os meus olhos se abrem
O tempo me pega e me amarra
As sombras se movem no branco

Nessa torre que me separa da noite
Entra o vento escurro e me esfria
Envolto em lençóis e cercado de grades
Deitado vejo outra noite passar

De pesadelos medonhos estou salvo
Mas também dos mais belos sonhos
Cabeça presa em plumas macias
Que não voarão nunca mais

E virá o sol, e verei
Passará o dia, e viverei
Tardes alegres, e virei
Noites vazias, e, nessas sim, dormirei

segunda-feira, julho 21, 2003

Resovi, depois de muito matutar, dar uma chance ao meu amigo e sair com ele. Abri mão de ir pro show das bandas de rock adolescentes e fui para a casa dele encontrá-lo e de lá sair com outros 2. De noite eles iriam para o show do Charlie Brown Jr. e eu não. Não mesmo. Só se fosse de graça e perto de casa. Nem um nem outro, o ingresso custava 15 reais e era na sede de práia do Esporte Clube Vitória que fica longe daqui.

Fui com ele para o Aeroclube, um shopping à céu aberto dedicado ao entretenimento, tem cinemas, bares, restaurantes, lojas de quinquilharias inúteis, sedes de blocos de carnaval e 2 lugares de shows, um deles é o Rock In Rio Café onde haveria naquela tarde o horripilante show do Os Sungas (similar a Harmonia do Samba). Rodamos um pouco pelo nefasto Aeroclube (nefasto porque é um antro de falsidades, brincos, pulseiras e saltos altos e cabelos com água oxigenada) e os meus 3 queridos amigos resolveram entrar no Rock In Rio.

Por um momento, procurando algum lugar para descansar os olhos encontrei uma garota dançando o tal do pagode soteropolitano. Meus outros sentidos se anularam, bem como tudo à volta da garota. Eu só conseguia olhar para o movimento de seus quadris ainda tímidos mexendo só de leve, guardando o melhor para quando estivesse de fato diante do palco e não na fila de entrada. Quis entrar no show por esse momento.

Só por esse momento. Meus sentidos se recobraram e pude sentir o fedor do suor de mil pessoas que saía de dentro, ouvir os instrumentos da banda e o cantor desafinado tentando cantar enquanto rebolava. Não. Eu não vou colocar meus pés e principalmente meus ouvidos aí dentro. Música ruim me dá angústia, aflição, tormento.

Meus amigos entraram. Fiquei fora, comprei uma latinha de cerveja e me sentei num dos bancos que lá há. Desejei ter ido ao show de rock e deixado-os com seu programa. Desejei ter feito o que eu queria fazer do fundo da alma... Prometi nunca mais trair meus instintos. Já havia feito essa promessa antes. Desejei perder alguns dos meus valores e não mais fazer juízo de nada. Apenas andar para frente ou para trás conforme a minha vontade... Mas isso não acontece...

Mas pela terceira vez eu decido não ir a um show de rock e ele não acontece. Uma vez a fiscalização fez parar porque o som estava muito alto. Da outra teve uma briga tão grande que os músicos desistiram de tocar. Dessa vez pegaram gente fumando maconha (o que sempre tem, mas dessa vez foram olhar). De qualquer forma só fiquei sabendo disso depois. Naquele momento, no meio do Aeroclube cheio de risadas eu continuava decepcionado.

Encontrei o pessoal de uma banda 'aliada', já haviamos ponderado fazer um show em conjunto organizando tudo autônomamente, já que convite para tocar não cai do céu. Reforçamos essa idéia com rascunhos de planos, mas acho que até agora nada há de concreto. Havia encontrado eles na noite anterior, mas não havia como falar. Só ouvir. No palco estavam Los Hermanos.

Foi o melhor show que assisti nesse ano. Talvez o melhor que já assisti em todos os anos. Com simplicidade os rapazes fazem um som espetacular. Guitarras, barbas e camisas pólo. Estava lá com minhas amizades atuais e foi muito bom. Garantiu o meu final de semana... Posso dizer que estou com o espírito de bom humor hoje, mesmo sendo segunda-feira, já não sinto tristeza alguma. Ando hoje olhando para frente sem medo de pisar na bosta.

sexta-feira, julho 18, 2003

Me sentia tão triste, sonolento e cansado pela manhã que o que tinha vontade de fazer era dormir a tarde inteira, ler mais um pedaço do Dom Casmurro, escrever para o blog, fazer minhas leituras diárias e enfim, quando a noite chegasse eu estaria descansado o suficiente para ir ao show do Los Hermanos que acontecerá hoje.

Tenho um grande amigo que tinha suas referências aqui dadas pela sigla "V.A." de "Velho Amigo". Usava as siglas para não dizer os nomes reais. Depois me dei conta que as personalidades dos meus melhores amigos já estavam muito escancaradas aqui e esse blog é para falar de mim e não dos outros e o que importam são as idéias e não as pessoas. Me desfiz das siglas.

V.A se mudou para Chapecó em Santa Catarina, muito longe de Salvador. Nos comunicamos pela internet e ainda somos bem unidos. Agora ele está aqui em seu velho apartamento com a mãe que ele deixou aqui chorosa, mas está só de passagem. Nosso reencontro foi emocionante e foi um abraço forte quando identifiquei a silhueta no escuro. Deveria ser uma grande alegria para mim tê-lo aqui. Não é.

Não é e eu nunca me senti tão envergonhado. Sempre tive jeito de dizer pra ele tudo que pensava e que sentia mesmo que fosse doer. Tanto para criticar como para elogiar. Mas tê-lo aqui não me alegra e eu não consigo descobrir porque. Gozo muito mais dos momentos com os meus novos amigos do que dos que passo com ele agora. Quando soube da sua vinda para cá comecei a vê-lo atrapalhar meus planos porque era certo, justo e óbvio que eu deveria passar meu tempo livre com ele.

E hoje eu me sentia tão triste, sonolento e cansado que queria passar a tarde inteira sozinho dentro de casa para ter energia para ir para o show à noite e era certo, justo e óbvio que deveríamos nos encontrar na casa dele para jogar RPG em que ele é viciado e não tem lá no sul. Cabia a nós, baianos, satisfazer essa nostalgia do grande amigo a quem amamos. E de amá-lo não deixei de jeito nenhum... Não entendo mesmo o que há.

E agora que prezo os ideáis de liberdade não consigo parar de me dizer para fazer o que eu estou afim de fazer e não o que é certo e justo. E é bem óbvio o que eu quero fazer. Quero ir amanhã para o show de rock underground enquanto ele quer a minha companhia para passear por onde for e não lá. Não estava com a mínima vontade de jogar RPG hoje nem em dia nenhum. Mas a minha decisão foi de ir com o meu velho amigo onde ele fosse porque ele merece...

E hoje na hora do almoço minha mãe com certa autoridade sugeriu que eu ficasse em casa, que dormisse, que lesse mais um pedaço do Dom Casmurro para ter energia para ir ao show. Eu pouco tentei convencê-la do contrário: a ordem veio a calhar. Ele pouco entendeu os motivos de minha mãe para me manter em casa e me deu pena ao ouví-lo concluir que não jogaria RPG hoje. Não sei se era porque não teria o prazer de minha companhia ou se era puramento pelo jogo. Ele não é muito moral.

Então fiquei em casa, dormi por umas 3 horas, li um pedaço do Dom Casmurro de que estou gostando muito e estou agora satisfeito com o que fiz. Não me arrependerei de não ter lutado pela minha liberdade de ir e vir porque livre fui ao ter feito o que queria... Mas porque eu não tenho tanto interesse assim em ver o meu velho amigo... Ah, isso eu não sei.

Cruzando Sinais

Vou pelas ruas cruzando sinais
Sentindo os oderes que voam no ar
Ouvindo o som urbano da massa
Os rádios do mercado informal

Vou pelo corredor de portas abertas
Palpando sabores de váriso cômodos
Sentindo os prazeres noturnos perversos
Os quartos do amor casual

Só há perdão
Se houver pecado
Só há traição
Se houver promessa

Simplesmente eu vou, nada me impede
Seja ou não o sangue todo meu na veia
Sejam os embalos furtivos ou lentos
A refração da luz na garrafa vazia

Onde quer que aponte a ponta
Mesmo que eu me vire para trás
MEsmo que o norte seja no equador
O centro do peso da ponta da bússola

Só há julgamento
Se houver dúvida
Só há crime
Se houver culpado

Onde estão os livros da verdade
Se as bibliotecas são dos homens
E qual o homem sem vaidade
Conheça a história sem os nomes

Onde está a música de amor
Se as melodias são do vento
E o vento não tem pudor
Conheça o amor sem tempo

quarta-feira, julho 16, 2003

O que há? O que há comigo? Não tenho dormido bem e uma enorme tristeza vem com a noite. Sono, olhos semi-abertos. Estou dentro de casa, limitado ao meu quarto, meus 30 CDs, uma caixinha de bombom alpino, esse computador e essas teclas que não mentem.

O que houve nesses dias? Muitas coisas. Coisas demais para que eu possa me lembrar. Horas deitado no escuro com os olhos abertos. Deitado sonhando em meia consciência. Correndo por uma avenida escura... Correndo dos ladrões. Deitado sonhando estar deitado e sendo assaltado dentro de casa. Deitado acordado tentando sonhar com qualquer coisa por mais tempo. Cada minuto demora e depois de uma jornada chega o dia. Eu vejo o relógio fazer a última alteração silenciosa das 5:59 para as 6:00 e me fazer levantar porque o barulho que ele faz é insuportável.

O caminho para o colégio é tão automático que poderia dormir andando... Lá eu encontro pessoas, distribuo sorrisos em troca de frases bem humoradas. Troco toques de mão. Pessoas. Essa coisa toda de animal social... Racional. Emocional. Carente de entretenimento. Eu me tornei um animal social... Eu sempre fui. Desde que aprendi a falar, e meus pais dizem que foi cedo.

Onde estão os meus impulsos? Longe desse quarto, desse apartamento... Em casa... Em casa me dá sono e eu durmo mal. Eu quero sair. Agora... Mas não, amanhã preciso acordar cedo e dessa vez vou ao menos tentar dormir. Sono eu tenho, mas também tinha ontem. Ontem doíam-me todos os músculos e os ossos dos dedos mindinhos das duas mãos. Bolas mal passadas. Meu dedo mindinho da mão esquerda está fraturado e não posso nem ao menos tocar violão para me acalmar.

E há 7 dias meu coração de poeta nada concluiu. Estive tentando algo condoreiro. Algo de cunho social para escrever uma música agressiva... Mas não... Eu sei é falar de mim. Eu só posso falar de mim porque só de mim posso saber... Mas o que há? O que há comigo?

sábado, julho 12, 2003

Estou novamente em aulas. Acordando às 6, andando o mesmo caminho todas as manhãs de dia de feira. Encarando a chatice dos professores chatos ainda sem se divertir com os divertidos. Anúncios de trabalhos, notas, provas, calculadoras. Traga a régua e o compasso, amanhã temos geometria... Colegas desesperados com seus resultados. Eu tranquilo com os meus... Cabelos maiores, menores. Rostos queimados de sol. Eu lá no fundo.

Sento todos os dias no canto do fundo. Já tentei variar mas não funciona. Meu lugar é ali junto com as duas paredes. Isso é tão simples e óbvio que ocupam todos os lugares ao redor mas aquele... Aquele me pertence, todos sabem disso. Todos sabem onde me encontrar, eu dificilmente estou em lugares diferentes dos costumeiros.

Encontrando os amigos que tenho na escola. O interessante é que muitos deles eu vi com frequência nas férias. Alguns estavam queimando a pele no sol do litoral ou nos fogos de artifício do interior. Eu fiquei na capital a não ser por uma breve temporada na Práia do Forte... Se procurarem Práia do Forte no Google é possível que encontrem este blog. Já houve casos com outras referências.

E é o segundo semestre do ano que está passando, para mim, muito rápido. Tenho que aproveitar meu tempo de liberdade. Ano que vem estarei, se tudo der certo (e provavelmente dará), no terceiro ano. Pré-vestibular. Estudar como um escravo para tentar passar na USP e ir para São Paulo... Se procuarem USP no Google é possível que encontrem este blog.

E cá estou eu diante da branquidão dessa tela contrastante com o breu do meu quarto. Escrevo. Já não tenho escolha. É o curso natural das coisas que me leva a deferir estas palavras, sejam elas sábias ou não...

terça-feira, julho 08, 2003

Não tenho aqui comigo uma bíblia, mas lembro-me que no Gênesis (o primeiro livro, que fala da criação, Adão, Eva e tudo mais...), nos primeiros parágrafos da bíblia se conta uma história mais ou menos assim: "No começo só havia a escuridão então Deus disse 'Que haja luz!', e então houve a luz e se diferenciaram os dias das noites." Depois Deus ordena que haja mais milhares de coisas. Interessante ham? A primeira coisa a surgir foi a luz, depois de Deus, claro.

Não. Não tem nada de interessante nisso. E nem foi a luz a primeira coisa a surgir depois de Deus, segundo a Bíblia. Cheguei à seguinte conclusão: Para que Deus tivesse dito "Que haja luz!" foi necessário que ele falasse em algum indioma qualquer. A primeira coisa a surgir foi a linguagem. A comunicação. E Deus inventou a linguagem? Ele usava para se comunicar com os outros deuses dos outros universos? O que vem antes de Deus, se Deus vem antes do tempo? Ah, mas você pode não acreditar na Bíblia.

O que é outra coisa sobre a qual estive pensando. Você pode não acreditar na Bíblia. As pessoas normalmente buscam como religião aquilo que acreditam ser justo, igual para todos. As pessoas em geral procuram acreditar num regente universal benevolente e que justiça será feita para os homens de bem.

Mas isso tudo é só a sua opnião e a sua opnião sobre a realidade não exerce influência nenhuma sobre ela. Se a bíblia estiver certa, você não tem escolha. Para alcançar a salvação você segue os mandamentos, pede perdão aos domingos e tudo mais.

Eu pensava que cada pessoa podia ter sua fé em paz, se ela acreditasse de verdade e seguisse sua crença sem hipocrisia ela estaria bem com o seu espírito e seria abençoada em outros planos de existência. Eu ainda acho que isso pode ser verdade, se o universo for justo. Mas se na verdade Alah é o único deus e Maomé seu profeta, no paraíso estão os homens bomba e nós vamos cair do penhasco. Nossa opnião não altera a verdade.

Se depois da morte nós vamos para um lugar montanhoso onde há bastante neve e as almas penadas esquiam eternamente numa atividade divertida, então apesar de essa versão da pós vida ser exdrúxula é a versão verdadeira e você não pode fazer nada. Nossa opnião não altera a verdade.

Suponha que você está errado. O mundo se enche de dúvidas. É bom ter uma opnião para, ao menos, se sustentar emocionalmente nas nossas vidas terrenas mas nossas opniões sobre assuntos meta-físicos podem ser falsas. E contra fatos não há argumentos. Nossa opnião não altera a verdade. E essa é a minha opnião. Talvez na verdade a nossa opnião altere a verdade. Nesse caso eu errei e minha opnião não alterou a verdade. Então eu acertei no fim das contas. Não é demais?

domingo, julho 06, 2003

Pouca coisa para dizer. Vou dar vazão às palavras, simplesmente. Talvez elas aconteçam. Talvez não. Estou ainda de férias, pelo menos até amanhã e nas férias os costumes se perdem. Eu escevi muito pouco, li muito pouco, até toquei pouco... Estive muito fora de casa acompanhado de amigos e amigas. Nenhum relacionamento leviano. Nenhum relacionamento sexual. Nada me incomoda nesse sentido.

Hoje, o sábado, quando eu esperava ter mais o que fazer durante a noite, fiquei em casa o dia todo. Estou em casa até agora. Não passei da porta nem para comprar jornal. O jornal veio. Eu procurei no caderno cultural algo para fazer. Achei algumas coisas interessantes que acabei dispensando por falta de companhia.

Meu dia começou bem. Eu sairia mais uma vez com os amigos para algum lugar legal onde ficaríamos simplesmente conversando e quando a noite chegasse em sua adolescência iríamos ao Calypso Heineken Station curtir o Rock'n Roll. Uma das bandas era cover de Cranberries e eu estava interessadíssimo em saber se tinha qualidade. Não fui. Meus amigos, todos, cancelaram. Tentei criar outras alternativas mas acabei ficando em casa.

Eu não sei mais sair sozinho. Isso é horrível. Claro que sair com amigos é muito melhor, mas há algum tempo atrás eu poderia sair de casa e ir me divertir mesmo que estivesse sozinho. É importante. Solidão é pra quem pode. Companhia vicia.

Vem me levar

Vem me dizer
O que eu já sei
Mas preciso ouvir

Me diz com uma cara séria
Que é pra eu prestar atenção
Tudo que eu não entendi ainda

Fala que a vida passa
E não é pra ficar só
Sentado num banco de praça

Explica que o sol nasce de manhã
Pra eu jogar fora essas cortinas
Pra eu levantar desse colchão

Me mostra que tem noite
Fora desse quarto abafado
Pra eu abrir as janelas dos olhos

Aponta a lua cheia no céu
Cercada de estrelas
Como é linda!

Me tira desse quarto
Que eu não sei bem o caminho
Me leva contigo onde for
Que eu não sei mais viver sozinho

quarta-feira, julho 02, 2003

Sinceros Versos Calados

Na madrugada silenciosa
Tenho que segurar minha voz
As pessoas dormem em seus apartamentos
E algumas merecem o meu silêncio

Minha garganta então presa
Não posso cantar que te amo
Eu queria gritar que te amo
Eu queria que você me ouvisse

Você me pega pela mão
Sem fazer muita força
Me leva onde quiser
Volta só, me deixa só

Acha qualquer outro alguém
Pra fazer outra graça
E eu estou lá no mesmo canto
Te esperando denovo

Eu queria te ver rir denovo
Da minha sensatez
Do que eu falo com bom humor
Do que eu falo que não fala de amor

Deixa comigo tuas margaridas
Eu seguro pra você poder dançar
Com quem te convém, que veio antes
Com quem tu irá e eu deixarei

E deixo contente pois irá feliz
Teu rumo longe de mim não me fere
Contanto que uma vez ou outra
Venha pegar as flores que me deixou cheirar

Madrugada ainda, não posso gritar
Chove lá fora e no meu rosto
Não está aqui para me consolar
E se estivesse não precisaria

Mas não te cobro, meu bem
Vive assim mesmo como está
Me dá só o que quiser
Porque assim está linda