quarta-feira, novembro 26, 2008
domingo, novembro 16, 2008
sábado, novembro 08, 2008
Morena
De repente, reparei que era o samba inteiro sambando só pra ver ela sambar.
E eu cheguei em casa depois do jornal.
E eu cheguei em casa depois do jornal.
terça-feira, outubro 14, 2008
Um pouco maior
Lembro de quando eu era criança e era poeta, que as minhas poesias mais tristes nunca acabavam mal. "Quando meu pé encostar no fundo do poço, saltarei para além das núvens", eu dizia. Pois é mesmo: não se pode, sem chão, saltar a lugar algum. Fazia isto porque não me apetecia mostrar fraqueza, não queria preocupar os meus pais.
Depois parei de me articular tanto e comecei a resumir um pouco mais as coisas.
Aconteceu que eu, que sempre achei que me pertenceriam fatalmente as núvens, tive um estalo e desacreditei de todos os ideais de sucesso que eu conhecia. Claro, muito claro, nenhum deles me significaria a felicidade, no máximo uma satisfação tola, enganada e efêmera. Pra quê tudo isso, afinal? Pra quê idealizar o sucesso em uma civilização tão tristemente propensa à violência, a sentimentos tão destrutivos?
Me vi esvaziar de vontades, porque nada fazia sentido alcançar. Minha insônia deixou de ser romântica para se tornar insuportável, e insones não só não dormem: tampouco ficam acordados. Minha existência, por um instante, se tornou banal, indigna de si própria. Tornou-se feia.
Ocorreu que numa noite de vigília me deparei com um trecho de Nietzsche:
E me lembrei de como fui belo quando desejava vir pra onde estou.
Na mesma noite, digamos que por coincidência, eu voltei a desejar. Já me sinto um pouco maior.
A insônia não, a insônia continua.
Depois parei de me articular tanto e comecei a resumir um pouco mais as coisas.
Aconteceu que eu, que sempre achei que me pertenceriam fatalmente as núvens, tive um estalo e desacreditei de todos os ideais de sucesso que eu conhecia. Claro, muito claro, nenhum deles me significaria a felicidade, no máximo uma satisfação tola, enganada e efêmera. Pra quê tudo isso, afinal? Pra quê idealizar o sucesso em uma civilização tão tristemente propensa à violência, a sentimentos tão destrutivos?
Me vi esvaziar de vontades, porque nada fazia sentido alcançar. Minha insônia deixou de ser romântica para se tornar insuportável, e insones não só não dormem: tampouco ficam acordados. Minha existência, por um instante, se tornou banal, indigna de si própria. Tornou-se feia.
Ocorreu que numa noite de vigília me deparei com um trecho de Nietzsche:
Pode-se considerar o embelezamento como a expressão de uma vontade vitoriosa, de uma coordenação mais intensa, de uma harmonização de todos os desejos violentos, de um infalível equilíbrio perpendicular. A simiplificação lógica e geométrica é uma consequência do aumento da força.
Na mesma noite, digamos que por coincidência, eu voltei a desejar. Já me sinto um pouco maior.
A insônia não, a insônia continua.
sexta-feira, outubro 03, 2008
sábado, setembro 13, 2008
terça-feira, setembro 02, 2008
Tarde da noite
Já tendo concluido como a felicidade é importante e fundamental, me espanta e irrita o completo descaso com que trato a minha própria. A minha preguiça de querer, o meu pessimismo crônico no que se refere aos amores delas. Sobretudo a minha falta de idéias, eu tão cheio de idéias de tantas coisas, quando preciso trazer alguém para mais perto.
Amargo dias dos mais infelizes, sofro por não ter feito dias melhores, sofro em dobro por vergonha de perder um dia mais em lamentações inúteis e improdutivas, eu que já sei dos presentes que a vida me deu e me continua dando. O pior de tudo isso, custo a me perdoar. As confissões, sejam aos ouvidos das paredes ou dos amigos, em nada me aliviam da culpa. Pelo contrário: elaboram o conhecimento de meus erros a pontos cada vez mais insuportáveis. Deste modo prefiro muitas vezes calar, sentir minhas saudades e minhas penas quieto, para sossego dos felizes, que podem fazer melhor proveito de seu tempo que ouvir minhas lamúrias imbecis e intermináveis.
Tenho medo de um dia desses desistir por completo e me aquietar infeliz, longe do que possa me lembrar que a felicidade é possível. Eu mesmo já vi de perto, já encostei com a mão. Existe. Mesmo eu, que perambulo sozinho pela noite, já vi, de mãos dadas, o sol nascer.
Mas saudade, aí assim, é ruim.
Amargo dias dos mais infelizes, sofro por não ter feito dias melhores, sofro em dobro por vergonha de perder um dia mais em lamentações inúteis e improdutivas, eu que já sei dos presentes que a vida me deu e me continua dando. O pior de tudo isso, custo a me perdoar. As confissões, sejam aos ouvidos das paredes ou dos amigos, em nada me aliviam da culpa. Pelo contrário: elaboram o conhecimento de meus erros a pontos cada vez mais insuportáveis. Deste modo prefiro muitas vezes calar, sentir minhas saudades e minhas penas quieto, para sossego dos felizes, que podem fazer melhor proveito de seu tempo que ouvir minhas lamúrias imbecis e intermináveis.
Tenho medo de um dia desses desistir por completo e me aquietar infeliz, longe do que possa me lembrar que a felicidade é possível. Eu mesmo já vi de perto, já encostei com a mão. Existe. Mesmo eu, que perambulo sozinho pela noite, já vi, de mãos dadas, o sol nascer.
Mas saudade, aí assim, é ruim.
segunda-feira, agosto 18, 2008
O belo dia de hoje
Já fui tão bobo, aprendi a ser esperto, descobri que é tão chato...
Inocente, vivi um belo dia.
Inocente, vivi um belo dia.
sexta-feira, agosto 15, 2008
sexta-feira, agosto 01, 2008
No Corredor
Nunca gostei da sensação de fechar uma porta, mas faz parte de toda escolha dizer não pra alguma coisa, pro sim de outro lado ficar completo. Eu sempre pensei em ser livre e parecia que isso significava manter todas as possibilidades; hoje em dia, tão rápido, até que dá pra espiar uma janela aqui, outra ali, e achar que andou por todos os cantos, mas essa falta de fechamento, essa caminhada em campo aberto, sem trilha e sem objetivo nenhum, dão uma angústia do diabo.
Pelo menos alguma coisa a gente tem que querer mais, muito mais, que as outras.
De repente descobrindo que coisa é essa, vem a segurança pra deixar outros caminhos de lado, pros julgamentos, tantos que sempre se ouve, passarem inofensivos.
Saber, assim, saber que coisa é essa, eu não sei. Mas eu sei, pelo menos, que não quero fazer de minha vida uma batalha, não quero estar sempre preocupado com os espertos, não quero de jeito nenhum ser violento com ninguém. Mesmo que eu às vezes fraqueje e lute com essas armas. Eu acredito que o único jeito de viver é com amor no coração, e já fico muito contente por acreditar em alguma coisa, enfim.
Pelo menos alguma coisa a gente tem que querer mais, muito mais, que as outras.
De repente descobrindo que coisa é essa, vem a segurança pra deixar outros caminhos de lado, pros julgamentos, tantos que sempre se ouve, passarem inofensivos.
Saber, assim, saber que coisa é essa, eu não sei. Mas eu sei, pelo menos, que não quero fazer de minha vida uma batalha, não quero estar sempre preocupado com os espertos, não quero de jeito nenhum ser violento com ninguém. Mesmo que eu às vezes fraqueje e lute com essas armas. Eu acredito que o único jeito de viver é com amor no coração, e já fico muito contente por acreditar em alguma coisa, enfim.
terça-feira, julho 22, 2008
quarta-feira, julho 02, 2008
Bom dia
Eis que retorno à luz do dia, toco as pedras ao meu redor e estão quentes.
Depois de uma peripécia noturna, de experimentar uma existência vampiresca, a luz do sol novamente sobre minha pele.
Não me tornou em cinzas.
Depois de uma peripécia noturna, de experimentar uma existência vampiresca, a luz do sol novamente sobre minha pele.
Não me tornou em cinzas.
domingo, junho 22, 2008
segunda-feira, junho 09, 2008
Fui eu...
Que saudade eu tenho, menina, de te amar sem sabê-lo. Quando, por nada, eu queria ser engraçadinho pra você rir, e te olhava depois de cada graça, você me olhando também, por nada. A gente curioso pra se conhecer por pedaços, histórias, mordidas, faíscas.
De repente esclarecido, me deixei te perder. Ah!
De repente esclarecido, me deixei te perder. Ah!
domingo, junho 01, 2008
Vergonha
Já passei e repasso quase todos os dias pelas mais variadas fórmulas explicativas do mundo, da psicanálise à astrologia, e por quase um segundo acredito totalmente em cada uma delas. Saber dessas fórmulas, porém, nunca me serviu para tomar sequer uma decisão que me trouxesse alegria. Quando muito me fazem sentir ridículo, instantes depois de agir segundo este ou aquele preceito.
Admiro e admito que até invejo pessoas que, me parece, têm claros os princípios que as regem. Parecem ter uma vida saudável. Talvez seja bobagem e ninguém mesmo tenha essa clareza, todos haverão de me entender então: Não consigo ter certeza de nada, tampouco duvidar completamente de coisa alguma. Não faço idéia alguma de como devo viver, não faço idéia do que me ajuda, do que me prejudica. Conheço bem dor e prazer, reconheço que a minha vida é muito boa, e morro de vergonha de ser triste.
Admiro e admito que até invejo pessoas que, me parece, têm claros os princípios que as regem. Parecem ter uma vida saudável. Talvez seja bobagem e ninguém mesmo tenha essa clareza, todos haverão de me entender então: Não consigo ter certeza de nada, tampouco duvidar completamente de coisa alguma. Não faço idéia alguma de como devo viver, não faço idéia do que me ajuda, do que me prejudica. Conheço bem dor e prazer, reconheço que a minha vida é muito boa, e morro de vergonha de ser triste.
segunda-feira, maio 12, 2008
Andei querendo dizer...
"O desejo de autenticar a si mesmo, suas motivações, seus sentimentos é uma forma de puritanismo. Não obstante a liberação de nossa sexualidade, estamos dentro da óbrita de auto-justificação, que definia o mundo do puritano. Isto acontece por uma razão específica: os sentimentos narcisistas não raro se concentram em questões obsessivas, se sou bom o bastante, se sou adequado, e assim por diante. Quando uma sociedade mobiliza tais sentimentos, quando esvazia o caráter objetivo da ação e dilata a importância dos estados emocionais subjetivos dos agentes, estas questões de auto-justificação, através de um ato simbólico, vêm sistematicamente à tona. A troca que vem ocorrendo entre preocupação pública e preocupação privada, ao mobilizar estas questões obsessivas da legitmidade do eu, tornou a despertar os mais corrosivos elementos da ética protestante, em uma cultura que já deixou de ser ser religiosa mas que tampouco está convencida de que a riqueza material é uma forma de capital moral."
(Richard Sennett em O Declínio do Homem Público)
(Richard Sennett em O Declínio do Homem Público)
domingo, maio 04, 2008
Casa
Eu agora tenho uma casa. É diferente. Tem outras pessoas, e é minha casa, e deles também. E vêm meus instintos de libertação, que não me deixam ligar a nada, e pedem pra eu correr daqui o quanto antes e encontrar o mundo inteiro de possibilidades, em pedaços de lugar, não-lugares quaisquer onde dormir, porque o que importa é estar acordado em muitos lugares diferentes, enquanto ainda há tempo, porque, é, você vai ter uma casa, hora ou outra, depois dos trinta.
Mas... Eu agora tenho uma casa e me sinto muito bem.
Mas... Eu agora tenho uma casa e me sinto muito bem.
quinta-feira, abril 17, 2008
quarta-feira, março 26, 2008
Traduções
Quando eu vou pra casa, minha casa na minha terra, fico muito tempo olhando para a estante de livros da minha mãe. Muitos livros sobre dança, movimentos, corpos em jogo, traduzidos em linhas de letras, às vezes desenhos e fotografias. Um deles se chama-se "Être Ensemble". Significa "Estar Junto", mas isto, mesmo mesmo, eu não sei o que significa.
(talvez tenha alguma coisa a ver com dançar)
(talvez tenha alguma coisa a ver com dançar)
sexta-feira, março 21, 2008
"Para desentristecer o meu coração tão só..."
Eu teria vindo escrever ontem à noite, não estivesse o céu tão bonito. E não teria sobre o que escrever, não estivesse o céu tão bonito. Agora já é diferente, mas a gente escrevendo sempre tenta recuperar alguma coisa que nos passou, e sempre já passou.
Mas eu estava lá, cantando para a lua cheia, lobo solitário, e quando eu cantei que o meu coração é o sol, a lua brilhou muito forte em mim. A lua com a luz que o sol lhe dá, facilmente o destrona em beleza. O sol nos dá as belezas das coisas, mas não pode ser por nós contemplado diretamente.
Parece até que isso é triste, mas não é, não.
Mas eu estava lá, cantando para a lua cheia, lobo solitário, e quando eu cantei que o meu coração é o sol, a lua brilhou muito forte em mim. A lua com a luz que o sol lhe dá, facilmente o destrona em beleza. O sol nos dá as belezas das coisas, mas não pode ser por nós contemplado diretamente.
Parece até que isso é triste, mas não é, não.
sábado, março 15, 2008
Reticências
Vejo as partes do mundo, as pessoas, as coisas, funcionando e formando um todo, uma unidade, e sou um. Comparando os acontecimentos das mais diferentes escalas, entre nações, pessoas, formigas, vejo que tudo não é só muito parecido, tudo é uma manifestação da mesma coisa. E mesmo assim o mundo é tão plural...
Então nós temos que viver, mesmo com a consciência de tantas coisas que existem e nós não podemos apreender, tocar, experimentar. Às vezes corremos desesperados para viver todas as coisas boas, andar por todos os cantos, fazer todas as trocas... E talvez não seja bom, esse desespero.
Porque se tudo é uno, se eu sou tudo na medida em que sou uma parte de tudo, tenho que escolher que parte é essa que eu vou ser. Porque parece, realmente, que a gente pode fazer tudo, que o mundo está muito rápido e vai dar tempo de pular de paraquedas e ver os melhores filmes e saber tudo de vinho e ter belos filhos... Mas eu sinto que é preciso escolher.
É difícil.
Então nós temos que viver, mesmo com a consciência de tantas coisas que existem e nós não podemos apreender, tocar, experimentar. Às vezes corremos desesperados para viver todas as coisas boas, andar por todos os cantos, fazer todas as trocas... E talvez não seja bom, esse desespero.
Porque se tudo é uno, se eu sou tudo na medida em que sou uma parte de tudo, tenho que escolher que parte é essa que eu vou ser. Porque parece, realmente, que a gente pode fazer tudo, que o mundo está muito rápido e vai dar tempo de pular de paraquedas e ver os melhores filmes e saber tudo de vinho e ter belos filhos... Mas eu sinto que é preciso escolher.
É difícil.
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
domingo, fevereiro 10, 2008
Dostoiévski
Eis o engodo, que ele colocou de propósito, pra trotar os camundongos:
Ao homem comum é vergonhoso chafurdar na imundice, mas um herói paira demasiado alto para ficar completamente sujo; por conseguinte, lhe é permitida a imundice.
Ah, que alívio então, né? Que bom.
Mas que é que pode-se chamar de herói?
E que é que pode-se chamar de lama?
Ao homem comum é vergonhoso chafurdar na imundice, mas um herói paira demasiado alto para ficar completamente sujo; por conseguinte, lhe é permitida a imundice.
Ah, que alívio então, né? Que bom.
Mas que é que pode-se chamar de herói?
E que é que pode-se chamar de lama?
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Café
Ar-condicionado ligado, vinte páginas de um livro, mais café, músicas só dedilhando no violão, mais uma caneca cheia, tocando e também cantando. Desligar ar-condicionado, abrir a janela e sentir o ar se misturar, primeiro com o vento batendo no rosto e os pés ainda muito frios, depois o resto, devagar, as crianças brincando lá embaixo e o terreno pronto pra começar a construção, talvez amanhã. Ver àrvores balançando e sentir certa vertigem, abrir bem os olhos, olhar para um ponto fixo e esquecer deste ponto, sentir vertigem aumentar muito.
Tudo é meio estranho, a própria casa.
Secretamente, vou tomar mais um pouco.
Ninguém sabe.
Tudo é meio estranho, a própria casa.
Secretamente, vou tomar mais um pouco.
Ninguém sabe.
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