domingo, dezembro 24, 2006

Claro

Uma noite comecei a sentir muitas coisas e quis logo pegar papel, caneta e escrever. Desde que comecei a escrever, penso que tudo é motivo, aí fico palavreando qualquer sensação, buscando metáfora em poste. Sair por aí fotografando lâmpada.

Bom ver o céu azular, depois de uma noite grande. Faz bem.

domingo, dezembro 17, 2006

Verde

3 ou 4 da manhã. Estaciono na garagem do prédio, pensando em assuntos que deveriam estar acabados, esquecidos. Eis que está no espelho do elevador um grilo verde, que vai subir comigo até o último andar.

Estou em casa agora e o grilo ficou no elevador, pra enxer de esperanças o coração do próximo boêmio que chegar.

Enquanto minha vida não mudar, acho que vou escrever ficção.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Achei!

Direita, esquerda... Numa caixa embaixo das fotografias, não. Nesta sacola, nesta gaveta, no estojo não caberiam. Where the fuck are my shoes? Têm de estar dentro do quarto, não tiveram motivo pra sair daqui na última semana, não houve ocasião. São sapatos bonitos.

Tenho um par de tênis velhos que estão furados, os dois, nos dedões dos pés. Estes eu sei onde estão. No armário. Mas não é coerente. Sonhei algumas vezes que não encontrava esses tênis velhos. Me disseram depois que o tênis, como andava comigo há muito tempo, representava a minha forma única de caminhar, em suma, o meu caminho nessa vida (e eu o estava procurando).

Será que deixei meus sapatos novos lá? Não. Tenho certeza que trouxe, botei dentro do saquinho e o saquinho dentro da mala. Que coisa!

Achei! Embaixo da cama! Que óbvio! Que absurdo!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Salvador

Ela tem razão. O tempo não existe.

Olho aqui para minha mesa, minha caneca cheia de canetas, no mesmo lugar. Eu nunca usei esta mesa para escrever, não com papel e caneta. Eu sentado no mesmo lugar, pensando nas mesmas pessoas, no que vou fazer sexta-feira. E vou provavelmente repetir alguma noite que já tive, ou é sempre a mesma noite, que volta. O ponteiro do relógio poderia bem se soltar e sair voando, fazendo linha, por aí.

Minha cidade corre o risco de ficar igual para sempre. Tenho uma memória muito boa, parece que tudo foi ontem.

domingo, novembro 26, 2006

Vinho

O vermelho-uva através do verde. Foi uma boa noite, viu? Foi. Sofrer dá em muitos prazeres. Bizarro? Tem gente dormindo, cada vez mais obscuro e difícil de entender. Se o tal acordar eu desapareço, porque eu sou só um sonho que ele tem.

Amanhã é domingo e vai fazer sol e ser bom.

domingo, novembro 12, 2006

Interferência

Não é só você que se chateia com essas coisas. Fim de semana chato, cozinhando batatas, sentado esperando coisa qualquer. Tomara que esse vinho me tire um pouco da cara - acho que vou sair, sentar em qualquer lugar e sentir o vento, mas na verdade não vou passar do portão.

Não é má idéia, ficar ali antes do portão. Quem sabe acontece alguma coisa. Uma tv ligada do outro lado da rua, deve ser alguém procurando mensagens alienígenas que vêm na interferência. Vou cantar qualquer coisa, espero não incomodar.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Inspiração

Deitei no quintal e fiquei olhando pro poste, por cima do muro. Cansado do cansaço bom, aquele que dá depois de um esforço e a recompensa é só o descanso, independente de qualquer reconhecimento. O céu já naquele azul-memória, a luz do poste acendeu e foi esquentando, aos poucos.

Achei que ia ver o céu ficar escuro, mas a noite noite mesmo é uma coisa muito pessoal. Acontece quando a gente fecha os olhos. Com minha inspiração eu dormi.

domingo, outubro 22, 2006

Hoje

As vontades duram uns décimos de segundo e passam.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Contra-intuitivo.

Umas leituras novas vão ecoando nos pensamentos. Parece que preciso simular dentro da minha lógica, uma outra maior, para compreender e depois extrapolar das linhas de argumentação lineares, sequenciais, das linhas de separação entre mente e corpo, eu e os outros.

É difícil de repente perceber a ausência de chão, de pés, de eu, de realidade, de verdade. Um dia eu duvidei do que estava vendo - e não estava vendo nenhum dragão - porque as imagens não estão lá fora, estão na minha cabeça.

Apesar de serem idéias de menos de cem anos, nós que temos vinte fomos educados com as de dois mil. Dá uma complicação de absurdos que eu ainda não consegui driblar. Estou bem no meio.

- - Update - -

Tinha acabado de publicar o texto acima, retomei minha leitura de feriadão e lá estava:
"Longe de remeter a coerências confusas ou a compromissos duvidosos, as oscilações teóricas de Bakhtin testemunham antes de mais nada a complexidade crescente de sua reflexão sobre a noção de sujeito, que s eobriga a pensar continuamente a identidade do sujeito, em relação a um campo de rupturas cujas categorias não são dadas."

Então?

segunda-feira, outubro 02, 2006

Núvens

Minha memória tem me levado pra passear. Às vezes eu penso que perdi muito tempo, às vezes o tempo não faz sentido nenhum, não sei o que veio antes, depois, se é que veio, se é que eu fiz mesmo tudo aquilo de que consigo me lembrar. Se as todas as pessoas que eu vi realmente existiram. "Eu vi" garante que algum dia eu "estava vendo"?

Nos dias de céu mais anuviado, a gente deitava no chão e ficava olhando pro topo do prédio. Parecia que o prédio estava, devagarzinho, caindo. Mas a gente não saia correndo em desespero, nem interfonava pra cima pra mandar a mãe descer. Dava vontade de fazer isso e dava medo, mas a gente sempre gostava.

Era verdade que o prédio caia, mas também o mundo caia junto. Uma queda irreversível.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Dois

Nenhum dos dois é, na medida em que os dois são. E vários terceiros virão.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Andei tendo flashbacks

Serei uma consequência inexorável do meu passado? Era como se estivesse planejando um dia do passado, hoje. Mas de lá pra cá eu fiz algumas leituras.

sábado, setembro 09, 2006

Cirque Du Soleil

Me fez chorar. Porque é perfeito e perfeição só se atinge com muito esforço e tamanho esforço só se faz com muito amor. Quisera eu amar tanto assim.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Pequena Morte

Nós pensamos na morte e em como viver. Eu ando muito procurando o que fazer com a vida, quais são os prazeres que me fazem genuinamente bem, quais impulsos devo sobrepor à razão e o contrário. Há casos.

Minha lógica e meus olhos têm limites, coisas que existem à revelia deles, sem lhes prestar satisfação. Lógica é só uma coisa que funciona dentro da sua cabeça, sem a menor obrigação de ter que funcionar no mundo.

Uma pequena morte todos os dias, escondida, no escuro ou em cima da mesa, à luz de velas no salão central. A práia é um bom lugar para ver o amanhecer. We all think about death, and then we go dancing. Psy trancing. Dancing. Psy trancing.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Sampa

Era um senhor nipônico, tinha tirado os sapatos e as meias para relaxar os pés. Estava sentado numa arquibancada de pedras que brilhavam à luz do sol das quatro da tarde. Mas essa imagem ficará apenas comigo. Porque nem o próprio senhor podia se ver e ele não me permitiu fotografá-lo.

sábado, agosto 26, 2006

Curta-Metragem

Ontem pensei na morte
e fui dançar.

terça-feira, agosto 22, 2006

domingo, agosto 13, 2006

Refluxo

Não há reclamação. É como o mundo é e é a gente tentando interpretar que tudo é mesmo escrotoe que muita gente passa por muitas situações desesperadoras. E resolve-se prestar atenção no lenço, porque o lenço é muito mais simples, mas o problema é outro, o lenço molhado, o mundo seco.

E existe de vez em quando fugir, sem porquê-não. O mundo seco molha-se, na medida em que o mundo é aquilo que é dos olhos olharem. Se soubessem todos que o olho é uma máquina, o cérebro é uma máquina, o corpo todo é uma máquina e que máquinas têm programas, instruções de como proceder em relação a como procederão.

Caminha-se em direção à satisfação do prazer não-sensorial não-nada e à extinção do Não puro. Eu bêbado enxergo muito bem. Eu, você, a vadia... Ninguém presta.

terça-feira, agosto 01, 2006

Probabilidades

Está um frio que é bom, aqui. Algumas engrenagens vão voltando a funcionar.

Presto muita atenção nas linhas gerais das coisas e descubro certos padrões que, de vez enquando gritantes, costumam ser invisíveis. Daí me disponho a afirmar que as coisas todas são entre si muito parecidas. E as pessoas todas, as vidas todas e o ontem, o hoje e o amanhã.

Terça-Feira eu estava triste e agora já me sinto muito bem comigo. Se me visse andando do outro lado da rua, diria na minha cabeça "Vai ali um bom sujeito", mas eu mesmo nunca passo do outro lado da rua. Se passasse, seria o outro lado da rua este lado da rua e não o outro lado da rua.

Mas a impressão que me dá é que as coisas, pessoas, vidas, dias não são simplesmente parecidos. São a mesma coisa. Um professor tal me apresentou a uma teoria da Física Moderna de que se um elétron tem dois lugares por onde passar pra chegar do outro lado, ele não vai escolher um dos dois e sim passar pelos dois.

Então, penso eu: as coisas todas não são várias, mas são só conjuntos de probabilidades do que A Coisa pode ser. Idem com os dias, vidas, gentes.

Mas às vezes acredito que eu mesmo e alguns outros concentramos em cada um de nós mais de uma probabilidade do que O Ser-Humano pode ser.

Um dia sou a chave, outro o cadeado, outro a corrente. E me enlouquece muito.

segunda-feira, julho 24, 2006

Dúvida

Não sei mais se Voltar é Ir ou Vir.

sábado, julho 08, 2006

Ficção

Lia a autobiografia de um poeta sueco já há uma hora, cercado de caixas de mudança. Chegara ao edifício naquele dia, primeiro edifício em que morou, antes só casas. Quando começou a desempacotar, foi a primeira coisa que apareceu, sentou-se e começou a ler. Estava na fila de leituras já há muito tempo.

O relato andava por volta dos 15 anos do poeta, de quando ele narrava a perda da sua virgindade, com uma moça chamada Anna, do colégio. A leitura é boa e neste ponto chega a ser excitante, rende ao leitor uma ereção e ele até ensaia se tocar. Mas duvida.

O tal poeta sueco é um excelente poeta, de uma verve profunda e triste, de um descrédito total na humanidade. Não parecia alguém que começou tão bem a vida sexual.

Imaginou então o autor, no pátio da escola, no momento em que as crianças abriam suas lancheiras, sentado no banquinho, ao lado da belíssima Anna:

- Na minha autobiografia, direi que trepamos.
- O quê?
- Direi, ainda, que foi muito bom.

segunda-feira, julho 03, 2006

Frase

Quando percebi o mar, da janela do avião, chorei.

quinta-feira, junho 29, 2006

Porém, eu não sei.

Não entendo. Nunca mais eu tive um sonho pra me explicar e então me vêm interrogações gigantes, de ferro, do céu, chovendo na minha cabeça, cada ponto um quilo de dúvidas. Quando caem viram de ponta cabeça e se transformam em ganchos e nele se penduram samambaias, correntes e sandálias havaianas.

Ganchos de pendurar rede. Mas não sabem que estão por demais próximos um do outro. De ferro, um quilo.

Na cidade, aqui, fica cinza e ensaia, mas na verdade não chove.

sábado, junho 24, 2006

Estranho

É estranho perceber, depois de tanto tempo. Passou tão rápido e eu já estou indo, já. Ver minha cidade da janelinha do avião. Porque agora eu não moro mais em casa, eu simplesmente não moro mais. Mas te chamo de "minha cidade".

Pois eu estava certa noite deitado no colo, no banquinho, perto dos filósofos e olhei ao meu redor e chamei o que vi de "minha universidade".

É estranho perceber, mas acho que eu estou feliz.

sábado, junho 17, 2006

Eletrodoméstico

(É, as coisas mudaram por aqui.)

Eu me lembro que pouco antes de vir pra cá meu pai me falou que morando > sozinho, eu ia descobrir quais manias eram minhas e quais eram do ambiente > onde eu morava. O que era meu, o que era da família, o que era da Bahia.

Lembro também que quando eu tava na França, o que eu mais perguntava pra minha mãe era onde achar um lugar que vendesse suco de laranja de verdade, que não fosse artificial.

Comprei um espremedor de laranjas. Meu primeiro eletrodoméstico.

sexta-feira, junho 02, 2006

Dizem com alguma dose de orgulho e tribalismo que aqui não se faz cálculo algum. É mentira. Se faz aqui muito cálculo dos gestos, dos movimentos, das palavras e até dos sorrisos. Tudo medido, não para sempre agradar, mas sempre para causar uma impressão - até pelo desagrado. Aqui se gosta de mostrar que é mais feliz, que é mais inteligente, que é mais sabido.

Igual a qualquer lugar, na verdade.

Mas todo mundo se diverte, sim. Amigos novos que se diveretem. Se usam, se utilizam da solidão de cada outro para diversões sem fim. Igual a qualquer relação humana, na verdade. Mas existe, sim, existe algo a mais. Um afeto, um... Um calorzinho, um olhar pra alguém só por gostar, estar junto só por gostar, quando diversão é consequência e não propósito.

Disso eu sinto muita falta.

E eu gosto de ir ao cinema. Quando estou no cinema parece sempre que no final do filme eu vou pegar um ônibus pra Pituba e voltar pra casa.

quinta-feira, maio 18, 2006

Não quero voltar. Quero fugir. Mas elas sempre vêm comigo.

quinta-feira, maio 04, 2006

Acho que o meu grande vício é a sensação de se arrepender.

domingo, abril 23, 2006

Vejo o quadro do casal Amolfini, pintado por Jan Van Eyck no século XV e não deixo nunca de me impressionar com a riqueza de informações, detalhes e beleza que a imagem tem. Me emociono ao imaginar o esforço meticuloso do pintor, escolhendo cada cor, calculando os ângulos, as formas, a luz e a sombra, ao longo de meses ? todo o trabalho que transformou o quadro numa obra eterna; e ao fundo, no espelho, se vê o artista conquistando a realidade. Olhando e pintando o que seus olhos viam.

Esta busca por colocar numa tela exatamente o que viam os olhos, aliada à ciência, levou alguns pintores a utilizar lentes e câmaras escuras para melhor visualizar o que deveriam pintar. Daí uma grande caminhada nos levou à fotografia. Eram as lentes da câmera as melhores imitações dos olhos que podia haver.

Julgamos que o que nossos olhos nos mostram é a realidade absoluta, mas nos esquecemos que existem numa cidade milhares de pessoas com milhares de olhos diferentes, observando as mesmas ruas. Assim, acontece que duas fotografias tiradas no mesmo local, no mesmo instante, podem ser totalmente diferentes sem que uma seja menos que a outra um registro real da luz que passou pela objetiva.

E quando um fotógrafo olha para um beco sem saída e sente no que vê angústia, porque não está olhando somente com o globo ocular, não somente luz e sombra, mas coisas invisíveis, indizíveis, como Van Eyck, o fotógrafo procura o melhor ângulo, a fotometragem perfeita, abertura do diafragma, foco, tempo de exposição e leva o negativo para o laboratório, revela, fixa, amplia três, quatro, dez vezes até conseguir mostrar o beco da maneira que ele viu, porque quer comunicar ao mundo aquela angústia e não consegue.

O que o artista sente é uma solidão.

Porque aquela visão é só dele, ele está sozinho nela e ela é um deserto imenso. E não existe frase, verso, música, desenho, escultura, pintura ou fotografia que vá comunicar, tornar inteiramente comum, uma sensação. E a gente tenta, estuda a linguagem visual, a técnica das lentes, da revelação, da arte, assim como Van Eyck dedicou anos ao estudo das técnicas de pintura, porque quer desesperadamente isto: aprender a dizer.

quinta-feira, abril 06, 2006

"Existem algumas pessoas que me fazem desejar estar em outro lugar, em outro tempo, sendo outra eu. Isso não me anima. É terrível constatar que parece que você sempre está no lugar errado, na hora errada e que se fosse diferente, você teria vivido tempos melhores e situações melhores."

Daqui


Não importando o grandioso lugar onde estou agora e as coisas incríveis que estou vivendo e aprendendo, nada impede essa sensação de acontecer. Nada me impede de sentir que não estou no lugar certo, ou que os espaços que há aqui não são meus, ou para mim. Não por eu não merecê-los, mas... Porque talvez eu deveria estar em outro lugar, fazendo outras coisas.

Toda experiência tem sua validade e seu custo. Pagas, recebes.

quarta-feira, março 29, 2006

domingo, março 26, 2006

Indie Rock. Segunda voz, terceira. Fotografo garrafa vazia e fogo. Este deixou sequelas na superfície. Não me importo, destruíram meus planos, agora haverá consequências. Insolentes donos do lugar. Locatário. Eu bebo vodka, sim, em casa, quer queira, quer não.

Aqui em Campinas há insetos enormes.

domingo, março 19, 2006

Doloroso demais quebrar ilusões. Muitos vivemos com a ilusão de que somos donos dos nossos destinos, não somos. De que tudo que acontece com nossas vidas depende excluisvamente de nossas escolhas, não é assim. Outras pessoas podem tomar decisões que vão acabar com nossos planos, talvez com nossa vida.

Mas é confortante a ilusão de que temos controle. Daí nos culpamos por tudo de ruim que nos acontece e daí podemos gozar de nossa incompetência. Mas não é minha culpa, a culpa é deles, exclusivamente deles, isto não é uma metáfora, deles que apontaram um revólver para mim.

Assalto com mão armada e levaram coisas, só coisas, ainda bem. Mas coisas que foram conquistadas com trabalho, escolhidas com carinho por minha mãe para mim. Coisas que fizeram o caminho de Salvador até Campinas para serem utilizadas por ladrões.

O mundo se tornou um lugar pior.

quarta-feira, março 15, 2006

Estou aqui, bem longe. Muitas cabeças nas idéias.

É dado a mim desconhecer. Não é? Me engana, então. Tenta. Vamos procurar pessoas bobas e então nos sentiremos bem e orgulhosos de nossa inteligência extraordinária. Sentir-nos-emos bem. Mas parece que aqui todo mundo é muito esperto e sabe muitas coisas. Parece pra mim que não sei nada.

Li uma vez que quanto mais conhecimento se tem sobre certo assunto, mais noção se adquire da própria ignorância sobre este. Aplicando-se isto a qualquer coisa.

Eu sinto frio e curiosidade aqui nesta terra. Às vezes cansaço.

sábado, fevereiro 25, 2006

"O lar do passarinho é o ar e não o ninho."

É o fim de um dia. É mais. É o fim de um tempo. Os meus olhos sobre tudo aqui, que eu conheço, os meus olhos vão encontrar novidades e estão ansiosos.

Os meus olhos choram um pouquinho.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Algo que não conheço e irremediável. Uma falta, uma infelicidade. Sinto-me diminuído, advinhe. Sim, será tudo grandioso por lá, mas e daí? Não é isso que eu estou procurando nesta empreitada.

Duvido e desconfio de quase toda saudade, de quase todo elogio, desconfio que flutuei a vida inteira, não tendo nunca deixado uma marca sequer no chão, sequer uma pegada que alguém venha depois a investigar.

Não existe vida nova. Cada sujeito recebe uma única vida; rupturas e mudanças são pontos de continuação, paixões são versos em prosa poética. Traço o meu parágrafo com estilo pós-moderno, ou árcade, ou barroco, ou romântico, ou realista.

É inútil viver. Mas e daí?

domingo, janeiro 29, 2006

Imagens, sons, gestos e palavras são só tentativas.

Sinto uma coisa na carne das mãos, ela sabe contrair e relaxar mais ou menos de acordo com o que me passa pela cabeça, pela alma em todos os seus níveis. Não existe tradução, nada será dito da mesma forma em uma linguagem. Não existe comunicação, nenhuma idéia jamais será comum, comum, comunicada. A palavra jamais será a coisa. Coisas não têm como se dizer.

Têm massa, volume, cor, forma, cheiro, gosto, textura, preço; não têm uma palavra que as diga.

Precisamos de frases, às vezes várias, para explicar o que uma palavra quer dizer. Colocamos uma pedra entre o indicador e o polegar e dizemos "Isto é uma pedra.", mas certas coisas não cabem entre os dedos, certas coisas não podemos tocar, desenhar, cantar ou fazer mímica. São só tentativas, advinhe o que eu quero dizer. Advinhe o que eu estou sentindo hoje.

É urgente tentar. É essencial, é necessário, uma vez que passou a existir. Eu não consigo, eu não posso parar.

sábado, janeiro 21, 2006

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Sei que não há por aqui quase ninguém conhecido, que a chance de alguém me dizer "Olá", por essas bandas, a essa hora, é muito pequena. Isto me dá um tipo estranho de conforto. Não tenho, por ora, o desejo de ser visto ou observado.

Tenho o desejo de andar anônimo por esta cidade enorme, de andar por lugares que não conheço. "Por aqui as ruas têm nomes de pássaros." Sei que estou perto, aviões voando baixo. A sensação é a de que posso tocá-los com a ponta dos meus dedos, mas não levanto a mão, porque ouvi dizer que os aviões carregam muita energia eletrostática.

Devo ter caminhado duas léguas sem dizer uma palavra. Poucas coisas dentro da minha cabeça. Só os sentidos examinando e percebendo o que há nesta cidade. Ninguém estende a mão para me tocar, devem pensar que carrego muita energia eletrostática.