quinta-feira, julho 29, 2004

Bem que a madam disse, meninas são idiotas antes dos 30. São mesmo. Ela soltou minha mão porque estavam fazendo gracinhas na sala. Eu precisei de um tempo para engolir, processar e entender. O que faz a opinião das pessoas ser tão importante só por elas estarem ao redor? E não eram nem opiniões sérias...

Eu ainda espero que as pessoas que eu admiro pensem um pouquinho como eu, que tenham pensamento independente e saibam desprezar o que não merece atenção, se divertir, falar sério, ficar em silêncio... Ainda fico catatônico com as feições bonitas e seus movimentos sempre graciosos, ainda fico esperando que saia algum som genial ao abrir dos lábios. Espero que sejam livres, mas acabo me decepcionando.

Às vezes me contento em ficar olhando de longe, vendo a poesia nos cabelos, nos olhos, no sorriso e até na lágrima. Me alegra. Quando as ouço falar, normalmente se destrói. Às vezes não, então, mais um sopro.

segunda-feira, julho 26, 2004

Meu aniversário será um dia comum. Vou acordar, olhar pro céu esperando que esteja azul, tentar advinhar se estará chovendo dentro de 30 minutos, me expreguiçar, amaldiçoar o despertador e levantar. Dou algumas voltas pelo quarto pensando se vale a pena. Vale. Me jogo no chuveiro frio, é um choque e tanto. A água nunca esteve tão gelada quanto está agora. Salvador nunca esteve tão fria em toda a minha vida.

Toda a minha vida completará 18 anos. Os homens convencionaram em suas leis que uma pessoa que já viveu 18 anos está preparada. É o fim do treinamento, agora já está preparada para as dores do mundo, o estatuto da criança e do adolescente não te protege mais, você vai carregar pedra para se sustentar, é um adulto responsável por seus atos. Homens estúpidos.

Depois de toda essa filosofia, eu chego no colégio. Vou receber os parabéns de muita gente para quem eu não estou nem aí, algumas pessoas para quem eu ligo não vão nem falar nada. Eu não me importo com convenções, não sei nem se vou festejar oficialmente. Contanto que eu não perca meus costumes sabáticos e dominicais e que a vida continue valendo, vou aniversariar por muitos anos.

sexta-feira, julho 16, 2004

Estou em Juazeiro e mais uma vez, não há ninguém na cidade. É noite. Juazeiro é muito bonita, parece uma cidade da antiguidade. Tem uma arquitetura peculiar: uma mistura da arte celta com a maia ou inca. As formas são bem definidas e azuis e há esculturas e decorações douradas sobre elas. Eu penso: "Juazeiro não é tão acabada quanto disseram, imaino como deve ser Petrolina..."
 
Passo pelo portão da cidade.
Foi um sonho. O terceiro de uma série de sonhos em que me encontro sozinho. O primeiro foi na Grécia antiga, também vazia, o terceiro se passou numa estalagem abandonada: eu estava sendo perseguido e me escondi lá até a poeira baixar. Não havia ninguém. O que são esses sonhos?
Solidão?

Sensação de estar explorando um terreno onde não há ninguém? De ter que seguir meu caminho sozinho?

De que já estou só em meus pensamentos, dúvidas, desejos...?

segunda-feira, julho 12, 2004

As sombras passam rápido pelos meus olhos, eu acompanho quieto, calmo, silêncio total. Eles nem fazem idéia de que eu estou aqui a espreitar... É uma grande selva e eu sou um predador rápido e feroz. Escolhendo cuidadosamente o alce que sofrerá o ataque fatal na jugular e do qual me alimentarei durante o inverno.

É difícil, no calor do momento, com toda a pressão do apetite, da barriga vazia... Há vários fatores decisivos, mas vou pelo melhor sabor da carne. Algumas sensações são incomparáveis. Me dão forças para caçar mais e melhor do que se eu tiver um bizão gordo e lerdo onde me refastelar o ano inteiro.

Cheogua hora de afiar as garras para o golpe final do embate. Não vou falhar. Sou um predador rápido, feroz: implacável.

terça-feira, julho 06, 2004

Não havia nada que pudéssemos fazer, ele ainda está lá caído no chão os braços abertos, olhando para o céu. Nada ao redor faz sentido, só ele e o sol. Um grito angustiado, um pedido de energia para a longa caminhada, para longe desses muros.

Aconteceu tudo muito rápido, não deu tempo. Um fim de semana, um par de segundos. Eu queria ficar mais na práia, mas não pude: as obrigações não deixam. Eu não teria como sustentar.

Agora venho envelhecer de segunda a sexta-feira, carregando pedras para construir a minha lápide, voltando para buscar mais. Caio no chão com os braços abertos e peço ao sol um pouco mais de sua generosidade.

Não há nada que vocês possam fazer.