domingo, fevereiro 20, 2005

Lá do fundo da sala de aula, onde eu me sentava pela manhã, começava a organizar a noite: passava um papelzinho pra lá, cutucava um ali e estava arranjado. Não é verdade, mas já disseram por aí que era só por isso que eu ia pro colégio dia de sexta-feira, para combinar o encontro no bar, à noite. De vez em quando aparecia mais gente, mas o time base nunca mudava, eu e alguns dos meus amigos mais chegados. Começou com o Titanic, mas o serviço ficou ruim e a bebida cara, então mudamos para o bar que nós mesmos apelidamos de Olivas, porque oferecia um prato de azeitonas assim que sentávamos à mesa - e foi assim que passei a apreciar azeitonas.

Se repetiu muitas vezes, o nosso encontro. É uma coisa dos tempos de colégio, terminados no fim do ano passado, de que vou sentir muita falta. Eu sei que voltarei a dividir uma mesa de bar com as mesmas pessoas algum dia, até mais que uma vez, mas nunca mais será a mesma coisa. Alguma sensação gostosa que passava sutilmente por todos nós, uma coisa etérea, não sei explicar, alguma coisa se foi. Sentar numa mesa de bar não será tão bom, não será igual, nunca mais.

Eu já tinha ido dormir e acordei pensando nisso, sentindo essa nostalgia misturada com a vontade de escrever que dá nas mãos. É noite de domingo, amanhã vou acordar cedo e cuidar da vida, começará mais uma semana. A melhor coisa que tenho são os meus amigos, é com eles que crio minhas melhores recordações, isso é viver.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Meu cabelo cresce. Eu nunca tinha pensado, perguntado, ouvido falar ou lido sobre isso, então me ocorreu duvidar se eles crescem apartir das pontas ou das raízes. Numa fração de segundo menor que o átimo, me veio e me fui à resposta através de vários raciocínios. Imaginei os primeiros capilólogos realizando experimentos, me lembrei de conversas antigas sobre cosméticos, shampoos, condicionadores, antifrizz... De fato, cresce o cabelo apartir da raiz.

Importância qualquer, isso aí acima não tem. Estou em Brasília, deitava-me na rede (há aqui uma rede, pois estou em apartamento de baianos, como eu) e pensava em inúmeras coisas. Tentava advinhar algum final para o livro que estou lendo, outro romance português, calculava mentalmente quantas questões a mais teria que ter acertado para que o resultado do meu vestibular Unicamp tivesse sido positivo, ao contrario do que foi na verdade, pensava nesta cidade estranha em que estou.

Sim, Brasília é uma cidade estranha. Imagino, enquanto ando pelas ruas - sempre com o tráfego fluente - que esta cidade foi totalmente inventada. Não surgiu de maneira natural. Não veio aqui um homem, achou que seria um bom lugar para viver e montou uma casinha, não vieram depois outras famílias e montaram outras casinhas, não veio depois um comerciante explorar o novo nicho. Veio um político excêntrico, resolveu que aqui seria a capital do Brasil e construiu tudo de uma vez.

Meu cabelo cresce apartir da raiz. Brasília é uma peruca.