sexta-feira, janeiro 28, 2005

Fui ver a beleza e harmonia implantadas, artifiais, mas que, porém, me agradam os olhos que não sabem de nada disso, das praças do centro da cidade, encontrar uns meus amigos e sentar para falar qualquer coisa interessante ou divertida, descer a ladeira para ver o mar, com sua paciência inebriante, que me fascina, e não falar nada por um tempo. O barulho das ondas é sincronia pura, é perfeito, é quase um silêncio.

Fui ver essas coisas, mas vi crescer, agigantar-se e avolumar-se diante dos meus olhos a feiúra medonha e nauseabunda dos palanques do carnaval. Arquibancadas, camarotes, vigas de ferro, tapume, grades e toda a separação, todo o apartheid que isso, e que o carnaval, representa. E de cada lado da rua uma marcação, para o turista não se perder, centrais de informação com ar-condicionado e tudo sendo pintado com cores vivas e muito mau gosto.

Mesmo assim eu consegui ter uma noite ótima e cheia de beleza, de fluência, de sincronidade. Vimos o nascer do sol, mesmo sem ver o sol nascer, estávamos do outro lado do céu. Lindas tonalidades de azul surgindo e se modificando conforme os minutos passavam. Acho que foi a noite mais rápida da minha vida. Quando tudo flui, o tempo perde a marcação e a gente nem sabe mais a diferença exata entre dois passados.

E o mar desdenha de tudo, continua seu movimento indiferente às nuances de minha emoção. O mar que já viu tantos carnavais.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Os dedos batem com certeza no teclado. São os dedos que têm certeza, não é a mente. A mente não tem mais certeza de nada. A solidão em que me encontro, solidão de amigos, não de família - os amigos, não vejo desde o dia primeiro, quase nenhum, a família tenho visto sempre - a solidão em que me encontro e o livro que terminei hoje de ler, um capítulo, um copo d'água, um capítulo, outro copo d'água, outro capítulo, uma ida ao banheiro e outro copo d'água, o último capítulo, me fazem beirar algum tipo de loucura.

Ando lendo os números trocados. Li duas vezes o parágrafo onde havia "vinte e sete meses comendo a mesma merda" e li "vinte e seis". Duas vezes. Os números trocados ocorreram em número maior de oportunidades, no relógio. As confusões faziam parecer que o tempo estava andando pra trás. Quando comecei esse capítulo eram 2:20, agora, que começo este, são 2:14... Confusões assim. Será a loucura?

E eu, sozinho, no balcão do bar do Instituto Goethe, porque chovia muito e eu não podia ir pra casa naquelas condições, comendo chucrute, tomando a cerveja que esquentava na garrafa, pois eu não podia bebê-la toda enquanto ainda estava gelada, por uma questão física, eu pensava em várias coisas, olhava os anúncios, ouvia trechos de conversas das pessoas, olhava para a vela cheirosa - porque o bar tinha estilo e velas cheirosas, e eu jantava chucrute à luz de velas, sozinho.

Mas os dedos não erram, e quando erram, reconhecem e corrigem sozinhos, sem o auxílio dos olhos.

terça-feira, janeiro 11, 2005

É inevitável estar o tempo todo pensando em frases, às vezes versos. Assumi que escrevo, é uma das coisas que faço, apesar de não me considerar ainda um escritor e nem que eu escreva tão bem quanto já ouvi em elogios aos quais nunca sei reagir direito. Penso, apenas, o tempo todo, em frases bonitas, bem estruturadas e com ambigüidades propositais, histórias alegóricas, imagem de um dia perfeito em pote de margarina, comparações entre palhaços e poetas.

Então eu estava deitado na rede, olhando o mar e pensando em algo a dizer sobre a linha do horizonte, porque eu conseguia vê-la quase inteira, eu estava numa ilha sem grandes construções humanas, mas de grande requinte na arquitetura natural. Eu voltaria para a cidade do Salvador naquela mesma tarde, balançava-me preguiçoso e já um pouco nostálgico quando meu pai me chamou, insistiu e me convenceu a dar um último mergulho.

Lá eu só andava descalço. No caminho para a práia, furei o dedão do pé esquerdo numa farpa de madeira, poucos passos depois, uma pedra tirou uma fatia da sola do mesmo pé, com algum sangue de quebra. Ainda não acabou: pertinho da práia, tropecei (com o pé esquerdo, lógico), não caí porque me apoiei com o braço, acabando por ferí-lo um pouco.

Com todas as avarias, entrei no mar. O sal da água me fez arder as feridas, o impulso do reflexo nervoso era de voltar para a areia, mas felizmente a consciência foi mais forte e pude resistir. Não me arrependo de nada.

sábado, janeiro 08, 2005

Ainda não botei nenhum de meus velhos CDs nem abri o winamp para ouvir Mp3. Já não tenho a necessidade viciosa de estar ouvindo música o tempo todo, o silêncio é bom. Alguns costumes mudaram. Eu, hoje, acordei cedo, terminei de ler meu livro... Se aprende algumas coisas passando 6 dias a menos de 100 metros do mar, com uma práia quase deserta à sua disposição.

Em Morro de São Paulo, se vê o céu inteiro. Toda a circunferência do horizonte. Os olhos se reacostumam às cores. Azul, verde, areia... Tudo é muito intenso. As pessoas parecem ter sido tiradas de um livro, todos têm alguma história pra contar. Tudo é fotografável, todas as visões são bonitas, mesmo que estejam desgastadas. Há cavalos a galope pela práia, todo o transporte é feito por tratores o gipes, numa única rua que passa por dentro da ilha. É perfeito.

A volta pra casa foi um pouco chocante. De repente, os tons cinza e pastel da cidade. Prédios, carros, asfalto, barulho, muito barulho, televisão, buzina...

Vestibular amanhã.

domingo, janeiro 02, 2005

Ocean Trip

Estou indo pra Morro de São Paulo, que na verdade fica aqui na Bahia mesmo (apesar de ser infestado de paulistas... E de argentinos).

I'll be back in about a week.