segunda-feira, maio 12, 2008

Andei querendo dizer...

"O desejo de autenticar a si mesmo, suas motivações, seus sentimentos é uma forma de puritanismo. Não obstante a liberação de nossa sexualidade, estamos dentro da óbrita de auto-justificação, que definia o mundo do puritano. Isto acontece por uma razão específica: os sentimentos narcisistas não raro se concentram em questões obsessivas, se sou bom o bastante, se sou adequado, e assim por diante. Quando uma sociedade mobiliza tais sentimentos, quando esvazia o caráter objetivo da ação e dilata a importância dos estados emocionais subjetivos dos agentes, estas questões de auto-justificação, através de um ato simbólico, vêm sistematicamente à tona. A troca que vem ocorrendo entre preocupação pública e preocupação privada, ao mobilizar estas questões obsessivas da legitmidade do eu, tornou a despertar os mais corrosivos elementos da ética protestante, em uma cultura que já deixou de ser ser religiosa mas que tampouco está convencida de que a riqueza material é uma forma de capital moral."

(Richard Sennett em O Declínio do Homem Público)

domingo, maio 04, 2008

Casa

Eu agora tenho uma casa. É diferente. Tem outras pessoas, e é minha casa, e deles também. E vêm meus instintos de libertação, que não me deixam ligar a nada, e pedem pra eu correr daqui o quanto antes e encontrar o mundo inteiro de possibilidades, em pedaços de lugar, não-lugares quaisquer onde dormir, porque o que importa é estar acordado em muitos lugares diferentes, enquanto ainda há tempo, porque, é, você vai ter uma casa, hora ou outra, depois dos trinta.

Mas... Eu agora tenho uma casa e me sinto muito bem.