quarta-feira, agosto 10, 2005

Atravessava a rua e vi no asfalto uma moeda. Peguei-a, bem velha e desgastada, 5 centavos, fora cunhada em 1997. 8 anos atrás. Eu tinha poucas preocupações, poucos amigos, ainda não tinha me interessado de verdade por mulher nenhuma. Quando criança eu fui de fato criança. Brincava com bola, fantasias, coisas inventadas, miniaturas e filmes ruins. Não gostava quando chegavam os meninos grandes com suas brincadeiras tacanhas de maltratar, suas histórias pornográficas mentirosas e seus métodos de conquista baratos. Cresci e continuei não gostando.

Joguei a moeda para cima, agarrei-a no ar e me vi Brás Cubas dizendo "É minha!". Mas não disse nada, porque eu não sei se é minha. Estou suspenso. Não aprendi em criança como se faz esses joguetes, cresci e continuei sem saber. Um sorriso ingênuo e franco, apenas. Em 1997 eu não precisava saber tantas coisas para ser feliz. Agora eu tenho hipóteses. As melhores e as piores me vêm à imaginação como caem as pétalas de uma flor, naquela brincadeira de advinhar os dias que virão, e parecem todas concretas no momento em que são advinhadas. Flores podem ter um número par ou ímpar de pétalas, isso fará toda a diferença.

Não posso ter tempo de pensar na proposta, na promessa que fiz, ora sábia, ora estúpida, mas que vou cumprir. Disseram-me então que eu não pensasse mais nessas coisas maravilhosas da vida. Que eu as esquecesse e me transformasse num objetivo, em detrimento do homem. Uma flecha sem mãos, olhos, nariz, boca: tudo que uma flecha tem é o seu alvo. Disseram-me que eu fosse uma flecha.

Não sou uma flecha. Sou um homem. A moeda voltará à circulação. Continuo suspenso. Aguardo. Estas são cenas para a próxima semana.

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