Fui ver a beleza e harmonia implantadas, artifiais, mas que, porém, me agradam os olhos que não sabem de nada disso, das praças do centro da cidade, encontrar uns meus amigos e sentar para falar qualquer coisa interessante ou divertida, descer a ladeira para ver o mar, com sua paciência inebriante, que me fascina, e não falar nada por um tempo. O barulho das ondas é sincronia pura, é perfeito, é quase um silêncio.
Fui ver essas coisas, mas vi crescer, agigantar-se e avolumar-se diante dos meus olhos a feiúra medonha e nauseabunda dos palanques do carnaval. Arquibancadas, camarotes, vigas de ferro, tapume, grades e toda a separação, todo o apartheid que isso, e que o carnaval, representa. E de cada lado da rua uma marcação, para o turista não se perder, centrais de informação com ar-condicionado e tudo sendo pintado com cores vivas e muito mau gosto.
Mesmo assim eu consegui ter uma noite ótima e cheia de beleza, de fluência, de sincronidade. Vimos o nascer do sol, mesmo sem ver o sol nascer, estávamos do outro lado do céu. Lindas tonalidades de azul surgindo e se modificando conforme os minutos passavam. Acho que foi a noite mais rápida da minha vida. Quando tudo flui, o tempo perde a marcação e a gente nem sabe mais a diferença exata entre dois passados.
E o mar desdenha de tudo, continua seu movimento indiferente às nuances de minha emoção. O mar que já viu tantos carnavais.
sexta-feira, janeiro 28, 2005
sexta-feira, janeiro 14, 2005
Os dedos batem com certeza no teclado. São os dedos que têm certeza, não é a mente. A mente não tem mais certeza de nada. A solidão em que me encontro, solidão de amigos, não de família - os amigos, não vejo desde o dia primeiro, quase nenhum, a família tenho visto sempre - a solidão em que me encontro e o livro que terminei hoje de ler, um capítulo, um copo d'água, um capítulo, outro copo d'água, outro capítulo, uma ida ao banheiro e outro copo d'água, o último capítulo, me fazem beirar algum tipo de loucura.
Ando lendo os números trocados. Li duas vezes o parágrafo onde havia "vinte e sete meses comendo a mesma merda" e li "vinte e seis". Duas vezes. Os números trocados ocorreram em número maior de oportunidades, no relógio. As confusões faziam parecer que o tempo estava andando pra trás. Quando comecei esse capítulo eram 2:20, agora, que começo este, são 2:14... Confusões assim. Será a loucura?
E eu, sozinho, no balcão do bar do Instituto Goethe, porque chovia muito e eu não podia ir pra casa naquelas condições, comendo chucrute, tomando a cerveja que esquentava na garrafa, pois eu não podia bebê-la toda enquanto ainda estava gelada, por uma questão física, eu pensava em várias coisas, olhava os anúncios, ouvia trechos de conversas das pessoas, olhava para a vela cheirosa - porque o bar tinha estilo e velas cheirosas, e eu jantava chucrute à luz de velas, sozinho.
Mas os dedos não erram, e quando erram, reconhecem e corrigem sozinhos, sem o auxílio dos olhos.
Ando lendo os números trocados. Li duas vezes o parágrafo onde havia "vinte e sete meses comendo a mesma merda" e li "vinte e seis". Duas vezes. Os números trocados ocorreram em número maior de oportunidades, no relógio. As confusões faziam parecer que o tempo estava andando pra trás. Quando comecei esse capítulo eram 2:20, agora, que começo este, são 2:14... Confusões assim. Será a loucura?
E eu, sozinho, no balcão do bar do Instituto Goethe, porque chovia muito e eu não podia ir pra casa naquelas condições, comendo chucrute, tomando a cerveja que esquentava na garrafa, pois eu não podia bebê-la toda enquanto ainda estava gelada, por uma questão física, eu pensava em várias coisas, olhava os anúncios, ouvia trechos de conversas das pessoas, olhava para a vela cheirosa - porque o bar tinha estilo e velas cheirosas, e eu jantava chucrute à luz de velas, sozinho.
Mas os dedos não erram, e quando erram, reconhecem e corrigem sozinhos, sem o auxílio dos olhos.
terça-feira, janeiro 11, 2005
É inevitável estar o tempo todo pensando em frases, às vezes versos. Assumi que escrevo, é uma das coisas que faço, apesar de não me considerar ainda um escritor e nem que eu escreva tão bem quanto já ouvi em elogios aos quais nunca sei reagir direito. Penso, apenas, o tempo todo, em frases bonitas, bem estruturadas e com ambigüidades propositais, histórias alegóricas, imagem de um dia perfeito em pote de margarina, comparações entre palhaços e poetas.
Então eu estava deitado na rede, olhando o mar e pensando em algo a dizer sobre a linha do horizonte, porque eu conseguia vê-la quase inteira, eu estava numa ilha sem grandes construções humanas, mas de grande requinte na arquitetura natural. Eu voltaria para a cidade do Salvador naquela mesma tarde, balançava-me preguiçoso e já um pouco nostálgico quando meu pai me chamou, insistiu e me convenceu a dar um último mergulho.
Lá eu só andava descalço. No caminho para a práia, furei o dedão do pé esquerdo numa farpa de madeira, poucos passos depois, uma pedra tirou uma fatia da sola do mesmo pé, com algum sangue de quebra. Ainda não acabou: pertinho da práia, tropecei (com o pé esquerdo, lógico), não caí porque me apoiei com o braço, acabando por ferí-lo um pouco.
Com todas as avarias, entrei no mar. O sal da água me fez arder as feridas, o impulso do reflexo nervoso era de voltar para a areia, mas felizmente a consciência foi mais forte e pude resistir. Não me arrependo de nada.
Então eu estava deitado na rede, olhando o mar e pensando em algo a dizer sobre a linha do horizonte, porque eu conseguia vê-la quase inteira, eu estava numa ilha sem grandes construções humanas, mas de grande requinte na arquitetura natural. Eu voltaria para a cidade do Salvador naquela mesma tarde, balançava-me preguiçoso e já um pouco nostálgico quando meu pai me chamou, insistiu e me convenceu a dar um último mergulho.
Lá eu só andava descalço. No caminho para a práia, furei o dedão do pé esquerdo numa farpa de madeira, poucos passos depois, uma pedra tirou uma fatia da sola do mesmo pé, com algum sangue de quebra. Ainda não acabou: pertinho da práia, tropecei (com o pé esquerdo, lógico), não caí porque me apoiei com o braço, acabando por ferí-lo um pouco.
Com todas as avarias, entrei no mar. O sal da água me fez arder as feridas, o impulso do reflexo nervoso era de voltar para a areia, mas felizmente a consciência foi mais forte e pude resistir. Não me arrependo de nada.
sábado, janeiro 08, 2005
Ainda não botei nenhum de meus velhos CDs nem abri o winamp para ouvir Mp3. Já não tenho a necessidade viciosa de estar ouvindo música o tempo todo, o silêncio é bom. Alguns costumes mudaram. Eu, hoje, acordei cedo, terminei de ler meu livro... Se aprende algumas coisas passando 6 dias a menos de 100 metros do mar, com uma práia quase deserta à sua disposição.
Em Morro de São Paulo, se vê o céu inteiro. Toda a circunferência do horizonte. Os olhos se reacostumam às cores. Azul, verde, areia... Tudo é muito intenso. As pessoas parecem ter sido tiradas de um livro, todos têm alguma história pra contar. Tudo é fotografável, todas as visões são bonitas, mesmo que estejam desgastadas. Há cavalos a galope pela práia, todo o transporte é feito por tratores o gipes, numa única rua que passa por dentro da ilha. É perfeito.
A volta pra casa foi um pouco chocante. De repente, os tons cinza e pastel da cidade. Prédios, carros, asfalto, barulho, muito barulho, televisão, buzina...
Vestibular amanhã.
Em Morro de São Paulo, se vê o céu inteiro. Toda a circunferência do horizonte. Os olhos se reacostumam às cores. Azul, verde, areia... Tudo é muito intenso. As pessoas parecem ter sido tiradas de um livro, todos têm alguma história pra contar. Tudo é fotografável, todas as visões são bonitas, mesmo que estejam desgastadas. Há cavalos a galope pela práia, todo o transporte é feito por tratores o gipes, numa única rua que passa por dentro da ilha. É perfeito.
A volta pra casa foi um pouco chocante. De repente, os tons cinza e pastel da cidade. Prédios, carros, asfalto, barulho, muito barulho, televisão, buzina...
Vestibular amanhã.
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