sexta-feira, julho 18, 2003

Me sentia tão triste, sonolento e cansado pela manhã que o que tinha vontade de fazer era dormir a tarde inteira, ler mais um pedaço do Dom Casmurro, escrever para o blog, fazer minhas leituras diárias e enfim, quando a noite chegasse eu estaria descansado o suficiente para ir ao show do Los Hermanos que acontecerá hoje.

Tenho um grande amigo que tinha suas referências aqui dadas pela sigla "V.A." de "Velho Amigo". Usava as siglas para não dizer os nomes reais. Depois me dei conta que as personalidades dos meus melhores amigos já estavam muito escancaradas aqui e esse blog é para falar de mim e não dos outros e o que importam são as idéias e não as pessoas. Me desfiz das siglas.

V.A se mudou para Chapecó em Santa Catarina, muito longe de Salvador. Nos comunicamos pela internet e ainda somos bem unidos. Agora ele está aqui em seu velho apartamento com a mãe que ele deixou aqui chorosa, mas está só de passagem. Nosso reencontro foi emocionante e foi um abraço forte quando identifiquei a silhueta no escuro. Deveria ser uma grande alegria para mim tê-lo aqui. Não é.

Não é e eu nunca me senti tão envergonhado. Sempre tive jeito de dizer pra ele tudo que pensava e que sentia mesmo que fosse doer. Tanto para criticar como para elogiar. Mas tê-lo aqui não me alegra e eu não consigo descobrir porque. Gozo muito mais dos momentos com os meus novos amigos do que dos que passo com ele agora. Quando soube da sua vinda para cá comecei a vê-lo atrapalhar meus planos porque era certo, justo e óbvio que eu deveria passar meu tempo livre com ele.

E hoje eu me sentia tão triste, sonolento e cansado que queria passar a tarde inteira sozinho dentro de casa para ter energia para ir para o show à noite e era certo, justo e óbvio que deveríamos nos encontrar na casa dele para jogar RPG em que ele é viciado e não tem lá no sul. Cabia a nós, baianos, satisfazer essa nostalgia do grande amigo a quem amamos. E de amá-lo não deixei de jeito nenhum... Não entendo mesmo o que há.

E agora que prezo os ideáis de liberdade não consigo parar de me dizer para fazer o que eu estou afim de fazer e não o que é certo e justo. E é bem óbvio o que eu quero fazer. Quero ir amanhã para o show de rock underground enquanto ele quer a minha companhia para passear por onde for e não lá. Não estava com a mínima vontade de jogar RPG hoje nem em dia nenhum. Mas a minha decisão foi de ir com o meu velho amigo onde ele fosse porque ele merece...

E hoje na hora do almoço minha mãe com certa autoridade sugeriu que eu ficasse em casa, que dormisse, que lesse mais um pedaço do Dom Casmurro para ter energia para ir ao show. Eu pouco tentei convencê-la do contrário: a ordem veio a calhar. Ele pouco entendeu os motivos de minha mãe para me manter em casa e me deu pena ao ouví-lo concluir que não jogaria RPG hoje. Não sei se era porque não teria o prazer de minha companhia ou se era puramento pelo jogo. Ele não é muito moral.

Então fiquei em casa, dormi por umas 3 horas, li um pedaço do Dom Casmurro de que estou gostando muito e estou agora satisfeito com o que fiz. Não me arrependerei de não ter lutado pela minha liberdade de ir e vir porque livre fui ao ter feito o que queria... Mas porque eu não tenho tanto interesse assim em ver o meu velho amigo... Ah, isso eu não sei.

Cruzando Sinais

Vou pelas ruas cruzando sinais
Sentindo os oderes que voam no ar
Ouvindo o som urbano da massa
Os rádios do mercado informal

Vou pelo corredor de portas abertas
Palpando sabores de váriso cômodos
Sentindo os prazeres noturnos perversos
Os quartos do amor casual

Só há perdão
Se houver pecado
Só há traição
Se houver promessa

Simplesmente eu vou, nada me impede
Seja ou não o sangue todo meu na veia
Sejam os embalos furtivos ou lentos
A refração da luz na garrafa vazia

Onde quer que aponte a ponta
Mesmo que eu me vire para trás
MEsmo que o norte seja no equador
O centro do peso da ponta da bússola

Só há julgamento
Se houver dúvida
Só há crime
Se houver culpado

Onde estão os livros da verdade
Se as bibliotecas são dos homens
E qual o homem sem vaidade
Conheça a história sem os nomes

Onde está a música de amor
Se as melodias são do vento
E o vento não tem pudor
Conheça o amor sem tempo

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