quinta-feira, outubro 30, 2003

As pessoas têm medo de mim. Eu sou frio, calculista e posso matá-las rápida e silenciosamente. Por isso, elas tentam me manter satisfeito e se mantêm distantes. Não me criticam nem de forma que eu não possa ouvir porque eu sou, no plano das vozes, unânime e incontestável. Lá dentro todos me respeitam, me odeiam e principalmente me temem. Devem pensar que eu sei uma coisa podre sobre cada um deles para falar e que tenho argumentos para derrubá-los. Se não tiver, posso me sustentar no meu passado infalível. Eu sempre fiz o que me propús a fazer.

Tropeçando aqui e ali, eu costumo chegar no final do caminho antes da maioria dos outros carros. Eu poderia pisar mais fundo, mas não vejo necessidade. Meu passado em todos os trabalhos e aprendizados por que passei me deu na minha convivência olhares que não mereço.

Não. Eu sou humano, irresponsável e negligente, falível em todas as fases da minha vida, não considero podres os erros ou quaisquer pouca coisa que sei sobre as outras pessoas e não é do meu interesse derrubar ninguém. Minhas falhas devem estar expostas para todos, eu assumo e peço desculpas mas ninguém tem a coragem de me acusar.

As pessoas têm medo do que eu possa dizer. Eu sou uma bomba enterrada num campo minado, se aproximar de mim para pedir alguma coisa é uma tarefa encarada como difícil. Cobrar dos meus atrasos, praticamente impossível. Vão pisar e eu vou explodir. Quando estou mal-humorado sou o pior dos mal-humorados. Eu tenho um par de rifles nos meus olhos. Eu fuzilo, mutilo, machuco... Coitadas das pessoas que estiverem ao meu redor. Caem todas esburacadas no chão. Da minha competência todos sabem e ninguém nega, mas aí concordam da minha chatice e nervosismo.

Tem umas moças que conseguem me acalmar numa fração de segundos. Só com uma palavra... Com um olhar... Com uma mera aparição. Dessas eu tenho vergonha. Minha alma se lava e eu me sinto puro e calmo na mesma hora. Acho que tenho medo inconsciente de ser chato ou intolerante com elas e perdê-las para sempre. Eu preciso delas. Eu preciso... Saber como tratar bem a todos e ser considerado um igual.

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