sábado, setembro 06, 2003

Xarope pra tosse não funciona com ninguém ou é só comigo? Na hora de dormir não tem xarope, limão com mel, chá de erva nem sopa de alho. A tosse é vencedora e abala meu sono. É muito chato ficar sem dormir por causa desse tipo de evento. Dos 39 graus de febre eu me livrei, ficou a doença nesse estágio chatíssimo, mas que já é final pela força que já volto a sentir no corpo. Eliminação de excreções. Já que me sentia mais forte, me juntei aos meus camaradas nas manifestações. Vamos a elas então.

Chegando no Largo do Campo Grande já via a horda de ônibus alinhados à direita e à esquerda da pista, sendo que a fila da esquerda era dupla, deixando o meio livre para os carros de passeio. Fui através da fila ouvindo os gritos de ordem, de repente vi um clarão na rua... Clarão nada, era uma multidão. Comecei a ver meus amigos, um deles ao me cumprimentar me disse que "sabia que você não ia perder essa!" Encontrei todos, firmeza na mão na hora dos cumprimentos e lá estava eu mandando um carro parar para liberar os que vinham da outra rua.

Todos as principais vias da cidade apresentavam uma situação parecida. As estações de ônibus todas estavam paralisadas e o transporte urbano popular de Salvador, que já não estava mais tão popular por causa do aumento da tarifa (e essa é a causa das manifestações), simplesmente não funcionava. O jornal dizia: "A RUA É DELES", os fotógrafos faziam milhares de imagens, os cinegrafistas milhões, o povo admirava a consistência.

É um movimento lindo. Tudo é espontâneo e perfeitamente organizado. Lideranças não se mantêm, discursos são aplaudidos no início e vaiados no final. Universitários e alunos de cursinho aderem ao movimento, partidos políticos tentam tirar uma casquinha, mas os estudantes não deixam: "Não somos palanque eleitoral para 2004". E às 14 horas liberamos o trânsito e rumamos para o ginásio dos bancários: assembléia.

Fomos todos, quase mil, em passeata cantando motes de movimento, e na virada da esquina uma das cenas mais bonitas do dia: da outra rua vinham outros quase mil e as passeatas se uniram na massa e na voz: "Ih! Fudeu! O estudante apareceu!".

Na assembléia, o ginásio era pequeno para tanta gente. Os estudantes começaram a identificar membros de partidos políticos e de organizações de estudantes que não tiveram a ver com nada e tentaram tomar o crédito e liderar, revoltados, saímos do ginásio e voltamos para as ruas. O ginásio ficou grande, a cidade ficou pequena. Um grupo ia para a estação da Lapa, outro para o Barbalho, outro voltava ao Campo Grande... O movimento é regido pelo instinto coletivo e pela energia e alegria do adolescente e é das coisas mais bonitas que já vi. E eu não ia me perdoar se aquele febre me deixasse na cama.

Uma amiga minha me mostrou uns turistas americanos que não estavam ententendo nada da situação. Fui lá e conversei com eles, ficaram admirados com duas coisas: o movimento era de escolas e não de universidades e os ônibus são de empresas particulares, e não da prefeitura. What's the name of the mayor? Antônio Imbassahy... We don't like him. Eles riram. No final da história eles foram trazidos aqui pela mesma instituição onde eu estudei inglês: ACBEU. They're good.

Domingo, 7 de Setembro. O MST está em Salvador e vai fazer o Grito dos Excluídos na parada das forças armadas. Os estudantes estarão lá também, de preferência bem perto do carro de seu Antônio. Os dois (o prefeito também se chama Antônio). O movimento continua.

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