quarta-feira, fevereiro 25, 2004

É, eu fui para as ruas de Salvador ver os trios elétricos. Eu não tenho nenhuma aversão ao Axé, mas há algum tempo não se faz mais Axé de qualidade. Acreditem, paulistas, o Axé de qualidade existe. Nem sempre foi essa pobreza que reina no mercado fonográfico baiano. Por duas noites saí para a folia. Eu me divirto mais quando não tem nenhum trio passando e se está na espera do próximo. Nesses intervalos dá pra conversar normalmente e interagir com membros do sexo oposto com mais tranquilidade. Quando o trio chega, tudo se balança e se perde. Gosto também de andar de um ponto do circuito ao outro pelas ruas paralelas, onde estão barracas de drinques e muita gente interessante. Passei uns 40 minutos conversando com um catador de latas que se intitulava O Músico; tocava flauta ligeiramente bem, falava um pouco de inglês e francês, conhecia sambas antigos, bob marley, e bebia bastante. É o povo baiano.

No sábado fui para o Pelourinho, um centro histórico de Salvador. Lá eu pude ver um carnaval culturalmente muito mais rico. Blocos afro, tambores que tocam no fundo da alma e os negros mostrando seu teatro e dança com alegria. Turistas da alemanha trançando os cabelos em banquinhos de madeira, cordões de samba e proclamadores de cordéis. Ali estava um carnaval genuíno, tradicional e ainda muito vivo. Também é o povo baiano.

Depois me peguei cantando, sem perceber, "Na cadência do Samba". Encarei deliberadamente o refrão como uma premonição e fiquei longe das ruas. Fugi para Jauá: Sol, praia e tranquilidade. Nas cidades do interior, a programação noturna sempre é ir na sorveteria local, que todos dizem ser excelente (mas é normal), depois voltar pra casa e jogar dominó. Eu adoro dominó e paz. Ainda mais ouvindo músicas de qualidade com amigos significativos.

Já coloquei o despertador para às 6. É, porque o carnaval já acabou e amanhã eu tenho aula. Não quero ir, mas não quero ir nenhum dia. Só sei que devo e vou, quando chegar lá eu penso em algum jeito de fugir. Mas sinto que já será tarde. Já é tarde: eu já nasci. Não dão muita escolha às crianças, mas admito que a minha escolha teria sido essa mesma. Talvez eu tenha escolhido bem antes. Só me resta seguir o rumo normal dos dias. A segunda depois do domingo, a quinta depois da quarta-feira de cinzas.

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