segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Estava num jardim, ou em qualquer lugar feliz e verde, não sei, não importa. Uma pessoa querida me fotografava com uma moderna Polaroid. Era uma polaroid, mas ela dizia que a foto seria digital e eu poderia ver na internet. Me pedia para olhar e sorrir e eu o fazia. Não por querer sair bem na foto, mas porque a fotógrafa era querida e ela ficava feliz em fotografar. Pena que era um cochilo e o cochilo acabou. Ainda estou na aula de física. Segunda-Feira, 9 de fevereiro de 2004, terceiro ano colegial, aula de física.

E me vi cercado por 40 pessoas toscas, amaldiçoei de uma vez só todos os seus sonhos e me diverti imaginando o que faria com uma metralhadora carregada. Foi um lapso de raiva, passou. A volta às aulas normalmente tem um clima leve e alegre, as pessoas se revêem, se abraçam, contam histórias bestas e os homens dizem que beberam muito e estiveram com muitas mulheres... Eu não estava interessado nas histórias de ninguém. E ninguém estava interessado nas minhas, mesmo que tenham perguntado, só queriam uma respostas simples e objetiva que não lhes gastasse muito tempo. Eu sou muito bom nisso. Já tinha revisto ou falado com todos os meus amigos antes de voltar às aulas. Alguns estão faltando perto de mim na sala. Alguns novos não me chamaram a menor atenção.

Esse ano, a volta foi marcada pelo medo, insegurança. Certeza de que será um ano difícil em que estudaremos um século por semana, que no final passaremos por uma fina peneira e que nem todos vão passar. Poucos vão passar. E depois daí vem uma nova vida. A bola de borracha vai explodir e não seremos mais um sopro, faremos parte do ar poluído da capital. E mesmo aqui tendo mar, verde e céu azul, vai ser difícil. Todos sabem que vai ser difícil e estão apavorados. Esse ano conclui-se uma etapa, e eu me vejo cercado por 40 pessoas toscas.

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