segunda-feira, maio 19, 2003

"Sou um homem comum, qualquer um..." Essa música de Caetano está martelando na minha cabeça. Estou me sentindo exatamente assim. Um homem comum. E tão pequeno diante do mundo. São as aulas de física e de história combinadas. Me levaram a muitos devaneios porém a nenhuma conclusão, pois nada está concluído ainda. O tempo é infinito e minha vida em relação ao destino do mundo é como o meu tamanho em relação ao do sol. E este ainda é tão pequeno...

Porque então nos preocupamos com tantas coisas inúteis? Porque sofremos por nossas vidas insignificantes? Somos todos muito individualistas e existem 6 bilhões de pessoas no mundo. Todas pensando em si de acordo com suas necessidades. Uns querem só comer, outros querem comer bem, dormir, casar, ter filhos, dinheiro e remédios. Se uma dessas coisas faltar será uma grande trágédia. Mas uns só querem comer. Meu sofrimento é egoísmo? É individualismo?

Eu sou só uma pessoa. Faço uma diferença grande para os meus pais e para os meus amigos mais próximos, uma diferença considerável na minha família e na minha sala de aula, alguma diferença nos rumos do meu colégio e talvez com sorte alguém leia alguma coisa aqui e mude algum conceito. Ou pelo menos pare para pensar. Existem seis bilhões de pessoas como eu. E todas são inteiramente, completamente diferentes. Individuais.

Quem pensa no coletivo? Eu me importo com o bem estar de umas 50 pessoas e isso pode ser recíproco. Isso não é pensar no coletivo. Isso é um mundo pequeno. O mal estar dessas pessoas abalaria a minha vida porque tenho relações pessoais com elas. Isso é egoísmo. Ou seria só uma questão dimensional? Meu conflito nesse momento é esse: dimensões.

Eu devo me projetar ao universo, ao mundo, à minha comunidade, a mim mesmo? O que cada um pode fazer? A humanidade é tão pequena em relação ao universo inteiro (entram aí as aulas de física) e mesmo assim não consegue se unir. Parece que temos uma tendência natural ao individualismo e à guerra (entram aí as aulas de história). O sistema econômico em que vivemos reflete isso. O homem quer poder para si. Seja para ser presidente da empresa, do país ou do mundo inteiro. A humanidade é desunida e tem uma tendência natural de dominar o mais fraco. E se o mais fraco fosse o forte faria o mesmo.

E Deus? Será possível que exista uma onisciência tão ampla que seria capaz de prever todos os acontecimentos em 6 bilhões de vidas humanas? E acompanhar todos eles na medida em que acontecem? Deus controla o universo inteiro, ou seria ele apenas um sub-Deus que ficou encarregado da terra? Vamos encontrar alienígenas no inferno, ou só o seres humanos terráqueos têm defeitos? Ou cada planeta tem o seu inferno? Então o inferno é fisicamente relacionado com esse planeta...

São muitos os conflitos que estão me tomando hoje. Me dando essa sensação de insignificância e ao mesmo tempo a cruel vontade de viver a minha própria vida no meu próprio mundo de mais ou menos 50 pessoas.

E descobri o nome da música de Caetano: Peter Gast. E estou tão bestificado com a genialidade do meu conterrâneo que vou, pela segunda vez em minha vida de bloggeiro, colocar aqui versos de outrem. Era o primeiro verso o único de que eu me lembrava, e os seguintes eram a expressão perfeita de muito do que eu digo aqui hoje nesse dia de pensamentos conflitantes. Estou emocionado. Quem é Peter Gast?

Caetano Veloso - Peter Gast

Sou um homem comum, qualquer um
Enganando entre a dor e o prazer
Hei de viver e morrer como um homem comum
Mas o meu coração de poeta projeta-me em tal solidão
Qua às vezes assisto a gerras e festas imensas
Sei voar e tenho as fibras tensas
E sou um
Ninguém é comum e eu sou ninguém
No meio de tanta gente de repente vem
Mesmo eu no meu automóvel no trânsito vem
O profundo silêncio da música límpida de Peter Gast
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Peter Gast, o hóspede do profeta sem morada
O menino bonito Peter Gast
Rosa do crepúsculo de Veneza
Mesmo aqui no samba-canção do meu rock'n'roll
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Sou um homem comum

3 comentários:

Sérgio Rodrigo disse...

Peter Gast é um músico que era muito amigo de Nietzsche. Cheguei ao seu blog procurando saber mais sobre ele....

Anónimo disse...

Coincidências...eu também chei ao teu blog querendo saber mais sobre Peter Gast, adorei...bjs

Kátia (bellly_k@hotmail.com)

Anónimo disse...

digo "cheguei"