quinta-feira, maio 22, 2003

Eu assisti Matrix Reloaded hoje. Na pré-estréia. Estava passando, eu comprei o ingresso e entrei. Não era o UCI (cinema de qualidade, como o CineMark), era um cinema tosco de shopping mas eu não pude resistir. Além disso, meus amigos não se importavam se não iam ver numa tela imensa e perfeita, se não iam escutar o som das balas vindo da mesma direção das balas ou se comeriam a pipoca que o diabo amassou sentadas numa cadeira ruim. Então eu acabei vendo Matrix Reloaded num cinema tosco.

É um grande filme. Sequências de ação e luta excelentes. Todos os pré-requisitos para ser um blockbuster (como já se esperava): perseguições, carros explodindo, pontapés, efeitos especiais fantásticos... E não dá para não sair do filme pensando. Tá. Depende dos olhos que estão vendo e do que os olhos estão vendo. Mas é um filme que levanta questões. Vai virar um clássico com Star Wars. Já tem até fã-clubes. E sobre as questões que o filme levanta?

A primeira delas, e a mais escancarada, é a realidade. É algo para se pensar realmente. Se esse mundo, se esses engarrafamentos, se essa fumaça, se tudo que vemos é real. Se não estamos na matrix e os rebeldes estão por aí tentando nos libertar. Se todo o mundo é uma ilusão, vale a pena viver?

Minhas emoções são reais, eu troco abraços com as pessoas e lágrimas com o ambiente externo. Isso pode ser falso, mas as minhas emoções são reais. Eu sei do que eu sinto aqui dentro de mim. Eu existo. Minha consciênca não pode fazer parte da imaginação de outra pessoa. Mas quanto ao mundo... Quanto a essa cadeira azul e esse computador, uanto aos engarrafamentos, eu não sei. Não posso ter a menor idéia. Só posso me aborrecer com eles e querer chegar logo em casa e provar do sabor, ainda que ilusório, do bife acebolado que me aguarda. Vale a pena viver.

A segunda questão que o filme levanta, e a que provocou maior rebuliço em mim é a questão do destino. Não é que tudo já tenha sido decidido por outros e nós só estamos cumprindo o roteiro. Nós temos o poder de tomar decisões, só que nossas decisões já foram tomadas. Não adianta mudar de idéia no meio do caminho para sacanear o destino porque era o seu destino mudar de idéia de qualquer jeito.

Então se todas as decisões já foram tomadas e os fatos só estão simplesmente por se desenrolar, é possível prever o futuro. "Se uma proposição é verdadeira, ela pode ser conhecida" (teoria do conhecimento, não sei quem, não sei quando), portanto é possível conhecer o nosso futuro pode ser conhecido previamente. Open the doors.

Ou não. Ou não existe destino e todas as decisões ainda serão pensadas, avaliadas e feitas. É mais confortável pensar assim? Isso gera uma sensação de desarmonia micro-universal. Porque os fatos da vida estão todos minunciosamente conectados. Deus nos deu livre arbítrio e ao mesmo tempo ele sabe tudo inclusive o futuro. O arquiteto da Matrix não pode tirar o livre arbítrio dos humanos e essa é a única falha do sistema.

Então o que quer que seja, eu não pertenço a ninguém. Mas eu sou humano e minhas emoções podem aniquilar meu pensamento lógico e minhas vontades reais. E eu crio necessidades aleatórias. E eu sou capaz de amar e de entregar minha vida por isso. So what is the matrix, my friends?

Eu quero um pouco de cor

Calçados ao redor
E meus pés descalços
Tocam o chão frio
Me mantendo reticente

É meu jeito estranho
De não me curar
Respirando fundo o veneno
Que me dá um pouco de cor

Eu quero um pouco de cor
Porque toda negra é linda
Eu quero um pouco de dor
Em cada beijo de língua

Meu fluxo de sangue
Não parou até agora
Cadê as drogas que curam
Ou que destroem por completo?

Foi-se o remédio
Ficou só a bula
Tem ferida que não ciatriza
E eu mecho no cascão

O meu fluxo de sangue
Não parou até agora
Sangue arde na pele
Mas eu deixo sangrar

Eu quero um pouco de dor
Em cada beijo de língua
Eu quero um pouco de cor
Porque toda negra é linda

Eu quero um pouco de amor
Em cada gesto da vida
Eu quero um pouco de amor
Sem ter que achar a saída

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