domingo, maio 30, 2004

Sentado na cama, como de costume. Eu começava a tocar Lucky. E voltava no tempo. Senti o cheiro do meu suor doente, me lembrei da impotência que sentia pela garganta estar avariada. Eu não conseguia cantar e me sentia triste. Senti o tempo lento de quem passa o dia inteiro em casa, abafado, de janelas fechadas. A sensação interessante de estar conhecendo alguém que, hoje eu sei, mudou minha vida e cuja vida eu mudei também passou pelo meu estômago. Desde então, foram 4 mêses curiosos. I feel my luck will change.

Minha vida tomou um rumo atípico quando, na apoteose de minha adolescência, minha mãe ganhou uma bolsa de estudos e foi fazer pós-doutorado em Artes em Paris. Eu estava então com 17 anos e uma autonomia incrível sobre as minhas noites. Eu posso sair sem dizer para onde nem quando volto. Posso não voltar, passar 3 dias fora, chegar sem dizer bom dia e dormir por 14 horas. Posso ficar sem comer, beber fermentados e destilados, cair no sofá... no chão. Não ir para a escola na segunda-feira.

Mas eu fui irresponsável apenas na medida certa. Cuidei bem dos estudos, das despesas da casa, da saúde, da sanidade e segurança. Minha mãe não tem do que reclamar. Ela chega amanhã.

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