quinta-feira, outubro 20, 2005

Três. O número três me assombra. Não conheço numerologias, mas se fosse minha responsabilidade escolher, diria sem hesitar: é o três o número da traição, do conchavo, das mais vis conspirações. Atribuiria também ao três a solidão, a miséria de um só - mas que o três ratifica. Pois que entre dois pontos se desenha uma linha reta, mas três se comunicam num triângulo, de modo que não há um trio de pontos unidos, mas sim três pares de pontos ligados por três linhas. E sabe-se que uma linha é só ela, absoluta e imponente. Três linhas têm, duas a duas, suas diferenças, suas comparações, suas distâncias.

Extende-se então este raciocínio, que até agora foi meramente geométrico, às relações humanas, sejam elas de amizade, amor ou até ódio. Suponhamos três amigos. Fica claro que não surge entre eles uma amizade trina, localizada no baricentro do triângulo. Óbvio que não. Cada um se relaciona separadamente com os outros dois, por mais que se considerem um grupo unido. Haverá conversas particulares em que a postura do terceiro em uma dada situação será criticada, em que as desavenças serão expostas.

Quando encontrarem-se novamente os três, existirá cumplicidade entre dois em detrimento de um terceiro. Três desmembram-se em dois cúmplices e uma solitária vítima do escárnio, da crítica, da exclusão e até da mentira. Sendo assim, cada um dos três aspira à posição de cúmplice quando é vítima, estando em cada momento dois alegres e um não.

Pensando bem, a palavra ?cúmplice? presume a existência de um crime.

1 comentário:

Hermes Renato Hildebrand disse...

O três é continuidade. Um mais dois gera o três. O três é o plano.
Um banco de três pernas nunca balança, porque define um plano. Três representa a regra e a lei. Por isso não é livre de códigos. Para ter três tem que ter o espaço. Ele não é bom nem ruim. O yang e o yin são as unidades opostas dos sistemas. O tao é três e o capeta tem um tridente. Na Teoria dos signos o três é a existência. O um é a monoda, o dois gera ação e a reação o três a concretização. Tem algumas culturas em que o três é a totalidade. Tem o um, o dois que geram o três. Nestas culturas o restante são muitos.
Renato