terça-feira, junho 29, 2004

Tarde... Cães sem dono, mais livres. pobres e famintos que eu nas ruas. Escuro, mas há os postes, uma longa ladeira que eu tenho que descer. Vem alguém subindo e tenho tanto medo dele quanto ele de mim, mas somos, os dois, pessoas honestas: seguimos nosso rumo em paz e até nos cumprimentamos quando atingimos o mesmo ponto da ladeira, eu descendo e ele subindo. Eu ainda tinha que atravessar o esgoto para chegar em casa.

A noite é interessante só por ser escura, ainda mais quando encontramos certos tipos exóticos. Eu ainda quero pão, sim. Certos tipos exóticos dividindo conosco uma mesa de bar e querendo mais cerveja. Mais garrafas e tulipas cheias (não por muito tempo). Gente nova por aí discutindo o dinheiro e a filosofia num dos botecos liberais: cerveja para menores, gays, lésbicas, simpatizantes, eu e uns amigos que não temos nada a ver com nada disso nem contra nada disso. Umas amigas que tem tudo a ver com tudo isso e tudo mais.

Sensacional.... A noite cresce, mas eu já cheguei em casa, seguro, depois de atravessar o esgoto e conseguir passar limpo.

sexta-feira, junho 18, 2004

Cheguei e vi que estava só. Um belo lugar, o sol, como eu disse, estava lá exposto, nada de tempo ruim, como eu havia dito três dias atrás... e eu só. Vaguei pelas ruelas de pedra, pensei em sentar num dos bancos de madeira, mas não estavam convidativos. Outros grupos, bem longe de mim, falavam alto, experimentavam novas dosagens químicas de certas substâncias... tinham um mau-gosto musical. Eu com meu violão nas costas, não nos braços.

Por um segundo, pensei em desistir daquela história. Já estava demorando. Me bateu a sensação ruim de ter que abandonar o desafio da trilha e voltar para a mata fechada, tendo que caçar larvas. Para a selva do cotidiano, da falta de toque, de charme, de conquista... Para os braços levianos dos anônimos da festa, os olhos que não olham nos olhos enquanto falam, quanto menos enquanto cantam. O desespero de não estar vivendo história alguma.

Mas não foi preciso... Ela chegou.

quinta-feira, junho 17, 2004

sábado, junho 12, 2004

Vou crescendo e aprendendo a gostar das mesmas coisas que o meu pai. Caetano, Cazuza, Cerveja. A luz que vêm dos lares, das casas, dos apartamentos... A luz se mexe. As conversas dos outros parecem estúpidas, eu penso em coisas muito mais nobres, mais complexas, mais compensadoras. Só eu cresço e conheço a dimensão do mar, a distância entre o céu e a terra, entre os belos e os feios, os sábios e os opacos. As outras mesas do bar não são tão boas quanto a minha. Meus amigos compartilham ou não da mesma visão. São melhores que os amigos dos outros.

A história de minha vida vai se escrevendo de domingo em domingo, a cada desnível etílico uma nova idéia, uma nova concepção. Um verso, uma frase, uma música. Aquilo que me faz respirar, cuidar de minhas mãos e de minha garganta: eu vivo porque posso ouvir e cantar. Ouço porque me dá prazer e faz valer a pena o tempo que passo em silêncio, nas vozes obtusas. Canto porque o som move oceanos, o som é uma ponte e não há ilha em total silêncio.

Eu vivo assim. Disso. Por isso. Não me diga que estou errado, que eu não vou ouvir. Muito pouco, ou pouco muito? Tudo.

terça-feira, junho 08, 2004

O mundo tem muita pressa. Relógios, hora marcada, data, compromisso. Chove de manhã e na avenida se faz um grande engarrafamento. Um minuto para a gota cair do céu até o guarda-chuva, o capô do carro parado já há uma hora. Que perda de tempo, atraso de vida, não se aguenta mais esperar.

Que tempo é esse do engarrafamento em que não se vive? Que gente é essa que morre atropelada por carros parados? A espera, a música do rádio e da queda da chuva, o céu, os passarinhos se protegendo e as pessoas passando apressadas: Tudo faz parte. E o tempo... Esse é muito complicado. horas e minutos, frações menores. Ponteiros, setas, vá por ali.

Eu queria não marcar o tempo. Só dias e noites, quando dá sono, quando dá fome, quando dá vontade... Na minha casa da montanha, eu vou conseguir.

segunda-feira, junho 07, 2004

Dia de Sol

Foi uma alegre fantasia
Que nós vestimos
Para ver o nascer do sol
Em nossa práia deserta

Foi o bronze na pele
Que tudo embelezou
E nos trouxe felicidade
Para sorrir e cantar

Quem te viu e te vê não diz
Que está tudo igual
E ainda somos os mesmos dos dias de segunda
Quando o sábado custava a chegar

A esteira de palha preguiçosa
Durava o dia inteiro
E aquela sensação de paz
Que chegava num ventinho bom

Foi o calor da terra
Que nos emocionou
E trouxe harmonia
Pra sentir e tocar

Que a gente sabia que o dia de sol
Não ia durar o ano todo
É o fim-de-tarde
E o amanhecer custa tanto a chegar

Foi só uma alegre fantasia
Que ontem desbotou
Quando o sol enfim se pôs
Entre os prédios da cidade

Não venha me dizer
Que a vida é feita de Ilusões, porque não é
Se fosse assim
a terra estaria morta e não está

Hoje você vive ouvindo
Ao que todo mundo diz
Vai dar a volta ao mundo
E nunca será feliz

quarta-feira, junho 02, 2004

Noite de ontem pra hoje, deitado na cama, olhos fechados, Rapid Eye Movement. Tróia há 3 mil anos e eu estou lá me preparando para enfrentar o exército dos mirmidões de Aquiles. Eles apavoram, nós tentamos nos distanciar para ter tempo de organizar o batalhão e distribuir o armamento antes que eles nos alcancem. Estou numa casa me armando e tenho um escudo de pano vermelho e branco. O tecido é suave e macio, quase uma seda, vejo que não me protegerá e que tenho que procurar outro.

Mas o inimigo bate na porta. Meus aliados seguram o máximo que podem, mas não conseguirão por muito tempo. São fortes, destemidos e valorosos guerreiros. Entraram. Luto eu contra Aquiles, o maior dos guerreiros, e consigo desferir-lhe um golpe fatal: minha espada atravessa a sua garganta. A expressão dele, porém, é de triunfo. Não compreendo o desprezo que ele mostra diante do próprio sangue. Não vejo ferimentos no meu corpo, só sinto uma pequena dor nas costas, mais nada. Meu corpo está intacto. Ele perdeu.

Não... Não encontrei o calcanhar de Aquiles antes do sonho acabar.