segunda-feira, junho 20, 2005

Andava pelas ruas, pelo asfalto mesmo, esperando a hora certa de atravessar a rua. Vi um trator. Daqueles de carregar terra de um monte de terra e jogar num caminhão, mas o trator estava derrubando uma casa. Surreal. Com frieza, o monstro desferia os seus golpes desleais, a casa ia caindo, a histórias iam caindo e se despedaçava uma parede que tinha marcas de mãos a menos de um metro de altura. Cresceria alguém naquela casa, agora, vai crescer um prédio.

E no prédio, cem crianças vão crescer brincando no parquinho cercado e seguro. Aprenderão a jogar futebol, uns com os outros, numa quadra daquelas poliesportivas envolvidas por uma cerca verde, porque sempre escolhem verde, da mesma forma que nas piscinas o cercado é sempre azul e os azulejos azuis-claro. No fundo da piscina, um menino, eventualmente, vai bater o dente. Ele vai ficar com ciúmes quando seu vizinho e melhor amigo trouxer a turma da escola para o seu aniversário e não lhe der muita atenção. Sempre acontece.

Eu passava pela casa quase todos os dias, era bonita, era amarela e tinham três potes de flores vermelhas muito bem cuidadas. Passarei agora por uma construção onde diversos homens feios com fardas de construtora (que também costumam ser azuis) carregarão vergalhões, ferramentas e carrinhos de mão cheios de terra, numa sinfonia de barulhos desagradáveis. Em prol das cem crianças que vão chegar alguns mêses depois, para brincar no parquinho, jogar futebol, quebrar dentes no fundo da piscina e fazerem amizades.

O trator que derrubou a casa não era um trator de derrubar casas.

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