quinta-feira, dezembro 16, 2004

Olho pela janela e passa um helicóptero. O céu está azul bem clarinho e o sol está naquela hora amarela bem bonita, quando tudo fica colorido. Daqui eu vejo, nos arredores do meu novo bairro, crianças brincando na piscina, umas mais velhas numa quadra de futebol, outras num campo, outras no chão de mármore branco, simplesmente correndo. Criança gosta de correr. Eu mesmo gostava, entrava em contato com o ar, interagia com ele e o suor só vinha depois da parada.

Passei a tarde inteira jogando fora alguns pensamentos que não me servem mais. Alguns pensamentos não me serviam mais. Agora, não existem mais. Deitado, sentado, em algumas posições inomináveis, sobre o meu novo colchão de um metro e dez de largura. Houve um instante em que cantei com tanta força, com tanta paixão, que me arrepiei. Já não cantava tão alto há muito tempo: tem coisas que só se consegue sozinho. Sozinho, eu consigo deixar a janela e a porta aberta para deixar todo o vento do mundo passar por aqui. Eu, então, respiro o vento do mundo todo.

Um bom livro me acompanhou e acho que termino-o ainda hoje. Ignoro a obrigação da leitura buscando nela algum prazer. Encontro fácil. Eu não sinto que fiquei em casa o dia todo sem fazer nada. Eu fiz muita coisa, eu estive em duas décadas diferentes, passeei pelo Rio de Janeiro enquanto ainda era uma cidade pacífica, vi o carnaval bonito e voltei para o meu século, bebi um copo d'água, estou em Dezembro. Uma das melhores tardes dos dois tempos.

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