segunda-feira, dezembro 20, 2004

Dogville...

Não costumo incomodar as pessoas quando estão lendo. Aprendi a respeitar este momento. Ninguém nunca me fez grosseria quando eu ainda não tinha noção disso, então acho que aprendi a não incomodar sendo incomodado. Não incomodo, mas se eu estou lendo e alguém me chama, procuro ter paciência. Pode não parecer, mas me tornei uma pessoa muito paciente. Entendo muito o lado dos outros, às vezes vendo inocência no que foi feito por maldade. Não julgo nem penalizo os outros com o mesmo rigor com que os faço a mim mesmo.

Assim, perco muito.

Lembro-me da reflexão que fiz sobre a minha mãe, sobre condescendência, sobre entender o lado dela. Meu pensamento mudou um pouco depois de certos episódios. Quando eu era mais egocêntrico, as coisas eram mais simples. Comecei a entender melhor a minha condição e a dela, passei a agir de maneira diferente. Houve alguns abusos de autoridade e de minha boa vontade.

Hoje ela chegou zangada, reclamando de tudo, perguntou, quase aos gritos, porque havia um refratário cheio de água no fogão. Não respondi. Disse que só responderia se ela me perguntasse com calma e tranquilidade, que eu não tinha nada a ver com os motivos daquela irritação. (Coisas que, aliás, eu digo pra mim mesmo quando estou aborrecido com terceiros).

A manifestação não foi bem aceita, mas a mudança se processa aos poucos.

Um menino no prédio do lado acaba de chutar a bola num matagal, os outros meninos caçoam. O dono da bola pensa se esta será recuperada.

Estou começando a entender melhor as coisas, de novo.

Ela bateu na porta do quarto agora e pediu desculpas, ainda com rispidez.

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