terça-feira, abril 26, 2005

Canto para o céu escuro e as janelas do meu bairro parecem todas me ouvir. Variações multicoloridas, quase todas iguais, vindas dos apartamentos. Canais de TV. Há também os grilos do parque da cidade. Ouço os grilos, ouço minha voz, ouço meu violão, ouço o balançar da mesa e da garrafa de vinho enquanto escrevo. As janelas do meu bairro parecem me ouvir.

Vinho e água gelada. Estou feliz agora. O agora é bom. Estou só, sou só... eu, violão, pinot noir, caneta, papel: consigo escrever sem pensar muito. Um gole, uma música, um gole, uma frase. Leio em voz alta. Sei que outras varandas podem me ouvir. No fundo, tenho esperança que em alguma delas, alguém ouça. Tenho esperanças.

Que eu me desconfigure. Que os ouvidos das janelas se desconfigurem. Que meus olhos vejam a nova figura e, do nada, eu me faça alguém. Estas palavras têm significado, estão escritas num papel, estão ditas ao céu escuro e as janelas parecem me ouvir.

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