segunda-feira, novembro 28, 2005

Apesar do céu claro acima das núvens, que eu via da janelinha do avião, lá embaixo, na cidade, já era noite. Um miriápode de luzes vermelhas indo, outro de luzes brancas vindo.

São Paulo.

sábado, novembro 26, 2005

Estamos todos sós. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte nos reúna.

Tenho um desejo mordido e frustrado de me comunicar. Hoje me deu medo de estar só. Um só não tem do quê se esconder, pode chorar e eu tive medo de chorar. Então corri, saí de casa em busca de companhia, para me deleitar na ilusão da companhia. Ilusão achar que existe alguém com a gente em momento algum, mas eu quis acreditar, quis beber daquele copo e fugir da inevitável verdade: ninguém se ouve, ninguém quer se entender, ninguém se enxerga além do que já tem nos olhos.

Não bastam palavras. Quando eu estiver sem caneta e papel, nem nada, e surgir um verso lindo, este verso eu não posso escrever ou memorizar. Leio-o da minha mente em voz alta, para que ele ressone nas paredes do meu quarto, e para que eu o viva num momento. Sei que, de qualquer forma, ele é só meu.

Trancado no meu quarto, não tenho de quem me esconder, posso chorar. E tenho medo.

domingo, novembro 13, 2005

Eu gosto mais das coisas sutis. Pequenas, mas enormes. O movimento dos pés embaixo da mesa, o modo de segurar o copo, a orquestra dos músculos do rosto, a coreografia dos olhos. Dizem. O que já virou palavra e som são cartas na mesa, já jogadas, não me interessam. O que é explícito é de todos e não diferencia nada de nada, o não dito é infinitamente mais importante. O que é silencioso tem um assunto próprio.

Cavalos marcados fugidos pastam na praça.