terça-feira, abril 26, 2005

Canto para o céu escuro e as janelas do meu bairro parecem todas me ouvir. Variações multicoloridas, quase todas iguais, vindas dos apartamentos. Canais de TV. Há também os grilos do parque da cidade. Ouço os grilos, ouço minha voz, ouço meu violão, ouço o balançar da mesa e da garrafa de vinho enquanto escrevo. As janelas do meu bairro parecem me ouvir.

Vinho e água gelada. Estou feliz agora. O agora é bom. Estou só, sou só... eu, violão, pinot noir, caneta, papel: consigo escrever sem pensar muito. Um gole, uma música, um gole, uma frase. Leio em voz alta. Sei que outras varandas podem me ouvir. No fundo, tenho esperança que em alguma delas, alguém ouça. Tenho esperanças.

Que eu me desconfigure. Que os ouvidos das janelas se desconfigurem. Que meus olhos vejam a nova figura e, do nada, eu me faça alguém. Estas palavras têm significado, estão escritas num papel, estão ditas ao céu escuro e as janelas parecem me ouvir.

domingo, abril 10, 2005

Ontem eu menti para um motorista de táxi. Me senti ridículo. Voltava para casa às 3 horas da manhã, "minha namorada não pôde vir.", sozinho. Voltava pra casa sozinho e é isse que sou hoje. Entre amigos e metáforas alcóolicas, apenas, e sempre vagando por aí com as minhas verdades perturbadoras. Eu curti a ilusão do trajeto, mas mentir me dói.

Estou tão fraco que precisei me fingir de bom. Precisei ficar por cima em pelo menos um diálogo, pelo menos uma vez não falar de ser só e só saber sê-lo. Agora eu tenho vergonha disso tudo, e é por ter vergonha que eu mostro isso aqui. Para que as pessoas saibam e me critiquem, mas que eu possa dizer-me já ciente da contradição.

Tento derrubar minhas máscaras e ser eu, mostrar eu, aparentar eu, dar a perceber eu (E quem é Eu?). É muito mais fácil fazer isso com um motorista de táxi às 3 horas da manhã do que com minha família, com meus amigos...Eu sofro por ter que me fingir de bom, de tão ruim que sou, pra manter a convivência... Concessões. Concessões para mim têm gosto de mentira...

E é às pessoas que eu mais amo que tenho de conceder.