sábado, novembro 20, 2004

Não quero ir dormir agora, a varanda tem uma vista muito bonita. A noite aqui é muito mais escura, é urbano meio que sem ser.

Essa semana, acho que pela primeira vez, tive vontade de ir embora e me sustentar. Me ocorreu, enquanto eu bebia água, abrir mão de alguns privilégios para poder discutir algumas coisas. Atualmente, não me julgo no direito de discutir nada, só de aceitar e quando não aceito, me sinto errado. Me sinto olhando os dentes dos cavalos dados.

Eu sei que ela ainda faz muito mais por mim que eu por ela, que eu por muito tempo fui egoísta e egocêntrico, mas hoje em dia tenho na consciência que tenho sido um filho melhor. Não é só no campo prático, não só nas ações visíveis, não é só quando eu instalo a antena da TV para ela ver novela, toda vez que dá defeito. É nas coisas pequenas (ou muito maiores). Não sei se ela nota - só fui entender a grandeza de certas atitudes de meus pais muitos anos depois, de algumas ainda não entendo. Não sou daqueles que ficam anunciando as bondades que fazem.

É tempo de muito trabalho para ela. O dia inteiro e ela chega exausta, às vezes estressada e eu procuro entender. Por outro lado, vejo que a vida da minha mãe está melhorando. Vejo-a com mais amigos, saindo, se divertindo... Isso me tranquiliza, pois em breve vou tomar minha estrada e quero ir sem ressentimentos, medo ou culpa.

Agora já posso me deitar.
(Isso foi preciso)

segunda-feira, novembro 15, 2004

Eu tento ser o mais sincero possível comigo mesmo e com os outros ao meu redor, tento ser transparente, reconhecer meus defeitos, deixar que as pessoas me vejam como sou, mas é difícil. Minha maior luta é contra a minha própria hipocrisia. Todos os dias eu tento me entender e é um esforço imenso, acreditem. De algumas coisas, eu tenho vergonha, algumas coisas eu não quero revelar. Este blog é uma tentativa muito ousada - e arriscada.

Eu sinto muita inveja. Eu costumo lidar bem com a solidão, mas às vezes ela me angustia. Eu sinto minha inoperância. A tristeza toda parece ser minha culpa, não consigo botar a culpa nas circunstâncias, não consigo dizer que ela não me merecia, é estupidez. Meus amigos estão muito bem e eu detesto incomodar a felicidade dos outros com meus problemas. E ela é muito bonita mesmo...

Acho que alguém vai se incomodar, mas é que transparência incomoda mesmo. Talvez seja por isso que as pessoas se mascaram tanto. Uma sociedade totalmente verdadeira seria impossível, porque tudo é tão egoísta, tão mentiroso, tão hipócrita... Me conhecendo e me admitindo, acabo vendo o mundo com maus olhos. Ainda assim eu busco a felicidade e acho que ela é possível.

Acordei pensando nisso...

quinta-feira, novembro 11, 2004

Está acabando o ensino médio para mim. Eu olho ao meu redor, vejo muitas pessoas com quem me acostumei a conviver, que fizeram parte de minha vida, que me fizeram rir e me aborrecer. Tenho consciência de que muitos deles não verei nunca mais, nunca mais vou ouvir a voz, o riso, os passos... Esta constatação me deixa muito aliviado, para ser sincero. Algumas pessoas ficam simplesmente no meu passado, eu admito: escondo gente embaixo do tapete.

De algumas, bem poucas, pessoas eu gosto de verdade e gostaria de manter meus laços, vou me esforçar para isso porque elas me proporcionam bons momentos, mas se eu não conseguir, será que vou sentir saudades? Acho que não. Isso me dá medo. Já passei muito tempo longe de pessoas queridas sem sentir saudades. No ano passado, um de meus mais velhos amigos foi para o Sul do País, de onde só retornou no inico deste ano. Me emocionei na despedida, mas depois que ele foi, saudade não houve.

Não sei o que acontece.

Mas às vezes, de repente, me dá vontade de falar com meu pai e aí, só para trazê-lo mais para perto, cantarolo uma das músicas que ele gosta de tocar no violão...

Tenho a impressão de que vou viver só por algum tempo, não é muito fácil que eu me ligue a seres humanos. Da maioria eu quero é distância.